Imagine uma maçã do amor custar R$ 67 a unidade. Ou um pequeno brigadeiro sair por R$ 53. Esse foi o orçamento de um doceiro de Milão, na Itália, para os singelos docinhos, que deveriam ser entregues no número 52 da glamourosa Via della Spiga, há algumas semanas, para a inauguração da loja da Lilica Ripilica no famoso quadrilátero da moda. ?Não conheciam os doces e pediram uma fortuna?, divertiu-se Florilda Donini, matriarca da família que é dona do grupo Marisol, ao qual pertence da família que é dona do grupo Marisol, ao qual pertence a grife infantil. Por sorte, uma certa Pasticceria Pagani topou a mesma encomenda por bem menos. A idéia de Giuliano Donini, herdeiro e diretor de marketing da Marisol, de servir quitutes brasileiros no evento empolgou empresários e jornalistas italianos presentes no coquetel. Usar Milão como vitrine internacional da Lilica Ripilica também foi idéia do executivo de 31 anos, que teve, em sua empreitada italiana, que suar a camisa para apresentar sua marca de roupas infantis ao mercado fashion europeu. Dizer que a grife estava por trás de um grupo dono de nove fábricas, 6,3 mil funcionários e faturamento de R$ 500 milhões não funcionou. ?Eles podem ter ficado preocupados com o nosso tamanho, então deixamos de comentar?, conta Giuliano. ?A Itália tem todo um controle de quem entra no País para vender moda, até para não perder a força do ?Made in Italy?. Senão a moda italiana perde seu poder.? Depois de ganhar a simpatia do presidente da associação de amigos da Via della Spiga ? ?a loja tinha que ser lá? ?, as portas se abriram. E a família Donini conquistou os italianos. Conseguiu fechar em pouco tempo o contrato de locação e a loja foi inaugurada no fim de setembro. Hoje, a vitrine cor-de-rosa e as peças coloridas saltam na esquina da famosa rua, próxima à megaloja Armani. A Lilica é vizinha de lojas de luxo como as de Roberto Cavalli, Versace e Prada. ?Com preços mais competitivos do que os de outras grifes infantis italianas, eles vão fazer barulho?, acredita a consultora de moda Costanza Pascolato. Para Giuliano, a grife cria uma nova categoria de preço na Itália. ?Ficamos entre Benetton e Armani Junior. Uma calça jeans seis anos da Lilica custa 80 euros, enquanto um produto da Benetton pode custar 50 e um Armani Junior custar 100 euros?, arrisca.

 

?Esse risco é calculado??, foi a primeira pergunta do pai Vicente Donini a Giuliano quando ele propôs investir R$ 3 milhões para montar a loja de 72 metros quadrados em Milão ? num total de US$ 5 milhões para internacionalizar a marca. Um otimismo cheio de certezas convenceu o presidente do grupo. ?O desafio era entrar em Milão, por ser justamente a capital da moda e das grifes de luxo?, diz Giuliano, que no início do ano comprou a Rosa Chá, de Amir Slama, e partiu para a mesma estratégia com a grife de moda praia em Nova York. Na Itália, para adequar o padrão das roupas ao estilo local, contratou dois designers de moda de Milão, responsáveis pelas coleções de inverno e primavera-verão. As roupas são essencialmente para meninas, propositalmente. ?As grifes infantis européias investem muito no jeans wear, que lembra mais o comportamento masculino.? Formado em arquitetura em Curitiba, Giuliano fez pós- graduação em design de moda em Milão. Ao voltar para o Brasil, já havia combinado com os pais, na época da compra da Marisol, há 16 anos, que assumiria a empresa junto com o irmão Giorgio. Hoje, a Lilica Ripilica tem 15 franquias fora do País em lugares como Portugal, Nápoles e no Oriente Médio. A milanesa é a única da família. ?A meta é mais a visibilidade e a internacionalização que o lucro?, diz o herdeiro da Marisol, que tem nos dedos da mão esquerda três anéis de prata de lei, nos quais estão grafadas três frases: tempo de costurar, tempo de amar, tempo de somar. É com este espírito que ele quer, ao sabor de brigadeiro, conquistar vitrines pelo planeta.