09/03/2005 - 7:00
Travessa do Comércio, 17. Centro nostálgico do Rio de Janeiro. No casarão onde funciona a Casa Granado não há um único computador. Os pedidos das farmácias do País inteiro chegam por carta. E os três diretores que tocam o negócio são tão ?tradicionais? quanto a própria empresa, fundada em 1870 ? já passaram todos das setenta primaveras. Não, este não é o cotidiano da fabricante do famoso Polvilho Antisséptico Granado nos seus primeiros dias. Estamos em 1993, pleno século 20, e, para a companhia, as coisas continuam como nos tempos de Dom Pedro II.
É esta empresa congelada no tempo que Carlos Granado (neto do fundador José Coxito Granado) quer passar adiante. Ele não tem herdeiros e tampouco dinheiro para investir na modernização da empresa, que, apesar de tudo, mantém-se lucrativa graças à força de sua marca. O empresário está pedindo US$ 8 milhões, e contratou o consultor inglês Christopher Freeman para procurar interessados. ?Até os encontrei, mas nenhum quis levar o pacote completo. Queriam apenas a marca?, relembra Freeman, 57 anos, ex-executivo do Bank Boston que parou no Rio ao cair de amores por uma carioca nos anos 80. Depois de muitas negativas, por fim o inglês achou um comprador: ele mesmo. Freeman raspou as economias e pediu empréstimo ao banco para fechar a arriscada transação. Passados onze anos, ele relata com orgulho o seu ?causo? corporativo particular. ?É algo que jamais eu podia imaginar que viveria quando deixei Newcastle, em 1969.?
E Freeman viveu a Granado intensamente nos últimos tempos. Transformou-a numa empresa moderna, competitiva, está construindo uma fábrica, adquiriu outras marcas, diversificou a linha de produtos e até começou a exportar. Resultado: o faturamento cresceu de R$ 10 milhões em 1994 para R$ 100 milhões em 2004. Para começar, ainda em 1993, Freeman se livrou de metade da operação: duas grandes farmácias que garantiam receita de R$ 5 milhões. A verba obtida foi investida em informatização e na criação de uma rede de distribuição. Hoje, a Granado tem 30 vendedores equipados com laptops. ?Qualquer entrega agora é feita em 24 horas (contra os 30 dias dos tempos das cartas)?, conta Freeman, que também deu uma chacoalhada na linha de produtos. Restrita a talcos, sabonetes, xaropes e supositórios, ela hoje tem mais de 300 itens, entre os quais produtos para bebês e para cachorros. ?Freeman passou bem pelo maior desafio em casos como esse: diversificando a linha, ele trouxe novos consumidores para a marca. São eles que vão garantir a sobrevivência da Granado, não os saudosistas?, avalia o consultor José Roberto Martins.
Em 2004, Freeman arriscou de novo: comprou a marca de sabonetes Phebo, que estava esquecida num canto do portfólio da americana Sara Lee. Não foi apenas um negócio de oportunidade. Com a Phebo, Freeman pôde estruturar sua companhia como imaginou desde o início: uma divisão de produtos de saúde (Granado) e outra de cosméticos (Phebo). Este ano, quando espera crescer 25%, ele abrirá uma nova fábrica de 30 mil m2 em Japeri (RJ), que se somará à de Belém (PA). Com investimento de R$ 35 milhões, a Granado passará a brigar nos segmentos de cremes dentais, maquiagens e perfumes.
Mas ainda há o que fazer, diz Freeman. ?Vou comprar outras marcas, levar a Granado ao exterior (um pequeno escritório já funciona em Nova York) e abrir o capital na Bolsa de Valores?, planeja. ?Mas vamos sem pressa, temos tempo. Afinal, levamos só 135 anos para chegar aqui?, diz ele, com tradicional humor britânico.
R$ 100 milhões foi o faturamento do grupo em 2004