17/04/2015 - 8:00
O executivo Philip White, presidente mundial da Sotheby’s International Realty (SIR), imobiliária especializada em imóveis de luxo, mora em uma casa geminada na cidade de Nova Jersey, na região metropolitana de Nova York, nos Estados Unidos. O local, a 15 minutos do aeroporto internacional de Newark, é estratégico para alguém que comanda uma empresa com presença em 60 países. Sua esposa, que trabalha em Nova York, utiliza o trem para se deslocar de casa ao escritório. É rápido, barato e eficiente. O estilo de vida pode não parecer o de um bilionário.
Mas não se engane. São essas facilidades e a qualidade de vida que, cada vez mais, atraem os compradores das casas mais valiosas do planeta. Mais do que o tamanho ou a suntuosidade, o que determina se um imóvel pode ser considerado de luxo, ou não, é a sua sofisticação. “Um quarto e sala pode ser considerado de luxo dependendo das suas características”, afirma White. “Nosso cliente, geralmente, tem mais de uma casa, para usos distintos.” As vendas realizadas pela SIR, marca que pertence à bicentenária casa de leilões Sotheby’s, fundada em 1744, somaram US$ 70 bilhões no ano passado.
Entre elas, estão uma casa no estilo townhouse, de vários andares, paredes de mármore e jardim privativo, em Hong Kong, negociada por US$ 58 milhões; um apartamento no East Side, em Manhattan, Nova York, com vista para o Central Park, vendido por US$ 56 milhões; e uma casa de praia “pé na areia”, de 2,7 mil metros quadrados, com praia privativa, nas Bahamas, que saiu por US$ 42 milhões. No portfólio da imobiliária, no entanto, existem imóveis mais baratos, de apenas algumas centenas de milhares de dólares, porém com requintes de casa da nobreza. “Um cliente nosso pode precisar de um apartamento para o filho estudar em outra cidade, por exemplo”, diz White. “A diferença é o tratamento que nós damos aos imóveis e aos clientes.”
No mês passado, a Sotheby’s anunciou uma parceria com a imobiliária paulista Bossa Nova, que passará a atuar como uma franquia da marca no Brasil. Apesar da crise no setor imobiliário nacional, a empresa está confiante que vai conquistar clientes por aqui. Na verdade, o mercado de luxo, em vários setores, é considerado à prova de crises, pela grande quantidade de recursos financeiros que dispõem os seus consumidores. No caso dos imóveis, há outro motivo. “Os compradores de imóveis de luxo não se importam em mudar para outro país”, afirma Luciano Amado, sócio-diretor da Bossa Nova. “Se não há boas oportunidades em um lugar, ele procura em outro.
Nosso mercado é global.” Para aproveitar essa característica da clientela, a Sotheby’s desenvolveu um software de cadastro de imóveis que conta com tradução simultânea. Um corretor no Brasil, por exemplo, pode escrever para um corretor na Rússia, em português, que o sistema, automaticamente, se encarrega de entregar a mensagem na língua adequada. Uma pesquisa feita pela consultoria Wealth-X, especializada em consumidores super-ricos, mostra que os mais abastados proprietários do mundo, com patrimônio superior a US$ 30 milhões, possuem, em média, 2,7 imóveis que, somados, valem US$ 13,7 milhões.
Metade deles possui propriedades em outros países. As cidades mais procuradas por essa clientela são, nessa ordem, Nova York, Londres e Hong Kong. A categoria dos bilionários é a que menos se apega aos locais de residência ou veraneio. Em média, eles vendem uma propriedade a cada três anos, ante 15 anos entre os que são apenas milionários. Segundo a consultoria, o que mais atrai os ricaços não é o luxo, mas sim boas condições de segurança, um sistema legal transparente e acesso a instituições de ensino de alta qualidade. Nesse ponto, pelo menos, o 1% de cima parece concordar com os 99% de baixo.