20/11/2025 - 9:00
Enquanto parte do mercado ainda associa investimento sustentável à filantropia, Fábio Alperowitch, sócio-fundador da Fama re.capital, vê justamente o contrário: um campo fértil de oportunidades para quem enxerga o longo prazo.
“O investimento sustentável é mais sofisticado porque avalia tudo o que o gestor tradicional analisa — e ainda adiciona novas camadas, como clima, sociedade e governança”, afirma. Para ele, a integração desses fatores amplia a capacidade de entender riscos e gerar valor, tornando os fundos ESG mais resilientes.
Bora Investir: Os fundos sustentáveis ainda são pouco representativos na indústria de fundos no Brasil. Por que isso acontece? Falta interesse dos investidores, falta atenção dos gestores ou faltam projetos para investir?
Fábio Alperowitch: Um pouco de tudo. Se a gente tivesse uma organização setorial, eu acredito muito que poderíamos incentivar essa indústria. Por exemplo, o investidor tem isenção fiscal quando investe em infraestrutura e não tem isenção quando investe em sustentabilidade? Acho que esse é um pleito que deveria ser feito. Esse deveria ser um pleito do setor. Por outro lado, com as regras atuais, se houvesse esse benefício, muitos fundos não sustentáveis correriam para se rotular como tais. Antes de qualquer incentivo, precisamos definir com clareza o que é, de fato, sustentável.
Além disso, o tema ainda é mal compreendido. Muitos investidores acham que investir de forma sustentável é deixar dinheiro na mesa — quase uma ação filantrópica —, o que é um absurdo. Falta letramento financeiro e ambiental. Tudo isso ajuda a explicar o cenário atual.
Bora Investir: Quando você fala dessa visão de que investimento sustentável é filantropia, está se referindo ao investidor brasileiro ou a um público mais amplo?
Fábio Alperowitch: A todos. Esse problema de compreensão é geral. Os estrangeiros, em geral, não investem diretamente em fundos brasileiros — eles têm seus próprios veículos —, mas o fato é que, somando tudo, o volume IS ainda é pequeno. Outro dia fiz uma conta: se somássemos toda a indústria de fundos IS e dividíssemos pelo total da indústria, daria cerca de 0,2%.
Esse número é muito baixo porque ainda existe uma visão errada de que esses fundos não buscam retorno, apenas buscam “fazer o bem”. Isso está completamente equivocado.
Bora Investir: E o que você vê que mudou nos últimos anos quando falamos em investimentos sustentáveis no Brasil?
Fábio Alperowitch: O tema foi desinterditado. Antes, era praticamente proibido falar sobre isso. Hoje há uma aceitação de que o tema existe, mas ele ainda não está incorporado ao debate. Não é suficiente para gerar demanda entre private bankers, wealth managers, family offices ou fundos de pensão.
O assunto ainda não foi compreendido nem como oportunidade de retorno, nem como mitigação de risco. Muitos acham que sustentabilidade é uma classe de ativo, quando, na verdade, é uma camada de análise adicional. O investimento sustentável é muito mais sofisticado do que o tradicional, porque, além de todos os indicadores financeiros, você precisa avaliar também clima, sociedade, comunidades. É olhar tudo que o convencional olha — e mais.
Só que o mercado acha o contrário: que olhamos apenas a “última camada”, a ambiental, e ignoramos o resto. Por isso a demanda é pequena. Falta compreensão e comunicação. Esse é o grande desafio.
Leia matéria completa no site B3 Bora Investir, parceiro da IstoÉ Dinheiro.
