27/08/2008 - 7:00
“MY NAME IS REGGIE. I’M ABOUT kickin?ass.” Usando uma expressão tipicamente americana, que remete à idéia de chutar o traseiro dos adversários, o irreverente Reggie Fils- Aime, atual CEO da Nintendo of America, se tornou um astro da indústria dos games. Em 2004, sucinto, mas carismático, o até então desconhecido executivo disse aquilo que há muito tempo se esperava ouvir: a Nintendo estava de volta ao jogo. E ele era o homem que comandaria essa revolução. Naquele ano, a companhia trouxe ao mercado o videogame portátil DS. E, em 2006, lançou o Wii, um novo conceito de console, que hoje ocupa a liderança do mercado. O game não só tornou o dono da empresa, Hiroshi Yamauchi, o homem mais rico do Japão como posicionou a empresa como a terceira marca mais valiosa do país, com um valor de mercado de US$ 85 bilhões, atrás apenas de Toyota e Mitsubishi. O lucro líquido da Nintendo bateu os US$ 2,25 bilhões no ano fiscal de 2008 ? alta de 51% em relação ao ano anterior e um salto de US$ 1,382 bilhão desde o lançamento do Wii, em 2006. ?O grande responsável por esse desempenho foi, sem dúvida, o Reggie?, afirma Guilherme Franco, diretor da fabricante de games Eletronic Arts na América Latina e Central. Aos 47 anos, o executivo fez o que ninguém até então conseguiu fazer. No habitual universo solitário dos games, ele quebrou barreiras e criou um console usado por diversas pessoas ao mesmo tempo. Com isso, conquistou uma legião de fãs que diariamente fazem fila na porta de lojas em busca de novos jogos da marca. Este, aliás, acabou se tornando um eficiente meio de marketing. A fabricante nunca distribui o número exato de produtos, para atender de uma vez a demanda, e assim mantém a expectativa pelos games. Desde o lançamento do Wii, a Nintendo tem se preocupado em trazer ao mercado novos aplicativos para manter o prestígio do game. É o caso do Wii Fit e do Wii Music, jogos recém-lançados que simulam a prática esportiva e musical.
A chegada de Reggie à Nintendo foi o ponto de partida para uma reviravolta espetacular da companhia. Ele recebeu um convite para integrar a equipe em 2003. Na época, trabalhava na MTV Networks. ?Eu tive muita sorte de entrar na empresa numa época em que os fãs estavam precisando acreditar na Nintendo novamente?, contou Reggie à DINHEIRO (leia a seguir a entrevista exclusiva). Grandalhão, o que à primeira vista chega a ser intimidante, o presidente da Nintendo of América tem estilo contido e voz mansa. ?Coincidiu com o momento em que lançamos novos produtos fabulosos. Me considero uma pessoa sortuda?, acrescenta. Apesar de ser novato na indústria de games, o executivo carregava uma vasta experiência no segmento de consumo. Trabalhou em empresas como Procter & Gamble, Pizza Hut e Guinness Beer, na qual conheceu de perto os hábitos dos jovens em geral ? uma vivência que posteriormente contribuiu para a criação do Wii. Ele ensinou aos japoneses da companhia a importância de considerar um grupo de consumidores até então negligenciado pelo setor. Até então, o foco da indústria de games era o público jovem masculino. Se conseguisse atingir mulheres e pessoas mais velhas, a Nintendo se diferenciaria de Microsoft e Sony. E foi o que a companhia fez. ?O Wii coloca sorrisos nas faces de pessoas de diferentes idades, motivando milhões de novos jogadores a entrar nesse mundo de entretenimento?, disse Cammie Dunaway, vice-presidente da Nintendo of America.
Reggie só se deu conta do sucesso que fizera quando os amigos de escola de seus três filhos começaram a cercá-lo atrás de informações privilegiadas sobre os futuros games da companhia. ?Pai, você é um superstar?, disse o caçula. Apesar da posição que atingiu, o executivo preserva os hábitos da vida modesta que teve na infância. A história de seus pais daria um bom conto de Romeu e Julieta, com um final feliz, como ele mesmo diz. O casal fugiu do Haiti para os Estados Unidos para viver uma relação condenada pela família. De uma vida de classe média baixa, Reggie saltou para uma das posições mais privilegiadas do mercado internacional. Enquanto segue na busca exaustiva por novidades na Nintendo, ele sempre consegue uma brecha para ?testar? os games da companhia. Chega a praticar quase 20 horas semanais. Mas confessa que jogaria com mais freqüência, se o tempo lhe permitisse.
?O BRASIL PODERIA SER O MAIOR?
Reggie Fils-Aime falou com exclusividade à DINHEIRO sobre os planos da Nintendo no País
Qual a importância da América Latina para a Nintendo?
Desde que entrei na companhia, há 5 anos, nossos negócios na região cresceram quase cinco vezes. Nós vemos oportunidades imensas de crescimento por aqui e queremos aproveita-las o mais rápido possível.
Como a Nintendo enxerga o Brasil?
Nós enxergamos no Brasil uma grande oportunidade. Mas infelizmente nesse momento ele é apenas uma pequena parte de nossos negócios na América Latina. Isso porque a carga de impostos no País é muito alta. Caso contrário, poderia ser nosso maior mercado na América Latina.
Existe alguma estratégia específica para driblar esses altos impostos?
Nós tentamos por diversas vezes conversar com o governo brasileiro para fazê-lo entender a importância do mercado de videogames para o País. Mas, infelizmente, não obtivemos sucesso. Se a estrutura de negócios não mudar, infelizmente os brasileiros não poderão aproveitar os produtos que estamos trazendo ao mercado.
O sr. tem previsão de lançamento dos games do Wii em português?
Enquanto não tivermos um mercado mais importante no Brasil, não será muito vantajoso para nós lançarmos games em português. No entanto, todos os próximos lançamentos da Nintendo terão uma versão em espanhol disponível, já que temos uma presença marcante no México e em outros países da América Latina.
A Nintendo fez um grande investimento na divulgação do Wii Fit no Brasil. A companhia pretende repetir a estratégia com outros produtos?
Quando lançamos o Wii Fit, fomos ao Brasil e fizemos diversas demonstrações do produto. A resposta foi muito positiva. E, por conta disso, vamos continuar usando essa estratégia de aproximação. Isso porque, apesar do preço alto, não podemos ignorar esse mercado, que é imenso.