Sempre esteve nas mãos da Alemanha a liderança do Mercado Comum Europeu. E por um motivo elementar: a sua expressiva vantagem econômica em relação aos demais parceiros. Como a mais rica, mais poderosa e de melhores perspectivas – basta olhar para os fundamentos monetários, estabilidade de mercado e números positivos que sistematicamente exibe –, a nação alemã conduziu o bloco até aqui e é hoje sua maior esperança de salvação contra a crise. A Alemanha pediu aos vizinhos um rígido corte de gastos e controle das contas públicas. Conseguiu. 

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Agora costura com os credores um alongamento da dívida da região. Ninguém duvida que ela fechará um acordo nesse caminho. Por sua dimensão continental e poder de contágio, o enrosco europeu virou a maior arma alemã para concretizar seus planos de hegemonia. Boa parte do mundo está de olho nos desígnios da Alemanha. E, por tabela, nas mãos da chanceler Angela Merkel. Ela sabe disso e adotou a estratégia de tentar rearrumar a União Europeia sem colocar um centavo do bolso. Espera que outros o façam. Com a disciplina orçamentária e o cuidado para não emprestar reservas do país a fundo perdido, Merkel amealhou resultados internos de encher os olhos. 

 

A Alemanha apresenta neste momento a sua menor taxa de desemprego das últimas duas décadas (6,7%). Quase um terço da média registrada no bloco. O PIB cresceu 3% em 2011. Mais do que o esperado no pujante Brasil. A dívida pública caiu de 105 bilhões de euros em 2010 para 26 bilhões de euros no ano passado. E, sem maiores esforços, Merkel, com esses indicadores, deverá manter seu prestígio por longa data. O que tanto ela como o país não podem perder de vista é a realidade que os cerca. A Alemanha não é uma ilha e não deve procurar o caminho do isolamento. A liderança e o eventual papel de juiz do destino do Mercado Comum pressupõem responsabilidades que não podem ser deixadas de lado.