Existem duas maneiras opostas de se investir em produtos de luxo. A mais conhecida é freqüentar as lojas de grife da rua Oscar Freire, em São Paulo, da Avenue Montaigne, em Paris, ou da New Bond Street, em Londres ? isso, sem contar os endereços badalados de Nova York e Milão. A segunda opção é ir às compras nas pouco charmosas e cinzentas Wall Street e Paternoster Square, onde ficam as Bolsas de Nova York e de Londres. Nesses locais, em vez de gastar US$ 60 mil num relógio de pulso, como o cobiçado Patek Philippe da foto, você pode comprar ações muito luxuosas.

Com a riqueza mundial crescendo a níveis nada modestos, os grandes grupos que administram a indústria dos bens exclusivos estão cada vez mais capitalizados. Nos Estados Unidos e na Europa já é possível investir em fundos de índices compostos em sua maior parte por ações de empresas de luxo. E, mesmo estando no Brasil, você pode se tornar ?sócio? deles.

Foram os bons resultados obtidos pelas empresas do segmento do luxo ao longo de 2006 que estimularam a criação dos índices. Só em 2007, foram criados seis. O primeiro da lista é o Deutsche Börse World Luxury Index, lançado em fevereiro pelo banco francês BNP Paribas em parceria com a Bolsa de Frankfurt, e que possui entre seus papéis empresas como Hermès e Sotheby?s. Logo foi a vez de o banco de investimentos Merrill Lynch fazer sua aposta. Montou o ML LifeStyle Index com 50 marcas em sua composição, que variam das exclusivas Bang & Olufsen e LVMH a empresas massificadas, como Avon e Nike. Em agosto, estreou a Robb Report, célebre revista norte-americana de luxo, ao criar seu próprio índice em Wall Street, sob a gestão da Claymore Securities, o Robb Report Global Luxury Index. Os ingleses da Dominion Fund Management também entraram na jogada, mas de outra maneira. Criaram um fundo mútuo, cujo nome não poderia ser mais sugestivo: Chic, que investe em ações desde BMW até Starbucks.

O crescente poderio dos endinheirados nos mercados emergentes explica o fenômeno. ?O recente crescimento dessas grifes está fortemente atrelado ao crescimento de mercados como o Brasil, México e, sobretudo, China?, explica Paulo Veiga, diretor de análises da Mercato Investimentos. De acordo com o World Wealth Report de 2007, o relatório anual sobre a riqueza mundial feito pelo Merrill Lynch e pela consultoria Cap Gemini, 9,5 milhões de pessoas possuem hoje investimentos de mais de US$ 1 milhão. De 2005 para cá, o número de milionários cresceu 8,3%, e a quantidade de dinheiro investido por eles soma ?apenas? US$ 37,2 trilhões. Com tantas cifras no banco e esbanjando apetite de consumo, essa parcela da população fez o mercado de luxo girar e as ações das empresas voarem alto.

O grupo LVMH, dono da Louis Vuitton, teve seus papéis valorizados em 296% entre 2002 e 2007 (leia gráfico). Já quem investiu nos ativos do conglomerado Richemont, que tem entre suas marcas a Cartier e a Mont-Blanc, teve um lucro de 426%. No entanto, os índices, que reúnem diversas empresas com resultados diferentes, não apresentaram o mesmo fôlego. Desde que foi criado, em janeiro deste ano, o Deutsche Börse World Luxury Index teve valorização de apenas 1,7%. O da Robb Report rendeu tímido 1,1% desde agosto, enquanto o fundo Chic teve um resultado um pouco mais favorável. Desde seu lançamento, em junho, acumulou 5,5% de alta.

Para os brasileiros interessados em investir, seja nos fundos de índices, seja nas próprias ações, a dica é ter cautela. Os tempos andam bicudos lá fora, com a alta do petróleo e a crise do crédito imobiliário nos Estados Unidos. ?Vivemos um momento em que as pessoas têm dinheiro para gastar com aquilo que não é essencial, como o luxo. Mas na hora da crise são justamente essas empresas que produzem o supérfluo que são as primeiras a serem atingidas?, explica Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management.