Quando, em meio à crise política deste ano, a mensagem de “impeachment já” surgiu na fachada do prédio triangular da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Avenida Paulista, ficou evidente o poder de influência grupo de empresários paulistas, que ajudou a sacramentar o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Esse status da Fiesp é consequência direta do trabalho realizado pelo empresário Mario Amato, que morreu no dia 26 de maio, aos 97 anos.

Presidente da entidade entre 1986 e 1992, Amato foi responsável por fortalecer o protagonismo político do empresariado na era da redemocratização. Para isso, assumiu posições polêmicas contra e a favor de figuras políticas de destaque na época. Conservador de carteirinha, foi dele a notória frase nas eleições de 1989 alertando para uma catástrofe em caso de vitória do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. “Se Lula ganhar a eleição, 800 mil empresários vão deixar o país”, disse. A citação de efeito estampou manchetes de jornais, diminuiu a força política de Lula e fez Amato ser referenciado pela direita e odiado pela esquerda.

A briga com o ex-sindicalista, porém, não evitou rusgas com figuras contrárias ao próprio petista. Vencedor naquelas eleições, Fernando Collor teve uma relação conturbada com Amato. O antigo comandante da Fiesp dizia que só votara no alagoano “por falta de alternativa.” Com os desmandos e erros de Collor, Amato ensaiou uma aproximação, inclusive, com Lula, o qual elogiou quando assumiu a presidência em 2002. Como justificativa, dizia que fazia parte do “Brasil Futebol Clube”.

O seu sucesso como empresário veio do trabalho precoce. Começou como funcionário da Companhia Oscar Rudge de Papéis aos 14 anos. Isso foi necessário porque seu pai, um alfaiate renomado, havia falido por conta da crise de 1929. Quase 20 anos depois, deixou a companhia para abrir o próprio negócio, que mais tarde se tornaria um conglomerado de empresas, entre elas a fabricante de bebidas Drury’s, vendida à Campari do Brasil em 2001.

Depois, passou a se dedicar com mais entusiasmo à administração do tradicional Clube Paulistano. O local, inclusive, era palco de suas corridas e caminhadas matinais, que continuaram mesmo após a idade chegar. O gosto pelo esporte, aliás, veio da juventude. Amato foi um boxeador meio-médio, categoria de 78 quilos, peso que combinava com a sua altura de 1,82 metro. Nos fundamentos do boxe, aprendeu a se defender, atacar e contra-atacar. E se o sucesso não veio dentro dos ringues, o esporte foi fundamental na sua luta a favor do empresariado.