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BOBBY KOTICK: tudo começou com a compra de uma empresa praticamente quebrada

MESMO QUEM NÃO TEM INTERESSE EM videogames já ouviu falar, ainda que sem saber ao certo do que se trata, do jogo Guitar Hero. Revolucionário, ele libertou o jogador do joystick e, de quebra, atraiu o público adulto, que nem sempre consome videogames por conta dos controles complicados. Desde seu lançamento, em 2005, já foram vendidas 25 milhões de cópias do Guitar Hero, que renderam US$ 2 bilhões à Activision, detentora dos direitos do jogo e que é hoje a líder mundial desse mercado. Por trás dela, zelando por seu sucesso, está um inusitado investidor que acredita que videogames são “uma perda de tempo” e que disputou sua última partida de jogos eletrônicos na década de 1970, quando estava no colegial: Robert Kotick. Bobby, como é conhecido, tem o capitalismo nas veias. Quando adolescente, em vez de frequentar festas, preferia alugar galpões da moda em Nova York, como o Studio 54, e promover as suas próprias – cobrando ingresso, é claro. Além disso, criava fontes de receitas adicionais, como a venda de sorvetes aos adolescentes que iam a suas festas. Na faculdade, Bobby se uniu a um colega de dormitório para desenvolver sistemas operacionais para computadores. O amigo ficaria responsável pelo desenvolvimento do software e Bobby se encarregaria de vendê-lo. Não deu certo, mas o faro estava lá: pouco tempo depois Bill Gates lançou o seu Windows e o resto é história.

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Em 1991, Bobby estava mais preparado. Após estudar a fundo a concorrência, decidiu investir num quase falido birô de programação de jogos, a Activision. Criada em 1979 por ex-programadores da Atari, a Activision foi a pioneira no desenvolvimento de jogos para hardwares fabricados por terceiros. Mas, em 1991, estava à beira do colapso, com uma dívida de US$ 30 milhões, quinze vezes mais que o valor de todos seus ativos. Bobby colocou US$ 400 mil na empresa, apelou para o Chapter Eleven (a lei de concordata dos EUA) e tornou-se dono de 9% da Activision. A seguir, levantou US$ 5 milhões com amigos e mudou a sede da companhia do Vale do Silício para Los Angeles. Dos 150 funcionários, manteve apenas oito. Em 1992, levantou US$ 40 milhões na Bolsa de Nova York. Internamente, Bobby fazia uma espécie de pregação, dizendo a seus programadores que a Activision não mergulharia em uma “cultura de Estrela da Morte”, transformando seus produtos em commodities. A alusão ao já cult universo de Guerra nas Estrelas funcionou, e os jogos de sucesso começaram a aparecer.

Externamente, Bobby absorvia um número cada vez maior de pequenos birôs de programação de jogos. A cada um deles, oferecia a possibilidade de manter seus nomes, liberdade para desenvolver o que quisessem e dados de mercado que as novas subsidiárias poderiam ou não usar para direcionar seu trabalho. Foi exatamente por meio de uma dessas aquisições, a da RedOctane, que Bobby colocou as mãos pela primeira vez em uma guitarra do Guitar Hero. Pelo controle da empresa, e do jogo, foi paga a bagatela de US$ 100 milhões – soma minúscula perto da receita gerada pelo programa, que ainda vende como água. Com um aumento de 15% nas vendas de jogos e softwares nos EUA em 2008, segundo dados da consultoria NPD, e uma perspectiva positiva para este ano, na contramão da crise, a Activision está no caminho certo com o Guitar Hero. A fusão com a francesa Vivendi, completada em julho do ano passado, também garantiu a Bobby acesso ao jogo mais lucrativo da história, o World of Warcraft. Sozinha, essa plataforma online rende US$ 1 bilhão anualmente em receita, o que abre um novo caminho para o investidor que vive de jogos, ainda que ignore a diversão proporcionada por seus próprios produtos.