Começou de maneira promissora a tentativa do governo de cortar na própria carne. Ao menos a “carta de intenções” e o tamanho do regime já foram anunciados. O ministro Guido Mantega informou na semana passada como será o plano de dieta financeira da União para uma queda nos gastos do orçamento, da ordem de R$ 12 bilhões, que deve vir a reboque da revisão (para baixo) das estimativas de crescimento do PIB em 2013. O programa e seu alcance estão longe do ideal, mas correspondem ao possível no momento. Ao menos R$ 5 bilhões em emendas parlamentares deverão sofrer contingenciamento, e essa é uma fatia dos custos, em geral, pesada na conta final. 

 

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Os congressistas têm apostado fundo em projetos onerosos para atender às suas bases, visando especialmente à campanha eleitoral do próximo ano. Ao colocar um freio nesse apetite, o governo mira o alvo certo. No cômputo total, a economia vem se somar aos quase R$ 28 bilhões já retidos desde maio, depois da primeira tesourada feita por Mantega. Esse ajuste de despesas públicas deveria funcionar como um primeiro passo rumo à completa revisão da máquina estatal – com a eliminação inclusive de parte do leque de ministérios, hoje em tamanho recorde. As pastas em atividade na gestão Dilma quase se sobrepõem para acomodar interesses partidários e de aliados. Faltam cargos e posições para tamanha sede de controle da administração federal. 

 

Nos Estados e municípios o fenômeno de estruturas inchadas se repete. Multiplicam-se por esses dias as secretarias para abrigar indicados de legendas que compõem as respectivas bases de apoio. Do Amapá ao Paraná, passando por diversos Estados, o processo é o mesmo. Num completo disparate, contra o clamor que vem das ruas, o desperdício de dinheiro público nesse campo continua como regra e se expande. É algo que pode inviabilizar a retomada econômica numa fase de repique inflacionário, baixa produtividade industrial, investimento privado curto e linhas de crédito escassas. O choque de gestão com medidas de corte de custeio, como as comunicadas por Mantega, é mais que bem-vindo. É vital. Que seja apenas o começo de uma disciplina vigorosa no controle do cofre.