19/04/2013 - 21:00
Tapirus terrestris é como a maioria dos investidores classifica os gestores de fundos quando observa um resultado ruim para seu dinheiro. O mau humor é especialmente concentrado quando esse desempenho negativo ocorre em tempos de mercado em alta. “Será que essa anta não é capaz de nem ao menos render o mesmo que o Índice Bovespa?”, pensa, irritado, o cotista do fundo, usando a denominação popular do Tapirus. Nessas horas, é preciso resistir bravamente à tentação de demitir o gestor e contratar um macaco, mais especificamente um chimpanzé (simia troglodytes). Primata com a estrutura genética mais parecida com a do ser humano, o chimpanzé é conhecido por sua sociabilidade, por sua destreza manual e pela capacidade de aprender a realizar tarefas simples.
No entanto, um estudo do professor Andrew Clare, da universidade Cass Business School, de Londres, divulgado na segunda-feira 15, mostra que nossos primos próximos também podem ser eficientes em tarefas mais complexas, como a de gerir investimentos. Clare e sua equipe realizaram uma pesquisa que comparou o desempenho de carteiras de ações escolhidas aleatoriamente com os índices de mercado. O resultado: em todos os casos, as carteiras bateram os índices. A imagem clássica é a de comprar as ações que um chimpanzé indicar em uma página de jornal que traga as cotações da bolsa. Obviamente incapaz de ler, o macaco faria escolhas 100% aleatórias, sem as restrições racionais do gestor.
O experimento de Clare consistiu em comparar o desempenho de dez milhões de carteiras de ações americanas entre 1968 e 2011. Para fazer isso, o professor não recrutou um exército de primatas do zoológico mais próximo e os submeteu a incansáveis sessões de escolha. “Usamos um algoritmo de computador para gerar as carteiras, estatisticamente aleatórias”, diz ele. A pesquisa foi simples. Os macacos, isto é, os computadores, tinham de montar uma carteira com mil ações. Cada uma teria 0,1% de participação nesse portfólio, e não havia limite para o número de vezes em que uma ação pudesse ser escolhida. A intenção de Clare era estudar o efeito da incerteza sobre os investimentos, mas ele admite que o resultado o surpreendeu.
Na média, um investidor que tivesse colocado US$ 100 no mercado acionário americano no início de 1968 teria pouco menos de US$ 5.000 no fim de 2011. No entanto, metade das carteiras “simiescas” rendeu US$ 8.700, 25% renderam US$ 9.100 e 10% delas obtiveram um ganho superior a US$ 9.500. “Praticamente todos os macacos obtiveram um resultado melhor do que o do índice ponderado do mercado”, diz Clare. Calma. Não largue a revista e corra para o zoológico levando um cheque. A intenção da pesquisa de Clare não foi confirmar que os macacos são mais inteligentes que os gestores de fundos, mas demonstrar como é ruim a ideia de investir em um fundo que simplesmente reproduz um índice de mercado com uma carteira ponderada, como o Índice Bovespa.
Andrew Clare, da Cass Business School: ”o resultado nos surpreendeu.
Em 100% dos casos, os macacos bateram os índices”
Em índices desse tipo, algumas ações têm participação maior do que outras. Por exemplo, papéis como Petrobras e Vale são muito mais importantes do que ações da BR Properties, que será incluída na próxima carteira teórica do mercado. A pesquisa de Clare mostrou que, embora tenha superado os índices, a maioria das carteiras aleatórias perdeu daquelas que têm gestão ativa e empregavam metodologias de redução eficiente do risco. Uma parte da explicação está na maldade da estatística. “Ao se comparar um grande número de carteiras, os resultados tendem a convergir para a média”, diz William Eid Júnior, professor de finanças da FGV de São Paulo. Essa característica numérica ressalta o trabalho de um grande número de gestores medíocres, e empana os bons serviços dos especialistas no assunto.
Também há a distorção provocada pela cobrança de taxas de administração, pelos custos de registro, corretagem e de auditoria. Outra parte da explicação é que a maioria dos gestores tenta reduzir os riscos. O ideal para um profissional que administra um fundo que segue um índice é cair menos do que o indicador em tempos de baixa. Para conseguir isso, o gestor tende a optar por estratégias conservadoras, que reduzem as perdas em potencial, mas que têm a desvantagem de apresentar lucros abaixo da média do mercado em momentos de valorização. “Ao defender-se das perdas, o gestor também acaba abrindo mão dos ganhos, o que piora o desempenho no longo prazo”, diz Eid. Como ganhar, portanto? “Quem investe em um fundo de ações deve investir, antes de mais nada, na competência da equipe de gestão”, diz o consultor-financeiro independente paulista Fernando Costa.
Suas recomendações para escolher um fundo de ações ativo são duas. A primeira é comparar o desempenho do fundo específico com outros fundos da categoria e com os principais índices de mercado por um período de, no mínimo, três anos, dedicando especial atenção aos momentos em que a bolsa cai. “O diferencial de um bom gestor está nos momentos de crise”, diz Costa. “Com o mercado em alta, todo mundo é genial.” A segunda é verificar a consistência do patrimônio desse fundo nos mesmos três anos. Se a carteira mostrar grandes saques e grandes aplicações sucessivas, ela tenderá a ser mais arriscada, pois o gestor poderá ser obrigado a vender ações que ainda têm espaço para subir, apenas para honrar os saques dos clientes. Traduzindo: os macacos podem ser melhores que um índice, mas não são páreo para um bom gestor.