Temos que entender que a preservação do Planeta Terra é uma responsabilidade coletiva, de todos os países, seus governos, e seus habitantes. Como consequência da agressão ao meio ambiente nos últimos séculos, desastres climáticos ao redor do mundo vêm ocorrendo com maior intensidade e frequência, causando milhões de mortes ao redor do mundo, enormes prejuízos materiais às cidades, à agricultura.

Seguem-se em recorrência crescente inúmeras inundações, secas, incêndios, doenças respiratórias e prejuízos ecológicos incalculáveis. Não creio estar exagerando, e acredito que seja impossível a qualquer cidadão não perceber que já estamos vivendo uma gravíssima crise ambiental.

Para o enfrentamento da Emergência Climática Global, os países signatários do Acordo de Paris vêm adotando compromissos ambiciosos de redução de suas emissões de gases de efeito estufa, especialmente nas atividades relacionadas à produção industrial, à geração de energia e aos meios de transporte, sejam eles, terrestre, aéreo, fluvial ou marítimo.

O objetivo global de zerar as emissões líquidas de CO2 até 2050 tem motivado a adoção políticas públicas por parte de instituições multilaterais e de governos das principais economias mundiais, especialmente aqueles integrantes do G20, as 20 maiores economias do mundo. O objetivo mundial é de incentivar a adoção de rotas tecnológicas sustentáveis e de baixa intensidade de carbono, com base na geração de energias renováveis e na substituição de combustíveis fósseis nos motores a combustão através da combinação de novas tecnologias de eletrificação e biocombustíveis de baixo carbono. O atual momento é de tomada de decisões críticas para que este objetivo de carbono zero em 2050 seja plenamente atingido.

Neste contexto, o Brasil, que tinha também até há pouco como meta alcançar a neutralidade climática até 2050, anunciou de forma voluntária durante a COP29, realizada na cidade de Baku, em novembro passado, que a sua nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) seria o compromisso de redução das emissões líquidas de GEE de 59% a 67% até 2035, tomando como base o ano de 2005.

O Brasil destaca-se como um forte candidato a ser um dos principais protagonistas mundiais em energia renovável

O Brasil destaca-se desta forma como um forte candidato a ser um dos principais protagonistas mundiais neste objetivo, porque já dispõe hoje em dia de matrizes energética e elétrica, predominantemente limpas, e compostas, de um lado, por 90% de fontes renováveis de geração de energia e, de outro, de uma utilização de mais de 50% de biocombustíveis no transporte terrestre. Enquanto no Brasil o setor de transportes representa cerca de 10% das emissões de CO2 na atmosfera, a média observada para o conjunto de países com maiores emissões totais (Estados Unidos, China, Índia e União Europeia) é de 20%, ou seja, duas vezes maior.

Cabe destacar que, no caso brasileiro, metade das emissões de gases de efeito estufa vem do uso da terra, mudanças no uso da terra e de florestas, enquanto a agricultura responde por cerca de 25%. Juntas, essas duas atividades são responsáveis por mais de três vezes as emissões combinadas da indústria de transformação, transporte e geração de energia, que representam por volta de 20% das emissões totais no País. Este é um padrão que diferencia o Brasil do contexto global, e que se apresenta como um desafio superável desde que adotemos com vigor e disciplina as políticas públicas já existentes, mas nem sempre observadas.

(Divulgação)

Na transição energética que o mundo atravessa não há apenas uma única solução, mas sim uma combinação de múltiplas soluções, que por sua vez conjuntamente aumentam a amplitude e a velocidade da transição de economias de alto carbono para economias de baixo carbono. A combinação destes fatores naturais pode permitir ao Brasil não apenas alcançar o patamar de zero emissões líquidas na próxima década, como também se tornar um exportador de biocombustíveis sustentáveis, de matérias-primas de baixo carbono, como metais verdes, metanol, amônia, além de serviços de sequestro de carbono, entre outros.

Nos últimos anos, o Brasil tem ampliado ainda mais sua matriz de energias renováveis. Cerca de 90% da energia adicional instalada no País em 2024 está sendo gerada pelas fontes eólica e solar, cada dia mais eficientes e competitivas. De uma matriz elétrica geral de 240,7GW de capacidade instalada em fins de 2024, a energia solar fotovoltaica já representa 20,5%, ou 50GW, e a energia eólica 13,5%, ou cerca de 32,6GW. O setor elétrico segue evoluindo progressivamente seja na etapa de geração, seja nas etapas de transmissão e distribuição, com destaque para o crescimento exponencial do mercado livre, seja pela expectativa de redução de subsídios, seja pela aprovação da nova legislação implementando o modelo de “sinal locacional”, o qual promoverá logo mais uma maior racionalidade nos investimentos e na localização de novas usinas de energias renováveis próximas aos centros de carga, evitando novos e vultosos investimentos em transmissão a longas distâncias.

No lado da demanda, podemos prever para as próximas décadas um crescimento exponencial do consumo de energia elétrica, especialmente devido ao segmento de Tecnologia de Informação e de Inteligência Artificial. Os data centers vêm atraindo para o Brasil importantes investidores estrangeiros, incluindo fundos globais. O Brasil, que tem disponibilidade de energia para operar grandes centros de dados, entrou na mira desse capital, em operações bilionárias que já começam a sair do papel. O desafio será a geração de energia renovável e firme para proporcionar segurança e competitividade energética a estes empreendimentos eletrointensivos. A tecnologia de baterias estáticas de grande porte chega em boa hora.

Desde a década de 70, o Brasil vem utilizando a mistura de etanol de cana-de-açúcar na gasolina automotiva.

Atualmente, com a adoção de novas tecnologias como a motorização Híbrida FlexFuel, combinando a eletrificação com motores a combustão de biocombustíveis, parece ser a combinação ideal para países em desenvolvimento com grandes frotas automotivas, grande território nacional e ainda com dependência de combustíveis fósseis na geração de energia e na distribuição de combustíveis para todas as regiões do País.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol combustível, produzindo atualmente 35 bilhões de litros por ano, seja para abastecer seu crescente mercado doméstico, seja para exportar etanol para outros países. Toda a gasolina consumida no Brasil é misturada a 27% de etanol anidro, e os veículos com tecnologia flexfuel podem ainda combinar qualquer outro grau de mistura até 100% etanol.

Recentemente, foi iniciada de forma pioneira no Brasil a produção em escala comercial de etanol de segunda geração – E2G – utilizando o resíduo da cana-de-açúcar como matéria-prima, após a sua moagem primária. Esta tecnologia avançada permitirá nos próximos anos um acréscimo de até 50% no volume de produção de etanol no país, sem acrescer sequer um único hectare adicional de uso de terras, e reduzindo ainda mais a intensidade de carbono de seu etanol combustível.

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Os data centers vêm atraindo para o Brasil importantes investidores estrangeiros, incluindo fundos globais. pela disponibilidade de energia, o país entrou na mira desse capital em operações bilionárias que já saem do papel

Além do uso como combustível veicular, o etanol está também sendo considerado como fonte para o transporte marítimo de longa distância, e também matéria-prima para o combustível de baixo carbono para a aviação, SAF – Sustainable Aviation Fuel. O combustível do futuro será o hidrogênio verde, produzido pela eletrólise da água (H2O), de forma descentralizada em unidades de médio e pequeno porte próximas aos centros de consumo. Seja na forma de insumo energético industrial, seja na forma de combustível para a mobilidade de longo curso em veículos pesados, ou ainda na forma de amônia verde para a indústria de fertilizantes, o hidrogênio verde será um fator central no processo de transição energética a nível global, e o Brasil é um dos locais mais competitivos para sua produção.

Os países emergentes e integrantes do grupo Brics e do G20 deveriam, desde já, estabelecer a nível mundial um programa de colaboração tecnológica e industrial no desenvolvimento de soluções energéticas de baixo carbono, e assim cumprir com regularidade e segurança seus compromissos individuais e coletivos assumidos diante da comunidade internacional. A sobrevivência das futuras gerações depende do que fizermos agora para reduzir a emissão de gases de efeito de estufa ao redor do planeta. Este é o desafio contemporâneo mais crítico para a atual geração dos habitantes do planeta Terra: A DESCARBONIZAÇÃO.