Jogador compulsivo, mulherengo e dândi, o escocês John Law (1671-1747) foi um dos mais controvertidos personagens da história do dinheiro no mundo. Condenado pelo assassinato de um homem em um duelo de espadas na mocidade, fugiu da prisão por meio da ajuda de amigos para viajar errante pela Europa depois de ?roubar? a mulher de um companheiro no caminho. A vida de Law na juventude não daria pistas de que ele se tornaria o responsável por instituir um período de grande prosperidade na França do início do século XVIII e por introduzir inovações financeiras que ecoam até os dias de hoje. Sua biografia peculiar e seus feitos históricos agora podem ser conhecidos em ?O inventor do papel?, de Janet Gleeson, lançado pela Rocco (R$ 39,50).

John Law era carismático e bonito, com um porte elegante conferido pela altura de mais de 1,80 metro. Seu magnetismo pessoal era ampliado pelos modos refinados e cultura. Mas sua característica mais notória era o raro talento matemático, aprimorado nas mesas de apostas. Tal virtude o levaria a ser um dos primeiros a entender que a economia, para funcionar sem tropeços, depende apenas da confiança das pessoas. Ou seja, a certeza de que, ao trocar dinheiro por mercadorias ou serviços, ele manterá o valor ao longo do tempo. Atento a esse conceito, Law fundou o primeiro banco nacional da França, que fabricava dinheiro de papel em escalas gigantescas e ressuscitou a economia doente do país depois do fim do império de Luís XIV, o Rei Sol.

 

Com ações lastreadas na exploração da Louisiana, província recém-descoberta na América do Norte, John Law criou a Companhia do Mississipi, o conglomerado mais respeitado do mundo à época. A demanda pelos papéis não tinha precedentes: em três anos, o preço da ação passou de 150 para 10 mil livres (como então era chamada a moeda). Enriqueceu a si mesmo e a boa
parte dos antigos europeus e, nesse trajeto, alçado
ao posto de controlador financeiro da França,
tornou-se uma celebridade.

As esplêndidas fortunas, como os ventos impetuosos, provocam grandes naufrágios. A frase, do filósofo grego Plutarco, foi uma sentença para John Law. Os acionistas da Companhia Mississipi, depois da euforia consumista, começaram a procurar investimentos e bens mais tangíveis. Quando os especuladores resolveram trocar seus papéis por dinheiro para aquisição de jóias, ouro e propriedades, Law não foi capaz de conter a onda e o mercado afundou. Mais de meio milhão de pessoas reclamavam ter perdido tudo. Humilhado, rebaixado de posto e muito mais pobre, Law passaria o resto da vida tentando convencer o mundo de sua integridade e de que sua idéia era segura. Hoje, o mercado financeiro global é um retrato de triunfo das idéias do visionário.