21/01/2014 - 2:32
A confirmação de Ronaldo Iabrudi como novo presidente executivo do Grupo Pão de Açúcar encerra três anos bem agitados na vida de Enéas Pestana, o atual ocupante do cargo. Pestana comandou a empresa em um período de transformações históricas ? da troca de controladores à consolidação do grupo como o maior varejista do País, ele ainda teve forças para largar o cigarro.
O Pão de Açúcar que sai de suas mãos gerou uma receita líquida de R$ 57,730 bilhões no ano passado, segundo os resultados já divulgados pela companhia, sem considerar os empreendimentos imobiliários. A cifra é 2,5 vezes maior que os R$ 23,254 bilhões obtidos em 2009, o último ano fechado em que Enéas não comandava o Pão de Açúcar.
Enéas Pestana: entre brigas de sócios e aquisições, grupo mais do que dobrou de tamanho sob sua gestão
É claro que esse salto ocorreu pela entrada do Pão de Açúcar em outra área nos últimos anos ? o varejo de eletroeletrônicos e utilidades domésticas, com a compra do Ponto Frio e a associação com a Casas Bahia. As duas redes formam os pilares da Via Varejo, o braço do grupo para esse setor e para o comércio eletrônico.
Rentabilidade
Mas, como os homens de negócio sabem, coordenar uma fusão desse tamanho não é trivial. Um dos feitos de Pestana foi, justamente, o de consolidar o grupo como o maior varejista do País e diversificá-lo, sem comprometer a rentabilidade. Um exemplo é a margem de ebitda, um indicador muito apreciado pelos analistas, por indicar a capacidade de geração de caixa. No terceiro trimestre (últimos dados disponíveis), a margem consolidada ficou em 7,4%. No quarto trimestre de 2009, poucos meses antes de Enéas assumir a presidência, foi de 6,6%.
Pestana chegou à presidência do Pão de Açúcar em março de 2010, após ter sua indicação divulgada no fim de 2009. Sua escolha foi acompanhada de perto por dois pesos-pesados do mundo dos negócios brasileiro: o então controlador da rede, Abilio Diniz, e o consultor Cláudio Galeazzi, que, na época, presidia o Pão de Açúcar.
Galeazzi assumira a missão de reestruturar a companhia e encontrar um executivo capaz de tocá-la. Pestana estava no grupo desde 2003, como vice-presidente administrativo e financeiro. Antes de ser promovido, envolveu-se diretamente nas duas negociações mais importantes para o futuro do Pão de Açúcar: a compra do Ponto Frio e a fusão com a Casas Bahia.
Ao assumir os negócios, sua agenda era clara: completar a reestruturação do Pão de Açúcar e consolidá-lo em não-alimentos. Para o mercado, ele cumpriu sua missão. ?Nós pensamos que seu trabalho está, em grande parte, completo?, afirma o analista Richard Cathcart, em um relatório do Espírito Santo Investment Bank.
Missão completa
Segundo a instituição, entre 2010 e 2012, cerca de 70% dos investimentos do Pão de Açúcar foram para renovação, logística e distribuição. O relatório observa que essas ações ?reestruturaram o negócio e construíram uma sólida fundação para uma expansão mais agressiva?.
Mesmo que o faturamento tenha mais do que dobrado, o número de lojas do grupo não avançou tanto ? um sinal da preocupação de aumentar as vendas pelo critério ?mesmas lojas? (aquelas abertas há, pelo menos, 12 meses). Em setembro, o Pão de Açúcar operava 1.951 pontos entre todas as suas bandeiras. Em dezembro de 2009, eram 1.080.
Para conseguir esses resultados, Pestana precisou blindar o dia-a-dia do Pão de Açúcar de uma briga societária que se tornou a mais ruidosa do capitalismo brasileiro nos últimos tempos: a que envolveu a transferência do controle do grupo de Abilio Diniz, filho do fundador, para o francês Casino.
Agora, com a transição de controle concluída, Pestana entendeu que era hora de sair de cena. ?Este é o momento adequado para a conclusão de um ciclo importante na liderança do GPA?, afirmou, na nota oficial da empresa sobre sua saída. Com tanta pressão, é de admirar que não tenha voltado a fumar.