23/05/2014 - 20:00
Quando se trata de investir em ações, tamanho é documento. A velha máxima se aplica à perfeição quando se comparam os mercados acionários do Brasil e dos Estados Unidos, confrontando-os com o poderio de suas respectivas economias. No dia 30 de abril, as empresas listadas em bolsa nos Estados Unidos valiam US$ 19,79 trilhões, ou 115,4% do Produto Interno Bruto (PIB). No caso brasileiro, essa soma chegava a R$ 2,9 trilhões, ou 60% do PIB, pouco mais da metade da relevância do mercado americano. Há outras diferenças profundas. Enquanto os Estados Unidos possuem cinco mil companhias listadas, no Brasil são apenas 364.
Assim, o investidor brasileiro que quiser de fato diversificar suas aplicações terá, cada vez mais, de olhar para o Exterior, mais precisamente para Wall Street e adjacências. O índice S&P 500, o mais representativo do mercado local, subiu 15,5% nos últimos 12 meses, enquanto o Ibovespa recuou 15% nesse período. As ações nunca estiveram tão valorizadas no pregão da Bolsa de Nova York. Na segunda-feira 12, o S&P 500 atingiu sua máxima histórica de 1.896 pontos, uma valorização de 177% desde o fundo do vale de 677 pontos, registrado em 2009, durante o pior momento da crise imobiliária americana. Nesse mesmo período, para comparar, o Índice Bovespa registrou uma valorização bem mais modesta, de 39,4%.
Dessa forma, quem apostou nas ações americanas nos últimos dois anos não tem do que reclamar. É o caso do empresário paulista Giampaolo Piraino, que em 2013 resolveu investir no Facebook. Ele está curtindo até hoje: os papéis se valorizaram 115,2% em 12 meses. Nesse período, o Ibovespa perdeu 15,5%. “Não penso em trazer esse dinheiro de volta para o Brasil”, diz Piraino. Os especialistas assinam embaixo. O gestor de fundos Pedro Baldaia, diretor da SP Investments, recomenda desbravar os mercados de países desenvolvidos. A companhia possui R$ 52 milhões sob gestão. Um de seus fundos, o Porto, rendeu 7,5% nos últimos 12 meses investindo nos Estados Unidos.
As empresas escolhidas variam. Vão de moda (Ralph Lauren) e comércio eletrônico (eBay) a petróleo (Baker Hughes). “Por que investir somente no Brasil se é possível comprar com segurança ações internacionais muito rentáveis?”, questiona Baldaia. Os retornos podem ser apetitosos, mas, como em qualquer aventura além-fronteira, é preciso adotar cuidados adicionais. O principal deles é cautela com os preços. Com as cotações no teto, a possibilidade de rendimento das ações no mercado americano é menor. “A possibilidade de realização é alta”, diz Pablo Spyer, diretor da corretora coreana Mirae.
Para ele, a redução de estímulos por parte do Fed, o banco central dos EUA, atualmente em US$ 45 bilhões por mês, e a fila de aberturas de capital (IPO, na sigla em inglês) devem levar os investidores a transferir suas alocações para as ações recém-chegadas à bolsa, o que deverá forçar para baixo os papéis tradicionais e com maior histórico de pregão. Como fazer? Comprar lá fora significa diversificar, mas há implicações. Surgem novos custos, como a necessidade de abrir uma conta-corrente no Exterior e ter mais trabalho com sua declaração de Imposto de Renda. E surgem novos riscos, como o da variação cambial.
No entanto, o investidor que não quiser ter tanto trabalho encontra alternativas no Brasil mesmo. Uma delas são os BDRs, certificados de depósito de companhias estrangeiras emitidos e negociados no Brasil, que têm apresentado retornos de até 130% em 12 meses. Outra alternativa são os fundos que alocam recursos lá fora. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados de Capitais e Financeiros (Anbima), que representa o setor, o patrimônio dos multimercados que operam no mercado externo cresceu 606%, entre 2010 e 2013, movimentando R$ 45,2 bilhões. Esses fundos permitem comprar diretamente ações de empresas estrangeiras, moedas ou títulos da dívida de qualquer país.
O BDR Nível I FIC Ações, da Bradesco Asset Management (Bram), por exemplo, acumula alta de 43,9% nos últimos 12 meses e permite a entrada de investidores com mais de R$ 300 mil. O fundo foi criado no fim de 2011 e apostava que a economia americana se fortaleceria depois da reeleição de Barack Obama. “Estamos vendo o início da recuperação das bolsas, que ainda está longe do pico”, afirma o economista Joaquim Levy, diretor da Bram. No fim de abril, a bolsa ganhou um novo fundo estrangeiro, gerido pela americana BlackRock, empresa que já administra cerca de US$ 3 bilhões em recursos por aqui. O objetivo é atender investidores que buscam novas estratégias referenciadas no S&P 500.
“É muito mais complicado o investidor ir lá para fora e ter de comprar 500 papéis”, diz Bruno Stein, diretor da filial brasileira da BlackRock. “Por isso, o índice oferece uma oportunidade de simplificar e facilitar.” Tony Volpon, analista de mercados emergentes da corretora japonesa Nomura, baseado em Nova York, vai na mesma direção e exibe outro argumento em favor dos mercados desenvolvidos. Segundo ele, os países emergentes, que atraíam grande parte do investimento mundial, passam por um momento complicado. “Agora, os investidores têm de ver, caso a caso, quais países estão se adaptando melhor a esses desafios.”
Para quem quer multiplicar seu dinheiro além-fronteira, outra alternativa viável é o mercado europeu, que dá indícios de recuperação das turbulências recentes. “As empresas europeias passaram por duas recessões e aprenderam a lidar com austeridade”, afirma Pedro Borges, presidente do dinamarquês Saxo Bank. Para os analistas, a possibilidade de crescimento do MSCI Europe, índice que reúne papéis de empresas sediadas em 23 países europeus, é elevada. As ações que compõem o índice estão apresentando uma relação preço-lucro de US$ 80 por papel, enquanto no caso do S&P 500 essa cifra fica em torno de US$ 120. Ou seja, segundo os analistas, ainda há espaço para que o desempenho das ações da Europa se equipare ao das ações Estados Unidos.