Moreira Caio: Negociações começaram em outubro

Em Aalestrup, na Dinamarca, eram 10 da manhã de sexta-feira, dia 14, quando o executivo Luiz Eduardo Moreira Caio, presidente da brasileira Metalfrio, pôs no papel a assinatura para a compra da Caravell ? uma das maiores, mais conhecidas e mais bem reputadas marcas de refrigeração do Velho Continente. Negócio fechado, criou-se a terceira maior empresa do mundo no ramo de geladeiras para bebidas e sorvetes, uma companhia com fábricas em quatro países, clientes em três continentes e faturamento anual em torno de US$ 250 milhões. ?Vamos implantar nosso jeitão de tocar negócios, favorecendo a velocidade e o desempenho?, penho?, disse Caio à DINHEIRO. A negociação entre dinamarqueses e brasileiros vinha sendo tocada discretamente desde outubro de 2005. No dia 4 deste mês, sem alarde, a Caravell pôs no seu site a notícia da aquisição iminente ? e a imprensa européia repercutiu a operação. Quando DINHEIRO entrou em contato com a Metalfrio, no final da semana passada, a bandeira brasileira já tremulava na fábrica de Aalestrup e Caio encontrava-se há dez dias na cidade de 30 mil habitantes. Hospedado no hotel Palas, ele estuda in loco a operação da Caravell, goza do breve verão nórdico de 17 graus e descobre a hospitalidade dos moradores, aliviados com a sobrevivência de seu maior empregador. A fábrica de refrigeradores tem 450 empregados que ganham em média cinco vezes mais que os seus novos colegas em São Paulo. ?Eles estão curiosos sobre o Brasil?, diz . Fundada há 46 anos, a Metalfrio foi adquirida em 1994 pela Bosch Siemens e pertence desde 2003 à Artésia, empresa de gestão de recursos capitaneada pelo economista Marcelo Faria Lima e pelo administrador Márcio Camargo, ambos ex-Garantia.

O valor de venda da Caravell não foi divulgado, mas as condições gerais da operação são conhecidas. Administrada por uma fundação desde a morte de seu controlador, a companhia dinamarquesa vinha perdendo mercado para produtos mais baratos e endividou-se pesadamente. Quando procurou a Metalfrio, em 2005, sua situação financeira era difícil, embora o prestígio da marca estivesse intacto. Os brasileiros negociaram diretamente com os credores da Caravell e chegaram a um acordo vantajoso. Por ele, adquiriram a marca e os ativos da empresa, pagando ?substancialmente mais baixo? do que pagariam em outra situação. O passivo da companhia não entrou. Agora se trata de recuperar o negócio, acelerando a gestão, e oferecer ao mercado europeu alternativas de produtos com preço mais baixo. A Caravell vende refrigeradores com preço médio de US$ 850, enquanto a Metalfrio faz aparelhos de R$ 500. ?Faremos a companhia crescer com produtos mais competitivos?, promete Caio. ?O plano é dobrar o faturamento em três anos.? A Caravell fatura o equivalente a US$ 75 milhões por ano. Tem, além da fábrica de Aalestrup, uma outra em Kaliningrado, na Rússia, com 200 empregados. A essa força fabril irão se juntar três outras plantas da Metalfrio: São Paulo, com 800 funcionários; Mato Grosso do Sul, que começa a operar em agosto com 120 postos de trabalho; e Turquia, que será inaugurada em outubro, com 120 vagas. A idéia é concentrar a pesquisa e o desenvolvimento na Dinamarca, assim como a fabricação de produtos de maior valor agregado. As fábricas da Rússia e da Turquia abastecerão a Europa com produtos mais simples.


Fábrica da Dinamarca: 450 empregados para a cidade de Aalestrup, com 30 mil habitantes

O Brasil seguirá fornecendo para a América Latina e os Estados Unidos. Por trás dessa geografia industrial, há um plano de expansão que pretende aproveitar a tendência da indústria de alimentos ao global sourcing. ?A decisão de compra das grandes marcas deixou de ser regional. Ela é global?, diz Caio. Mais ainda, há um número cada vez menor de grandes conglomerados que controlam o mercado internacional de bebidas e alimentos. A Metalfrio pretende explorar o bom relacionamento que tem deste lado do Atlântico com gigantes como Coca-Cola, Pepsi, Nestlé, Unilever, Heiniken e Imbev para fechar contratos de fornecimento global, que valham também do outro lado do mar. O plano é bom, a operação de compra foi bem executada; agora é ver como funciona, na prática, a nova multinacional.