Se você perguntar por Odir Andrade Aguiar no mercado financeiro, ninguém saberá de quem se trata. Mas, todo mundo conhece Didi Aguiar, o criador do Didi Index, indicador de análise gráfica de médias móveis, retirado de um gráfico de barras. Ele é o convidado do novo episódio do MoneyPlay Podcast, programa voltado para o mundo das finanças, apresentado pelo educador financeiro Fabrício Duarte.

Engenheiro e administrador de empresas, Didi Aguiar é uma lenda no mercado, onde atua como trader há 41 anos. No programa, ele fala sobre como é ter um índice utilizado em vários países, conta as dificuldades de operar na bolsa no século passado e suas investidas no mundo real.

>>> Assista aqui o vídeo na íntegra.

No início da carreira, Didi foi vendedor de enciclopédia e carro, depois também trabalhou em alfândega. Mas foi atuando como trader que ele se encontrou. A fama veio com a criação do Didi Index, hoje internacionalmente conhecido. “Sou um brasileiro que tem um gráfico que roda pelo mundo”, conta.

Quando contratou um advogado para conseguir um visto especial para morar nos Estados Unidos, Aguiar descobriu que o Didi Index é utilizado na Alemanha, Japão, Rússia, China, Turquia e Estados Unidos. Ele lembra que outros indicadores foram criados, mas não são utilizados. “É como uma língua: se não for usada, cai em esquecimento. Precisa funcionar ou as pessoas não vão usar”

Ele explica que o Didi Index é um gráfico de médias móveis que ele “travestiu de Didi”. “Normalizei uma média móvel intermediária e coloquei duas outras médias rolando em cima. Peguei o resumo das médias e coloquei ao lado dos indicadores.”

+É preciso separar bitcoin das outras 10 mil criptomoedas: 99% delas não valem nada

+A gente busca os melhores investimentos em qualquer lugar do mundo

+Não é difícil juntar R$ 1 milhão, as pessoas que colocam travas na cabeça

+A maioria de quem opera opções tem lucro. A maioria dos day traders tem prejuízo

Desbravador

Quando Didi começou a atuar no mercado, ainda não havia análise de gráficos ou literatura nacional sobre o tema. Aprendi tudo no tapa”, relembra. “Junto a outros desbravadores, inventamos esse negócio.”

Didi conta que ganhou um computador e comprou um software no exterior. Ainda assim, precisava lançar as cotações das ações na mão para poder ver o gráfico na hora do pregão. Como agora ele mora nos Estados Unidos, ainda hoje, os americanos que veem seus gráficos ficam impressionados com os detalhes. “Eles são filhos da análise técnica clássica, a minha é mais objetiva”, compara. ”Prefiro a opinião de um gráfico que é claro, reto e sabe de tudo.”

Ao todo, Didi passou por 17 crises diferentes. “Não é fácil sobreviver, mas nunca vi uma tão violenta quanto essa última”, conta. “Tivemos dois circuit breaker (mecanismo de segurança da bolsa que paralisa as negociações por um período quando seu principal índice cai mais do que 10%) em um único dia em várias ocasiões. Um grande aprendizado.”

“Em toda crise muita empresa vai para o pepino”, afirma. “A pessoa se lasca quando não aceita a perda e continua achando que vai voltar e recuperar. Ela resolve operar dobrado para se recuperar, então apanha de novo, só que quintuplica a perda e morre.”

Outras frentes

O engenheiro garante que, ainda hoje, o “dialeto” que criou de análise técnica funciona. Mas, hoje, ele opera apenas quando vai sair de um papel e entrar em outro ou quando está olhando o mercado e aparece algo interessante, já que também atua em outras frentes fora do mercado. 

Entre seus negócios, está um delivery de marijuana nos Estados Unidos, prática legalizada em alguns estados. “Sou avião na Califórnia, entrego maconha”, explica. Ainda no mercado americano, Didi montou uma plataforma que “fura” legalmente os leilões de automóveis do país. “Vendo carros 20%, 30% mais baratos”, diz. 

Neste tipo de leilão, pessoas físicas não podem participar, apenas dealers (tipo de intermediário, em inglês) podem comprar com desconto. “Na minha plataforma, o cliente entra, vê os carros disponíveis, escolhe qual quer e eu dou o lance por ele. Fiz um atalho para as pessoas comprarem mais barato.”

O negócio deu tão certo que já está conquistando compradores de outros países, como República Dominicana, Arábia Saudita e Panamá. “Como o mercado interno é muito grande, ninguém olhou para esse nicho”, justifica. “Percebi o vácuo e vou esvaziar os estoques americanos.”

A expectativa de Didi em relação ao negócio é alta. “Esse marketplace de carros vai ser a minha atividade mais vultosa em termos de dinheiro”, diz. Ele afirma que a empresa já captou US$ 15 milhões em uma  primeira rodada e espera captar mais US$ 300 milhões na segunda.

No Brasil, Didi acaba de montar um fundo de investimentos. Sua missão será indicar qual papel comprar e a que preço e quando sair, sempre operando na “agulhada” (junção de três médias móveis – de três, oito e 20 dias – com a linha da média de oito períodos) diária. “Tudo isso leva uma hora por dia e a parte burocrática fica com o outro sócio.”

Por aqui, ele também investe em terras e condomínios no Nordeste. Ele compra grandes extensões de terras em lugares onde ainda nem há estrada, pois são mais baratas. “Na hora que sobe o valor do metro quadrado, você ganha uma fortuna.”

Foi assim em Itacaré, que valorizou 20 vezes em nove anos. Em São Miguel do Gostoso e Sagi, no Rio Grande do Norte, comprou 1,5 km e 1,3 km de terrenos na praia, respectivamente. Em Sagi, ele está montando um condomínio e, agora, vai vender o que sobrou apenas para pessoas do mercado financeiro. “Vai ter até uma mesa de operações com internet boa.”

Liberdade

A ideia de operar na bolsa morando na praia é algo que Didi pratica há anos. Mas, quando ainda não era possível, ele ganhava dinheiro na bolsa e se mudava para algum lugar no litoral brasileiro, onde ficava até acabar o dinheiro. “Na época do “Boi Gordo”, eu operava no orelhão em frente à padaria de Búzios”, lembra. 

Para o trader, ser rico não é o dinheiro que se acumula, mas o tempo que a pessoa tem para si própria. “Você não precisa abaixar a cabeça para ninguém, dizer sim quando quer dizer não”, explica.  “E o legal do trade é a liberdade de poder fazer de qualquer lugar.”

Ele acredita que o mercado é fabuloso, pois dá a oportunidade de começar a aprender aos 20 anos e aos 25 anos já estar pronto para ganhar dinheiro. “Esse moleque vai poder viver dos 25 aos 90 viajando pra onde ele quiser, a hora que quiser.”

Até o fim do ano, Didi fará um tour pelas Américas. Passará pelo Panamá, EUA, Brasil e Costa Rica. “Para tocar a bolsa, preciso ficar no continente, por conta do fuso horário. Mas tem uma porção de países para morar”, aponta.

Essa liberdade de atuar em qualquer lugar deu a Didi a opção de só fazer o que tem vontade. “Se você tem dinheiro, você vai fazer o que os outros querem? Por que? Você é louco?”, questiona. “Se você tem dinheiro é livre até para queimar ele todo e virar andarilho.”

Confira aqui todos os episódios do programa.