É à mesa que o engenheiro Gilberto Bomeny, de 64 anos, sente-se à vontade para falar de negócios. Normalmente econômico nas palavras e taciturno atrás das grossas lentes dos óculos, ele parece outro homem diante de uma paella ou de uma bela barca de sashimi. Fala com gosto de novos projetos e antigas polêmicas. Bomeny, ou GBB para os mais chegados, é sócio (junto com 33 fundos de pensão) do World Trade Center São Paulo (WTC), conjunto erguido ao custo de US$ 200 milhões, em 1995, e que compreende o Hotel Gran Meliá, o D&D Shopping, um centro de convenções e uma torre de escritórios na região da Avenida Luís Carlos Berrini. Um de seu planos atuais é levar a bandeira WTC a outras praças. A começar por Santos, onde ele está investindo US$ 3 milhões para reformar o antigo prédio da Bolsa de Valores e instalar ali a primeira filial da rede. O conceito, no entanto, será diferente do que existe em São Paulo. Não haverá hotel, nem shopping, nem escritórios ? apenas restaurante e espaços para reuniões, convenções e eventos. ?Se der certo, vamos replicar o modelo com a ajuda de investidores dispostos a pagar royalties?, explica o empresário. Bomeny é dono da licença WTC para sete cidades brasileiras. Pagou US$ 200 mil cada.

?Divido a história da cidade em antes de WTC e depois de WTC?, exagera Eduardo Conde, secretário de Turismo de Santos. Segundo ele, os executivos de multinacionais do setor de exportações (como P&O Nedlloyd, Maersk, Hamburg Sud) finalmente terão um local a altura para fazer negócios fora de seus escritórios. Trata-se, contudo, de uma aposta. O próprio Bomeny admite que a matriz em São Paulo está aquém das expectativas. ?Temos um retorno de 8% a 10% do investimento feito. Deveríamos ter 15%?, lamenta. ?O gargalo é o Gran Meliá?, diz Ricardo Malavazi, diretor-financeiro da Petros, um dos fundos de pensão sócios do empreendimento. Antigo sinônimo de hotel cinco estrelas da cidade, hoje o Meliá sofre a concorrência dos vizinhos Hyatt e Hilton. Sua participação no faturamento do complexo (R$ 100 milhões ao ano) reduziu-se a 10%. O remédio: R$ 50 milhões até 2006 para instalar ali uma boate e duplicar a capacidade do centro de convenções para 4 mil pessoas.

Na verdade, a filial de Santos representa a retomada do confuso projeto de expansão da marca WTC no Brasil. Em 1996, Bomeny quis montar um complexo parecido em Manaus e viu seu nome envolvido num caso de desvio de dinheiro público. Na época, o Ministério Público Federal o acusou de receber R$ 15,3 milhões da Sudam para tocar as obras e não assentar nenhum tijolo. Pior: para angariar recursos para o projeto junto a empresas privadas ele contratou o empresário José Osmar Borges, depois apontado como o maior fraudador da Sudam, responsável por um golpe de R$ 100 milhões. Bomeny se defende. Diz que fez a terraplenagem do terreno e todas as fundações de concreto. ?Mas com a extinção da Sudam, todos os projetos que contavam com incentivos do órgão foram suspensos, entre eles o nosso?, alega. ?Então fui à Justiça pleitear uma indenização e o ressarcimento do que gastei lá?, diz. ?O problema é que virei uma espécie de leproso por causa dessa história. Minha integridade como empreendedor ficou abalada.?

Mas isso não o impediu de se meter em outro caso enrolado. Num terreno de 1 milhão de m2 em Guarapari (ES), Bomeny começou a construir a sua mais recente dor de cabeça: um misto de resort, condomínio de luxo, spa e campo de golfe avaliado em US$ 100 milhões. O plano era começar as obras e depois correr atrás de investidores. Faltou combinar com o Ibama. ?Eles começaram a mexer no local sem requerer as licenças ambientais. Por isso, o projeto está embargado?, diz Ricardo Vereza, superintendente do Ibama do Espírito Santo. Bomeny não se abala. ?Assim que liberarem, nós continuamos?, diz.

PRESENTE DOS DEUSES

Além do WTC, dos resorts, spas e dos campos de golfe, Bomeny ainda encontra tempo para virar produtor de cachaça. Num alambique da família em Bom Jesus do Itabapuana, interior do Rio de Janeiro, o empresário fabrica a aguardente Gift of Gods (Presente dos Deuses). A garrafa custa R$ 150, mas o que chama mais a atenção é uma versão em spray do produto. ?É a única cachaça do mundo com três funções?, brinca Bomeny. ?Você pode beber, aromatizar e desinfetar ambientes.? E ainda dá para carregar na bolsa…

US$ 1,4 MILHÃO foi quanto ele pagou
pela licença do WTC