05/12/2012 - 21:00
A morte de Joelmir Beting, às vésperas de completar 76 anos, retirou do convívio de milhões de brasileiros que o acompanhavam na televisão, no rádio e em artigos na imprensa escrita, um dos mais brilhantes jornalistas que o País já conheceu. Nascido em Tambaú, no interior de São Paulo, de origem humilde – “fui boia-fria aos 7 anos”, dizia –, esse descendente de alemães da Westfália, que chegaram ao Brasil em plena Guerra do Paraguai, trafegava com naturalidade e inspiração pelas áreas mais nobres da profissão. Do jornalismo esportivo, no qual deu seus primeiros passos na carreira, na antiga rádio Panamericana, em 1957, ao econômico, como editor e colunista de publicações importantes como a Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, passando pela política, como mediador de debates eleitorais, Joelmir deixou sua marca inconfundível: a simplicidade, aliada a uma extraordinária capacidade de comunicação.
Graças a essas duas características, e ao rigor e à disciplina acadêmica adquirida na faculdade de sociologia da USP, o “alemão”, como costumava referir-se a si mesmo, conseguiu como ninguém traduzir a linguagem hermética e frequentemente ininteligível dos economistas, tornando-a acessível ao homem da rua. “Na verdade, não escrevo para a dona de casa. Escrevo para a empregada dela”, afirmou certa vez. A preocupação em fazer as pessoas comuns entenderem as consequências das decisões do governo e das oscilações dos ciclos econômicos o levou a desenvolver um estilo bem- humorado, repleto de tiradas e exemplos. Para explicar a volatilidade do mercado de ações, Joelmir saiu-se com esta: “As bolsas de valores, como os aviões, são 100 por cento seguras: todo avião que sobe, desce.”
Não por acaso, ele tinha entre os assalariados seus mais fiéis admiradores, embora suas palestras fossem requisitadíssimas no mundo corporativo. Recordo-me perfeitamente da atenção com que os peões reunidos no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, à época da greve de 1979, assistiam a seus comentários no noticiário noturno da TV Bandeirantes. E ai de quem se atrevesse a falar em voz alta durante a intervenção de Joelmir. Mesmo que esse alguém fosse um certo Luiz Inácio da Silva, mais conhecido como Lula, pelos associados do sindicato. Essa popularidade, a propósito, gerou irritação e ciumeira entre os que não se conformavam com sua popularidade e aceitação pelo grande público.
Não faltou quem o apelidasse de “Chacrinha da economia”. Pode ser. Mas foi graças ao esforço pioneiro de profissionais como Joelmir que os fatos econômicos deixaram de ser um bicho-papão para uma grande massa de brasileiros. Revistas como a DINHEIRO, por exemplo, devem muito à combinação da seriedade na análise das informações com a irreverência na linguagem que a caracteriza, à contribuição milionária desse homem, cujas jornadas se estendiam por 15 horas, que trabalhou até às vésperas de sua internação hospitalar. Um brasileiro, enfim, a quem nada, nem mesmo as vicissitudes do seu Palmeiras, faziam perder a fleuma, a simpatia e o sorriso nos lábios.