22/06/2005 - 7:00
Uma coleção de 37 imagens em preto e branco do conceituado fotógrafo francês Elliott Erwitt, um dos integrantes da lendária agência Magnum, desembarcou em maio passado em São Paulo para a exposição de inauguração da Galeria Leica. O espaço é resultado de uma parceria entre o curador Cliff Li, proprietário do local, e a mais famosa fabricante de câmeras fotográficas do mundo, a alemã Leica. Há somente outras seis galerias patrocinadas pela empresa, todas em grandes cidades como Nova York, Frankfurt e Tóquio. Elas podem receber até 15 exposições montadas e alugadas pela Magnum pagando apenas o custo do transporte e infra-estrutura das obras ? o aluguel, que custa entre 10 mil e 20 mil euros, fica por conta do patrocínio da Leica. A inauguração da galeria em São Paulo, além de criar um espaço para peças que dificilmente chegariam por aqui, reflete um fenômeno recente: a evolução do mercado fotográfico brasileiro, hoje marcada pelo aumento do valor das imagens e o crescimento do número de colecionadores e mostras no País. ?Há, no Brasil, o início de um processo de crescimento gradual e constante da fotografia?, diz Cliff Li. ?Hoje, o número de visitantes das mostras aumentou e as pessoas estão mais bem informadas, o que contribui para o amadurecimento do setor.?
O desenvolvimento do mercado local, porém, revela um movimento global de valorização da fotografia como obra de arte. De acordo com a empresa francesa de leilões Artprice.com, nos últimos quatro anos o preço de fotos de artistas contemporâneos (nascidos a partir de 1940) valorizou 80,4%. No mercado de pinturas, a valorização no mesmo período foi de 55,9% ? como termo de comparação, o Standard Poor’s (Índice da Bolsa de Valores de Nova York) teve queda de 8%. Em países com tradição na comercialização de fotos, como os Estados Unidos e a França, uma imagem alcança valores astronômicos, como ocorreu com a primeira de uma série de reproduções de ?As Mãos de Georgia O’Keeffe?, feita por Alfred Stieglitz e vendida em leilão por pouco mais de US$ 700 mil.
Os artistas brasileiros ainda sofrem para encontrar o preço justo para suas imagens e o número de transações ainda é tímido frente à pujança do exterior. Segundo Cliff Li, o fotógrafo nacional mais valorizado atualmente é o baiano Mário Cravo Neto, cujas imagens podem alcançar até US$ 30 mil. O cenário, no entanto, começa a mudar: as grandes galerias do Rio de Janeiro e São Paulo já trabalham com fotografias em seu acervo e os principais museus agora abrem as portas para a produção fotográfica. Na Pinacoteca do Estado de São Paulo, o curador Diógenes Moura dedica-se a manter um calendário intenso com mostras que incluam fotógrafos novatos. ?A formação peculiar da população brasileira resulta na criação de imagens desafiadoras, diferentes do que se faz em qualquer lugar do mundo?, avalia. ?Agora falta traduzir a qualidade das imagens em cifras justas.? ![]()
Mário Cravo Neto
O baiano dedica-se hoje a temas relacionados à religiosidade do candomblé. Uma foto do brasileiro, um dos mais bem cotados em outros países, pode alcançar US$ 30 mil
Alfred Stieglitz
O americano, já falecido, está entre os mais cobiçados do mundo. Em leilão, uma imagem atingiu US$ 700 mil