Carajás, a província mineral da Vale do Rio Doce no Pará, é uma terra de gigantes. Ali, a ordem de grandeza é ditada pela floresta amazônica e pela maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo. Por isso, tudo na Vale é superlativo. E superlativo será o navio que a gigante do ferro decidiu construir para levar minério até a China. Planejada para ser a maior do mundo em transporte de cargas sólidas, a embarcação de 540 mil toneladas deverá consumir investimentos estimados pelo mercado
em US$ 120 milhões e exigir a contratação de cerca de 3 mil trabalhadores pelo estaleiro encarregado de sua construção ? além
de outros 15 mil pelos fornecedores de componentes, equipamen-
tos de bordo e aço. O próprio gigantismo da obra coloca os megaestaleiros asiáticos em vantagem na concorrência mundial
que deve se criar em torno deste contrato. Suas estruturas com capacidade para construir navios de até 1 milhão de toneladas
podem fazer a diferença. Mas, a julgar pelo entusiasmo de Ariovaldo Rocha, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Naval, o Brasil tem condições de entrar na disputa.

?Seria a volta do País à construção de supernavios, como nos anos 70?, contextualiza Rocha. As chances de participação nacional no projeto dependem fundamentalmente das especificações do supernavio. Forma, dimensões, calado, equipamentos embarcados e estrutura de movimentação de carga, tudo isso será determinado pela Projemar, empresa de engenharia especializada em projetos marítimos contratada pela Vale. Mas sabe-se desde já que, se há um estaleiro no Brasil capaz de dar conta da empreitada, ele provavelmente será o Sermetal, do empresário Nelson Tanure. Ocupando as instalações do antigo Ishibrás ? um dos maiores do mundo na década de 70, com capacidade de produção de até dez petroleiros por ano ?, ele é o único estaleiro nacional equipado com dique seco, necessário para a construção de petroleiros de maior porte.

A bandeira desde já acenada pelos empresários brasileiros, em busca de apoio da própria Vale e do governo para manter esta obra no País, é a do emprego. ?Construção naval é uma obra artesanal. Nem o mais moderno dos estaleiros pode prescindir de mão-de-obra intensiva?, observa Ronaldo Perylles dos Santos, um dos donos do estaleiro Eisa. E a Vale, se sensibiliza? Não se sabe. A mineradora por enquanto não dá nenhuma pista sobre quando, onde e por quem será construído seu supernavio. Certa mesmo, só a disposição de botar o gigante na água. Com a China transformada na maior compradora de minério da Vale, navegar tornou-se preciso.

COMPARE COM OUTROS GIGANTES
JAHRE VIKING
Comprimento: 458 metros
Peso: 565 mil toneladas
Navio norueguês é maior do mundo em cargas líquidas. O brasileiro é para cargas sólidas
BARÃO DE MAUÁ
Comprimento: 337 metros
Peso: 280 mil toneladas
Maior navio brasileiro pertence à Petrobras e será transformado em plataforma de petróleo
QUEEN MARY II
Comprimento: 345 metros
Peso: 150 mil toneladas
Transatlântico
anglo-americano é o maior já construído para passageiros

 

MONSTRO SOB RODAS

O cargueiro marítimo que fará a
rota Brasil-China vai assumir o posto de estrela da coleção de supermáquinas da Vale. Perto dele, até os supercaminhões Caterpillar 793C usados pela companhia vão parecer acanhados. Mas eles são enormes. Têm 6,43 metros de altura por 12,87 metros de comprimento e levam até 280 toneladas de carga cada um. Para chegar ao volante, o motorista (que, de pé, mal passa da metade da altura dos pneus) tem de subir dois lances de escada. Uma vez lá em cima, a cinco metros do chão, todo cuidado é pouco. Carros de passeio são pequenos demais para serem vistos. Com motor V16 de 2.166 cavalos, o 793C consome cem litros de diesel por hora. Cada monstrengo desses custa US$ 1,8 milhão. E a Vale tem 60 deles em operação.