24/10/2012 - 21:00
Ganhar dinheiro de forma conservadora não está mais tão fácil assim para os investidores brasileiros. Com o juro básico da economia medido pela taxa Selic a 7,25% ao ano, depois do décimo corte consecutivo promovido pelo Banco Central (BC), a rentabilidade na renda fixa tradicional está virando fumaça. Esse movimento tem feito com que os investidores busquem alternativas, mesmo que isso signifique correr um pouco mais de risco. Foi essa busca pela diversificação que levou o neurocirurgião paulista Ricardo Ansai a optar pelos Exchange Traded Funds (ETFS), também conhecidos como fundos de índice, que são negociados no pregão, como se fossem ações.
Retorno encorpado: para o neurocirurgião Ricardo Ansai, os ETFs
são uma alternativa aos juros mais baixos
“Com os ETFs consigo melhorar a rentabilidade do meu portfólio sem estar exposto às variações de apenas uma ação e sem estar sujeito às altas taxas de administração de alguns fundos de investimentos”, afirma Ansai, que mantém cerca de 15% de sua carteira em fundos de índice. “Para quem não tem tempo de acompanhar o mercado, mas quer uma carteira diversificada de ações, os fundos de índices são ótimas alternativas.” Ele não está sozinho: em 2012, até setembro, a média diária de negociações com ETFs foi de R$ 121,5 milhões, um crescimento de quase três vezes em relação a 2011. Se fosse uma ação, a cota do BOVA11, fundo mais líquido no pregão, ocuparia o 13º lugar entre os papéis preferidos dos investidores, nos mesmos níveis, por exemplo, de ações de grande liquidez como as da Gerdau e da BM&FBovespa.
Se o exemplo internacional for um bom indicador, as perspectivas são excelentes. Nos Estados Unidos, 50% dos títulos mais negociados em bolsa são quotas de ETF. O patrimônio líquido desses fundos, no Brasil, já soma R$ 3,6 bilhões, montante quase nove vezes maior que os R$ 412 milhões registrados em 2004, quando foi lançado o primeiro fundo de índice no Brasil: o PIBB11, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em parceria com o Itaú Unibanco. O economista Felipe Augusto Canal apostou na modalidade logo que ela chegou ao País. E foi a praticidade que o atraiu. Ao comprar uma cota de ETF, o investidor adquire uma cesta com papéis de diferentes companhias que, juntas, reproduzem um determinado índice.
Corrida pelo ganho: facilidade de investir em várias empresas chamou
a atenção do economista Felipe Canal
“Essa facilidade de investir em várias empresas de uma maneira simples foi o que chamou minha atenção”, diz Canal. Para Tatiana Grecco, superintendente de fundos indexados do Itaú Asset Management, no cenário atual, de volatilidade na bolsa e de queda nos juros, os ETFs podem ser uma boa opção para os investidores que buscam um retorno maior nas aplicações, mas ainda se sentem desconfortáveis com os solavancos da renda variável. “O fundo de índice pode ser uma porta de entrada para o mercado de ações ou uma alternativa para quem quer menos riscos”, afirma Tatiana. Julio Ziegelmann, diretor de Renda Variável da BM&FBovespa, concorda.
“De fundos de pensão a family offices e pessoas físicas, todos passarão a colocar mais risco na carteira, e os fundos de índices entrarão na lista dos investidores”, afirma Ziegelmann. Além do retorno financeiro superior ao dos fundos de investimentos, as operações diferenciadas que os ETFs permitem atraem também grandes investidores, que já conhecem o mercado. “Diferentemente dos fundos tradicionais, no ETF é possível operar comprado ou vendido, como com as ações”, afirma Ricardo Cavalheiro, diretor de mercado de capitais da BlackRock no Brasil. “Outra vantagem é o reinvestimento automático dos dividendos, que facilita a vida de quem aplica.” Atualmente, são negociados 14 ETFs na BM&FBovespa.
Eles reproduzem índices genéricos como o Ibovespa e o IBrX-100, setoriais como de Consumo, Imobiliário e Financeiro, e indicadores específicos, como os de sustentabilidade e de governança corporativa. No início de outubro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) colocou em audiência pública a regulamentação dos ETFs de renda fixa, que prometem ser um divisor de águas no mercado, atraindo mais gente com a promessa de rentabilidade maior e até mesmo taxas de administração mais baixas. Os gestores dos ETFs costumam cobrar menos do que os dos fundos de varejo mais populares, e essa situação deverá repetir-se na renda fixa. Além dos ETFs, os investidores têm buscado alternativas mais rentáveis para suas aplicações de renda variável.
Títulos agrícolas e imobiliários, e fundos imobiliários, que contam com uma muito apreciada isenção de Imposto de Renda, têm crescido na preferência do investidor. Até setembro, os negócios com fundos imobiliários na bolsa registraram R$ 1,9 bilhão, uma alta de 107% em relação aos R$ 912,4 milhões registrados ao longo de todo o ano passado. A CVM também analisa a possibilidade de permitir a negociação de ETFs de índices estrangeiros, o que poderia ampliar ainda mais o mercado. “A modalidade tem crescido em um ritmo muito forte e a tendência é de manutenção deste crescimento”, afirma Ziegelmann. O lançamento do fundo ECOO11, que acompanha o índice de Carbono Eficiente ICO2, em junho deste ano, mostrou que a aplicação está se popularizando.
Em pouco mais três meses, o fundo alcançou a segunda posição no ranking em número de cotistas, com 11,3 mil investidores, atrás, apenas, do PIBB11, com 15,2 mil. Em terceiro lugar está o BOVA11, que reproduz o Ibovespa, com 5,1 mil investidores. No total, são 34 mil investidores na modalidade. O dentista Lauro Travassos, 45 anos, estreou no mundo dos ETFs com o ECOO11. “Além da diversificação, o que me chamou a atenção foi a garantia de recompra”, afirma, referindo-se a uma vantagem específica do lançamento. Para atrair os investidores, as regras previam que, se em 12 meses o índice não registrar o resultado esperado e tiver perdas, o investidor tem a opção de revender as cotas para o BNDES, parceiro no produto, pelo mesmo valor da aquisição, até o limite de R$ 25 mil.
Segundo Ziegelmann, outro fato que pode impulsionar o mercado é a entrada da Caixa Econômica Federal. Em maio, o banco estatal venceu uma concorrência realizada pela bolsa para lançar um concorrente ao BOVA11. “Queremos ampliar nossa oferta de produtos de renda variável”, afirma Alenir de Oliveira Romanello, superintendente nacional de desenvolvimento de produtos de terceiros da Caixa. “Além disso, nosso objetivo é aproveitar este momento da economia para disseminar a modalidade para o investidor de varejo”, diz. “A concorrência não nos preocupa”, afirma Cavalheiro, da BlackRock, que lançou o BOVA11. “Só deixa mais claro que o mercado tem muito potencial.”