02/09/2016 - 16:00
A febre do aplicativo americano Uber, que chegou ao Brasil há dois anos, está invadindo o mercado de luxo. A facilidade de se contratar serviços por meio do celular tem inspirado e encorajado jovens a empreender no mundo virtual. É o caso do empresário Thiago Viana, que, em parceria com primo Igor Signorelli e o francês Alexis Rollemberg, criou o BluClub, uma espécie de Uber de luxo, ainda em fase de testes. Os empresários já investiram R$ 5 milhões no desenvolvimento do negócio, que se diferencia por oferecer carros blindados e motoristas treinados em direção defensiva. A operação vai começar em São Paulo, a partir de outubro. Mas Viana, cuja família é dona da rede de concessionárias Itororó, da GM, já tem planos de expansão. “Vamos lançar o serviço com, no mínimo, 50 carros, mas queremos atingir 500 veículos em operação até o final de 2017”. O modelo de pagamento é diferente do Uber, no entanto. O cliente poderá escolher um dos quatro planos: 18 km por R$ 90; 40 km por R$ 180; 80 km por R$ 340; e 300 km por R$ 1,2 mil, e usá-los conforme sua necessidade. “Paralelamente, estamos trabalhando com o BluSchool, que levará crianças para a escola”, diz o empreendedor.
Um estudo realizado anualmente pela Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) mostra que, em 2015, o segmento de aplicativos faturou US$ 5,33 bilhões, um crescimento de 27% em relação ao ano anterior. De olho em uma fatia desse montante, o setor de beleza também embarcou nessa onda da mobilidade. O empresário Tallis Gomes desenvolveu o Singu, aplicativo que permite a contratação de profissionais como manicure e massagista, usando apenas os dedos e um celular. “Uma das vantagens é o pagamento online, feito exclusivamente com cartão de crédito, o que elimina o receio da variação de preços, muito comum no setor”, diz Gomes, que também é fundador do aplicativo Easy Taxi. O aplicativo fica com 30% de comissão. Em salões convencionais pode chegar a 70%. O empresário investiu R$ 1 milhão no negócio, que opera, por enquanto, apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Mas a ideia é chegar às principais capitais do País até o final do ano”, afirma.
Esse mesmo conceito de ajudar as pessoas a encontrarem prestadores de serviços, sobretudo sofisticados, inspirou a criação do GetNinjas, um completo classificado virtual com mais de 200 mil profissionais cadastrados de inúmeros segmentos, como decorador, paisagista, arquiteto, entre outros. “Com menos de R$ 2 mil, lancei um protótipo em outubro de 2010. Em setembro de 2011, a ideia recebeu mais de R$ 1 milhão de investimento de dois grandes fundos de capital de risco, a brasileira Monashees Capital e a argentina Kaszek Ventures”, diz Eduardo L’Hotellier, presidente da companhia e criador do aplicativo. Hoje, o negócio tem mais um investidor, a americana Tiger Global, e opera em mais de quatro mil cidades do Brasil. Os profissionais chegam a atender cerca de 150 mil solicitações por mês. A movimentação financeira do negócio, em 2015, atingiu os R$ 120 milhões. Para este ano, a expectativa é chegar aos R$ 250 milhões. Eduardo, ao contrário dos outros aplicativos, não desconta porcentagem do anunciante. “Oferecemos planos para os profissionais anunciarem que variam entre R$ 138 e R$ 1,4 mil, por trimestre, de acordo com o serviço prestado”, afirma.
A revolução digital está facilitando até a vida das modelos. Essa profissão, cercada de glamour, na verdade esconde um trabalho cansativo e burocrático: os castings. Modelos, muitas vezes, precisam se deslocar para diversas produtoras em busca de trabalho, com grandes chances de não conseguir o job, como se diz no jargão do setor. É para evitar esse esforço inútil que surgiu o Job For Model. A atriz e modelo paulista Nina Dumont, 32 anos, foi uma das primeiras profissionais a se cadastrar no aplicativo. “Geralmente, a escolha para um trabalho é feita apenas por foto, tornando o processo muito mais rápido para nós”, diz Dumont. Outro ponto positivo é o desconto menor do cachê. A porcentagem abatida pelo aplicativo fica em torno de 15%, contra 20%, mais a nota fiscal, descontados em grandes agências. Mas o profissionalismo é o mesmo. “Existe uma curadoria que certifica que os modelos são profissionais e experientes”, afirma o CEO Filipi Russo, que divide a sociedade com Juliane Rudolph e Roberto Barros. Eles investiram R$ 15 mil na criação da empresa, em 2015, e, atualmente, já têm onze investidores-anjo. “Para o fim desse ano, estamos planejando chegar a R$ 300 mil em movimentação por mês e, no fim de 2018, esperamos chegar a R$ 1,5 milhão de movimentação mensal”.
É preciso ter cuidado, no entanto, com a qualidade dos serviços prestados. “O nível dos profissionais em alguns aplicativos oscila bastante, o que acaba prejudicando a imagem dessas empresas”, diz Silvio Passarelli, diretor do Programa de Gestão do Luxo da Faap. “O empresário tem de conhecer o profissional que oferece e experimentar seus serviços”. Afinal, a comodidade é importante, mas o bom atendimento é fundamental.