Em duas direções parte a nova temporada de incentivos do governo à economia brasileira. Uma delas, há tempos esperada – e, certamente, a mais eficaz –, é a da redução tributária, com medidas como a desoneração da folha, queda do IPI e estímulos à exportação que, juntas, deverão redundar numa renúncia fiscal da ordem de R$ 35 bilhões neste ano, segundo cálculos da própria Receita. Na outra ponta estão movimentos de caráter protecionista, como taxação de vinhos, cotas para têxteis chineses e carros mexicanos, além de exigências extremas de índices de nacionalização. Nesse terreno de decisões o País pode enfrentar uma trajetória mais acidentada, com retrocessos de toda ordem. A ideia de criar zonas de conforto para a indústria nacional, abrandando o clima de competitividade que provoca investimentos em melhoria, pode levar a uma acomodação perigosa do parque interno. 

46.jpg

 

A primeira arma para se obter eficiência empresarial é a concorrência. Ao inibir, com a sua recaída protecionista, o acesso a produtos de qualidade de competidores internacionais, as autoridades sinalizam na direção contrária e geram um ambiente viciado. O Brasil já superou essa fase e pagou um alto preço por abraçar a alternativa do protecionismo lá atrás. Ainda estão na memória as consequências negativas da reserva de informática, que atrasou em anos o desenvolvimento do setor, e o regime fechado da indústria automobilística, que limitava a apenas quatro montadoras a produção e comercialização de automóveis em território nacional. 

 

Não há vantagem na criação de barreiras comerciais dessa natureza. E elas ainda podem provocar contrapartidas na mesma moeda. O Brasil conta hoje com portentos industriais – verdadeiras multinacionais como Embraer, Vale do Rio Doce e Petrobras, para ficar nos exemplos mais notórios – graças à exposição que essas companhias tiveram ao avanço de seus rivais mais diretos, disputando de igual para igual mercados aqui e lá fora. O protecionismo é um mal em si, completamente em descompasso com o mundo moderno, e oferece limites de crescimento principalmente para aqueles que o adotam como política comercial.