Como será 2015? Esta tem sido uma pergunta recorrente aonde quer que se vá. Empresários, executivos, economistas – sempre tão acostumados a exercitar o dom da adivinhação – e até o ansioso sr. Antônio, o antenado jornaleiro da rua onde moro, parecem não fazer a menor ideia do que o ano nos reserva. Com razão. Há mais de uma década não se via tanto receio em relação à economia brasileira, cercada por denúncias de corrupção em estatais e empresas privadas, queda da confiança, perspectiva de arrocho generalizado dos investimentos e projeções preocupantes para o consumo e o desemprego.

O cenário, de fato, contrasta com o crescimento e o otimismo vivenciados na era do presidente Lula, que embalaram também os primeiros anos do governo Dilma Rousseff. Mas alto lá. O País não está diante do Apocalipse. Embora o crescimento da economia não tenha passado do “zero vírgula alguma coisa” em 2014, há fatores que deixam o Brasil em condição de reagir ao cenário desafiador. A taxa de desemprego se mantém como uma das mais baixas da história, as reservas internacionais de mais de US$ 370 bilhões podem ajudar a combater as turbulências externas e as instituições financeiras continuam sólidas.

A tão temida inflação, que ronda a casa dos 6,4%, está alta, mas ainda dentro do teto estabelecido pelo Banco Central. O ambiente não se compara com a crise que abateu as economias europeias e os Estados Unidos em 2008, nem com as inúmeras quebradeiras que o Brasil já enfrentou nos últimos 30 anos. No entanto, antes de tentar entender o que está acontecendo com o País, uma breve reflexão sobre a teoria dos ciclos econômicos pode clarear nossa compreensão. O economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950) definiu quatro fases para um ciclo econômico: o boom, a recessão, a depressão e a recuperação.

Depois de observar o que acontecia com as economias mais avançadas do mundo na primeira metade do século passado, ele concluiu que o crescimento real do PIB flutua de um modo recorrente e irregular, com uma extensão média do ciclo de cinco a oito anos, como ondas que vão e vêm. Com isso, Schumpeter concluiu que os períodos de bonança só existem porque há fases de estagnação ou queda. O que, no nosso caso, pode ser algo saudável. Nos últimos anos, o crescimento da economia brasileira criou distorções evidentes. Viver no Brasil ficou caro demais.

Sem qualquer razão lógica, um apartamento em São Paulo ou no Rio de Janeiro vale mais do que coberturas em Paris, Munique ou Chicago. Um sedã de porte médio, mesmo com a redução do IPI, sai da concessionária de automóveis custando mais do que o triplo do valor pago pelo consumidor americano. Bens de consumo considerados não essenciais, como cosméticos, perfumes, suplementos vitamínicos, roupas e equipamentos eletrônicos chegam a custar cinco vezes mais do que a média mundial. Apesar disso, em todos os exemplos acima, não faltaram clientes dispostos a desembolsar o que fosse preciso.

Dito isso, a economia brasileira está – e deve continuar em 2015 – cruzando o tal período de ajuste. Todo esse temor em relação aos rumos do País poderá corrigir os erros e ajudar a aprimorar os acertos. As variações de custo e as margens de lucro precisarão ser ajustadas à realidade da economia. Os estímulos do governo a determinados setores precisão ser mais bem analisados. O dinheiro público terá de ser gasto de forma mais inteligente. As decisões deverão ser mais baseadas na razão do que na emoção e na ideologia. O ano, enfim, será mais pé no chão. Esse é, sem dúvida, o lado bom da incerteza.