O Brasil deve apresentar uma retomada mais lenta do que 90% dos países afetados pela pandemia. Em outras palavras: nove em cada dez países devem enfrentar o problema de maneira mais eficiente do que nós. É o que aponta o último estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a conclusão para esse descalabro é inequívoca: fizemos e seguimos fazendo tudo errado por aqui em termos de combate à Covid-19. A recessão já seria, por si só, no Brasil e no mundo, uma pesada conta a ser coberta – talvez a maior desde os tempos de guerra. No caso brasileiro, esse desafio se reveste de dificuldades ainda maiores. Na avaliação generalizada, o governo falha nos sinais trocados e nas ações, as empresas seguem em compasso de espera e a apatia dos trabalhadores com o avanço do desemprego não encontra paralelo em nenhum outro mercado. O FMI diz, com base no mais recente boletim Focus do Banco Central, que o desempenho do Brasil o colocará na medíocre posição de 171º lugar dentre 192 países analisados. Em termos de baixo crescimento, no horizonte dos países sul-americanos, a economia nacional só deverá se sair melhor do que a da Venezuela. E, mesmo assim, quase empatada em resultado de crescimento negativo do PIB. O desonroso posto será fruto do que os economistas estão chamando de “mediocridade administrativa”. O Brasil conseguiu, na opinião da maioria deles, viver uma crise política e econômica em simultâneo com a crise da saúde, em uma combinação inédita e explosiva. O otimismo do início do ano ficou para trás e deu lugar à descrença na reação. Tudo tem a ver com a forma como as autoridades vêm lidando com a pandemia. O mandatário despreza o isolamento, desconsidera a existência da doença e segue em desabalado confronto com os demais poderes. Nunca se viu nada igual em termos de conspiração contra o próprio mandato, alegam os analistas do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas, que estão medindo as consequências da pandemia internamente. Pelo atual quadro, o Brasil está prestes a completar, de fato, uma nova “década perdida”, com média de crescimento na casa de 2%. Os indicadores que surgem, vindos de todas as direções, não são nada animadores. O IBGE informa, por exemplo, que na última década dobrou o número de favelas, saindo de algo em torno de seis mil em 2010 para mais de 13 mil agora. É o retrato do avanço da miséria em meio à falta de oportunidades. O País ainda irá experimentar um cenário mais desolador, devido ao ritmo lento de reação já constatado nesses últimos tempos.
A era bolsonarista não deixará saudades.