A distribuidora AES Eletropaulo, fornecedora de energia elétrica para mais de 17 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, foi uma das empresas cujas ações mais se desvalorizaram no primeiro semestre deste ano. O tombo, considerando o valor dos papéis no pregão encerrado na quinta-feira 4, superou os 67%. Os resultados da companhia também não trouxeram boas notícias. Nos três primeiros meses de 2013, a empresa amargou um prejuízo de R$ 800 mil. A receita líquida, de R$ 2,29 bilhões, foi 7,4% menor do que a registrada no mesmo período do ano passado. Para complicar, na terça-feira 2, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que o reajuste médio das tarifas cobradas pela empresa seria de 0,28%, o que, na prática, significa que não haverá reajuste. 

  

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Sem reajuste na tarifa, o fluxo de caixa da empresa pode sofrer um apagão,

como o de 1999 em São Paulo

 

Para os investidores, a notícia teve o efeito de um raio atingindo um poste de luz. Na data do anúncio, as ações da Eletropaulo tiveram uma queda de 6,9%, em mais um dia de apagão da distribuidora na bolsa de valores. Apesar do cenário negativo, há quem enxergue luz mais adiante. Para o presidente da Eletropaulo, Britaldo Soares, o mau humor do mercado financeiro e os números do balanço não refletem com exatidão a saúde da empresa. “Temos uma operação muito bem estruturada”, afirma o executivo. “Todos os percalços estavam previstos.”Sua confiança vem do fato de a empresa ter investido, nos últimos cinco anos, R$ 3,2 bilhões para melhorar os indicadores de qualidade dos serviços e aumentar a eficiência da operação. 

 

Um novo ciclo de investimentos, no mesmo valor, está previsto para o período 2013-2017. “Toda melhoria operacional é refletida no cálculo da tarifa, o que gera ganhos para nós”, afirma o presidente. Os resultados do trabalho já começaram a aparecer. Neste ano, pela primeira vez na história, o índice de perda de energia da distribuidora ficou abaixo de 10% (9,9%). A frequência média de interrupção baixou de 5,45 vezes por cliente, em 2011, para 4,65, no ano passado. O desempenho fez com que a Eletropaulo melhorasse dez posições no ranking de continuidade de serviço da Aneel, ocupando o 13º lugar. 

 

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A Eletropaulo, comandada por Soares, investiu R$ 3,2 bilhões desde 2008

 

No começo de junho, a empresa deu início à implantação de um projeto de rede inteligente (smart grid) na cidade de Barueri, na Grande São Paulo. Essa tecnologia transforma a rede de energia elétrica em algo similar a uma rede de computadores. Isso significa tornar possível a realização de manutenções remotas. Do centro de controle da empresa, técnicos poderão ligar ou desligar transformadores, ou mesmo desviar a energia para um caminho que não esteja comprometido. A medição do consumo também não demanda uma equipe de campo. O investimento no projeto, que contemplará cerca de 60 mil clientes, é de R$ 70 milhões. 

 

“Escolhemos a cidade de Barueri por ter diferentes perfis de consumidores”, afirma Soares. “Vamos poder replicar esse modelo com facilidade.” O smart grid é considerado o futuro da distribuição de energia. A falta de um reajuste mais elevado na tarifa também não assusta o executivo. “Esse valor é viável”, diz Soares. A opção da Aneel de não aumentar o preço da energia, na verdade, se deve a um passivo regulatório oriundo da postergação da revisão tarifária a que estão sujeitas as distribuidoras. Por causa desse atraso, a Eletropaulo deverá devolver aos consumidores R$ 1,1 bilhão, cobrado a mais entre julho de 2011 e julho de 2012. 

 

Parte desse passivo (67,55%) será amortizada neste ano, na forma de desconto da tarifa. “Nossa posição de caixa é confortável”, afirma o executivo. Alguns analistas, no entanto, discordam. Segundo relatório da empresa de análise de risco Fitch, que rebaixou os ratings da empresa no final de junho, essa devolução de recursos aos consumidores pressiona seu fluxo de caixa. Para os analistas da corretora Concórdia, além de operar sem o reajuste, a empresa ainda terá de lidar com o aumento nos valores pagos para a compra de energia. Iluminar esse quarto escuro não será fácil.

 

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