29/09/2004 - 7:00
É à mesa que o engenheiro Gilberto Bomeny, de 64 anos, sente-se à vontade para falar de negócios. Normalmente econômico nas palavras e taciturno atrás das grossas lentes dos óculos, ele parece outro homem diante de uma paella ou de uma bela barca de sashimi. Fala com gosto de novos projetos e antigas polêmicas. Bomeny, ou GBB para os mais chegados, é sócio (junto com 33 fundos de pensão) do World Trade Center São Paulo (WTC), conjunto erguido ao custo de US$ 200 milhões, em 1995, e que compreende o Hotel Gran Meliá, o D&D Shopping, um centro de convenções e uma torre de escritórios na região da Avenida Luís Carlos Berrini. Um de seu planos atuais é levar a bandeira WTC a outras praças. A começar por Santos, onde ele está investindo US$ 3 milhões para reformar o antigo prédio da Bolsa de Valores e instalar ali a primeira filial da rede. O conceito, no entanto, será diferente do que existe em São Paulo. Não haverá hotel, nem shopping, nem escritórios ? apenas restaurante e espaços para reuniões, convenções e eventos. ?Se der certo, vamos replicar o modelo com a ajuda de investidores dispostos a pagar royalties?, explica o empresário. Bomeny é dono da licença WTC para sete cidades brasileiras. Pagou US$ 200 mil cada.
?Divido a história da cidade em antes de WTC e depois de WTC?, exagera Eduardo Conde, secretário de Turismo de Santos. Segundo ele, os executivos de multinacionais do setor de exportações (como P&O Nedlloyd, Maersk, Hamburg Sud) finalmente terão um local a altura para fazer negócios fora de seus escritórios. Trata-se, contudo, de uma aposta. O próprio Bomeny admite que a matriz em São Paulo está aquém das expectativas. ?Temos um retorno de 8% a 10% do investimento feito. Deveríamos ter 15%?, lamenta. ?O gargalo é o Gran Meliá?, diz Ricardo Malavazi, diretor-financeiro da Petros, um dos fundos de pensão sócios do empreendimento. Antigo sinônimo de hotel cinco estrelas da cidade, hoje o Meliá sofre a concorrência dos vizinhos Hyatt e Hilton. Sua participação no faturamento do complexo (R$ 100 milhões ao ano) reduziu-se a 10%. O remédio: R$ 50 milhões até 2006 para instalar ali uma boate e duplicar a capacidade do centro de convenções para 4 mil pessoas.
Na verdade, a filial de Santos representa a retomada do confuso projeto de expansão da marca WTC no Brasil. Em 1996, Bomeny quis montar um complexo parecido em Manaus e viu seu nome envolvido num caso de desvio de dinheiro público. Na época, o Ministério Público Federal o acusou de receber R$ 15,3 milhões da Sudam para tocar as obras e não assentar nenhum tijolo. Pior: para angariar recursos para o projeto junto a empresas privadas ele contratou o empresário José Osmar Borges, depois apontado como o maior fraudador da Sudam, responsável por um golpe de R$ 100 milhões. Bomeny se defende. Diz que fez a terraplenagem do terreno e todas as fundações de concreto. ?Mas com a extinção da Sudam, todos os projetos que contavam com incentivos do órgão foram suspensos, entre eles o nosso?, alega. ?Então fui à Justiça pleitear uma indenização e o ressarcimento do que gastei lá?, diz. ?O problema é que virei uma espécie de leproso por causa dessa história. Minha integridade como empreendedor ficou abalada.?
Mas isso não o impediu de se meter em outro caso enrolado. Num terreno de 1 milhão de m2 em Guarapari (ES), Bomeny começou a construir a sua mais recente dor de cabeça: um misto de resort, condomínio de luxo, spa e campo de golfe avaliado em US$ 100 milhões. O plano era começar as obras e depois correr atrás de investidores. Faltou combinar com o Ibama. ?Eles começaram a mexer no local sem requerer as licenças ambientais. Por isso, o projeto está embargado?, diz Ricardo Vereza, superintendente do Ibama do Espírito Santo. Bomeny não se abala. ?Assim que liberarem, nós continuamos?, diz.
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