Antes mesmo de Aristóteles Onassis na história recente, o termo magnata já havia ganho sentido em outro sobrenome, só que norte-americano. Ao mesmo tempo pomposo e rochoso, dizia-se assim: Rockefeller. Simples assim, sem rodeios, ainda hoje. Passados tantas décadas e IPOs, é improvável que, ao se pronunciar a palavra Rockefeller, imediatamente não se remetam os pensamentos a uma dinastia ligada a poços de petróleo, bancos e uma infinidade de negócios capazes de criar do nada um país e alçálo à condição de potência. Os Rockefellers são verdadeiros mitos do capitalismo e, como tal, tudo o que diz respeito a eles ganha dimensão de lenda. Uma das mais saborosas é a de Kykuit, o casulo em que se abrigaram cinco gerações dos Rockefeller. Monumental mansão às margens do rio Hudson, no Estado de Nova York, Kykuit é quase um divisor de águas na história daquela que já foi a mais poderosa família do mundo. Antes dela, John D. Rockefeller era apenas uma espécie de novo-rico, um homem de maus modos e mau gosto que havia feito fortuna com a emergente indústria de petróleo. Depois que se instalou na mais impressionante propriedade de sua época, até os mais esnobes tiveram de engoli-lo. A partir de então, Kykuit transformou-se em um endereço ímpar, o encontro preciso entre opulência e conforto, o modelo a ser perseguido.

Cenário para encontros dos verdadeiros senhores do universo, a lenda imobiliária dos Rockefeller ganha agora status de protagonista. Sua própria epopéia está nas páginas do livro ?The House the Rockefellers Built? (A Casa que os Rockefellers Construíram), de Robert F. Dalzell e Lee Baldwin Dalzell, recém-lançado nos Estados Unidos. Se o sonho é ler um livro sobre a arquitetura da casa, já segue o aviso: sim, a mansão é neoclássica. Mas tem salvação. O que importa é o recheio. Magnífica por fora (não se esqueça, é uma casa de campo), ocupando 1.620 hectares, Kykuit guarda, dentro de seus 40 cômodos, obras de arte, utensílios e peças de decoração absurdas de uso cotidiano e festas como cristais, porcelana chinesa e um mobiliário do século 18 de fazer inveja a qualquer museu que tentasse retratar como viviam as pessoas em determinada época. Acabou de ser construída em 1913 ? e, felizmente, John Rockefeller Jr. tomou o projeto em suas mãos, fazendo ouvidos moucos às sugestões do pai. As gerações seguintes aperfeiçoaram o que já era perfeito.

Nelson Rockefeller ? quatro vezes governador de Nova York e vice-presidente dos EUA durante o governo de Gerald Ford ?, por exemplo, levou para os jardins da mansão uma das mais magníficas coleções de esculturas modernas do mundo, com obras de Pablo Picasso, Henry Moore e Alexander Calder, entre outros. No interior da casa, a arte moderna ? destaque para as tapeçarias de Picasso ? convive com obras clássicas.

Os autores mergulharam na história de cinco gerações da família Rockefeller para falar que, junto da fama de negociadores perspicazes e empreendedores inveterados, os Rockefeller são também ótimo modelo filantrópico. Ao mesmo tempo, Kykuit é exemplo do que se pode fazer com o dinheiro, comprar literalmente tudo o que se quiser, mas também modelo de desapego. Tanto é que os descendentes de John D. Rockefeller, em maio de 1994, tomaram a decisão extrema: deixaram a casa e abriram as portas da mansão para que a patuléia visse. Não foi pouco.

Mais do que isso, porém, as portas foram abertas para que o público sentisse o poderio e assim eternizasse quem foram aquelas pessoas que moraram ali, como dormiam, comiam e viviam. E mais. Em cada escolha de tecido de cortina ou de louça, ainda está boa parte daquele país e dos negócios dos últimos 90 anos.