Quando resolveu, de fato, investir no Brasil, a partir de 2008, a Apple entabulou intensas negociações com os principais grupos varejistas brasileiros para vender seus produtos por aqui. Nessas conversas, fechou acordos com nomes pesos-pesados do setor, como o Extra, do grupo Pão de Açúcar, a francesa Fnac e a livraria Saraiva. Ao mesmo tempo, incentivou a criação de lojas no estilo das Apple Store, com espaços amplos e os produtos à disposição dos consumidores para que pudessem ser usados e testados. A primeira delas foi a A2You, dos mesmos donos da Fastshop. Três anos depois, esses comerciantes ainda estão vendendo produtos da empresa fundada por Steve Jobs. Mas o principal parceiro comercial da Apple no Brasil não é nenhum deles. 

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Seger, do Herval: à frente do grupo há 14 anos, o empresário conta com a Apple
para reforçar os negócios da família além das fronteiras gaúchas

Quem conquistou esse posto foi o grupo gaúcho Herval, de Dois Irmãos, município localizado a 57 quilômetros de Porto Alegre, e dono da rede iPlace. “Não imaginava o tamanho da força da marca Apple”, afirma Agnelo Seger, presidente do grupo e filho do fundador da companhia, Felipe Seger Sobrinho. Antes de fechar acordo com a Apple, Seger considerava um exagero as filas formadas pelos consumidores para comprar os produtos da empresa da maçã. No começo de dezembro, o grupo Herval se consolidou ainda mais na posição de principal revendedora de produtos da Apple, de computadores a tablets, passando por uma grande quantidade de acessórios. Isso porque, depois de três meses de negociações, acaba de adquirir as sete lojas da rede paulista MyStore, do grupo MSé, dos antigos donos da rede Sé Supermercados.  

Com o negócio, cujo valor não foi revelado, o grupo conta com 19 das 31 lojas exclusivas da marca no Brasil, espalhadas por 15 cidades, em quatro Estados e o Distrito Federal. “Não podíamos deixar de aproveitar essa oportunidade”, diz Germano Grings, diretor de varejo do grupo Herval. “Os produtos da Apple são os mais desejados pelos consumidores.” Trata-se de um parceiro incomum para a Apple. Afinal, o grupo Herval é um conglomerado de 14 empresas que estima faturar R$ 1,5 bilhão em 2011. Foi fundado em 1959 como uma madeireira e se diversificou, atuando nas áreas de serviços, indústria, varejo, atacado e distribuição. Sob seu guarda-chuva estão lojas de varejo, financeiras, fabricantes de colchões e uma construtora, que atualmente é responsável por seis empreendimentos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul – dois projetos fazem parte do programa de casas populares Minha Casa Minha Vida, do governo federal. 

 

A divisão de varejo, no entanto, responde por 65% do faturamento do grupo e receberá investimentos de R$ 80 milhões em 2012, em parte por conta da aquisição da MyStore, que deve impulsionar ainda mais a área na empresa. “Quando você amplia demais o escopo, há o risco de perder o foco”, diz José Lupoli Jr., da consultoria paulista de varejo Lupoli & Consultores Associados. “Por outro lado, com a diversificação dos negócios é possível enfrentar com tranquilidade as sazonalidades de alguns setores.” A família controladora sabe desse risco. Tanto que decidiu colocar a casa em ordem. “Já estamos estudando separar as empresas em dois grupos: indústria e varejo”, diz o presidente Seger. O martelo ainda não está batido. Seger, que dos produtos Apple usa apenas o iPhone, quer dar mais foco para o varejo. Outro plano é reforçar a presença além das fronteiras do Rio Grande do Sul, onde o grupo é mais conhecido. “A ideia é fazer com que o grupo seja cada vez mais nacional”, afirma o empresário. 

 

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