21/03/2014 - 21:00
A bicicleta é um lance clássico no futebol. Foi criada por Leônidas, em 1932, e imortalizada, nas décadas de 1960 e 1970, por Pelé, considerado o jogador que melhor executou esse tipo de chute ao gol. Outro que pode ser colocado nessa lista é o pernambucano Rivaldo Vitor Borba Ferreira. Ainda está gravado na memória de muitos torcedores o golaço que o craque marcou na vitória do Barcelona contra o Valência, no campeonato espanhol de 2001. Fora dos gramados desde o dia 15 de março, quando anunciou sua aposentadoria como jogador, aos 41 anos, Rivaldo está tentando fazer jogadas geniais também no mundo dos negócios.
Uma delas é a R10 Blindados, que atua na proteção de veículos de passeio e foi aberta no ano passado. E o ex-craque do Palmeiras e da Seleção Brasileira não poderia ter escolhido hora melhor. O segmento de blindagem vive seu melhor momento e vem batendo sucessivos recordes de crescimento. Dados da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin) indicam que, no ano passado, o salto foi de 11% no número de carros que receberam esse tipo de proteção. Foram 10.463 veículos ante os 8.384 registrados em 2012. Apesar de ter vivido toda a sua vida no mundo da bola, Rivaldo não é neófito no mercado de blindagem.
Desde que sofreu uma tentativa de assalto, em 1994, quando chegava à sua casa, em São Paulo, o então jogador do Palmeiras aderiu aos veículos do tipo. A partir daí, passou a se interessar pelo tema. “Acompanho esse mercado há 15 anos”, diz. “E a perspectiva é que, por conta dos índices de violência, esse segmento continue crescendo.” Rivaldo afirma que está levando para o mundo empresarial a mesma sobriedade e seriedade que marcaram sua trajetória no planeta bola. “Com o futebol eu aprendi a buscar resultados de forma constante por meio da qualidade e da dedicação.” Para compensar sua pouca intimidade com os manuais de gestão e administração, Rivaldo diz apostar na formação de times vencedores.
São executivos recrutados no mercado que dirigem seus principais negócios (ver quadro ao final da reportagem). Ao ex-craque cabe o papel de supervisor, ou de professor, em uma linguagem mais afeita aos boleiros. A prova de que futebol e negócios se entrelaçam na vida de Rivaldo está presente desde os locais nos quais ele decidiu montar suas empresas até o ramo de atuação. Afinal, os investimentos preferidos de jogadores são imóveis, além da aquisição de veículos blindados para uso próprio e de seus familiares. “Muitos deles são clientes de minha empresa de blindados”, afirma.
“Mas o mercado é muito amplo e esse tipo de produto não é mais coisa apenas para milionário.” De fato, segundo o vice-presidente da Abrablin e dono da BSS, Marcelo Christiansen, inúmeros executivos já colocam um carro com essas especificações na lista de benefícios empresariais. “O custo para blindar um veículo, no nível 3A, o mais usado, se mantém estável em R$ 50 mil faz dez anos.” Um dos motivos foi a redução do preço dos insumos, que passaram a ser produzidos localmente. Nascido em Paulista, município da região metropolitana de Recife, Rivaldo fez de Mogi-Mirim a sua base de atuação.
Afinal, foi na cidade do interior de São Paulo que ele despontou par ao mundo da bola, ao integrar o chamado “Carrossel Caipira”, como ficou conhecido o meio campo e o ataque do time do Mogi-Mirim, sensação no campeonato paulista no início da década de 1990. Por conta disso, todos os seus negócios, à exceção da R10, estão na cidade. Sempre discreto, Rivaldo conseguiu deixar fora dos holofotes não apenas sua vida pessoal como também as informações sobre suas finanças. Não seria exagero imaginar que ele ganhou dezenas de milhões de euros em suas passagens por equipes como La Coruña, Barcelona, Milan e Olympiakos. Para ele, a realização da Copa do Mundo no Brasil deverá ajudar a aumentar o grau de profissionalização da modalidade por aqui. “O Brasil está indo em um bom caminho neste sentido”, diz.