Piripiri, no interior do Piauí, é o quarto maior município do Estado, com 62 mil habitantes. Nessa pequena cidade, chama atenção a presença de algumas marcas. Lojas da fabricante têxtil Hering e o Centro Educacional Damásia de Jesus, de ensino a distância, estão lá. A Cacau Show, do ramo de chocolates, procura interessados em fazer negócios no local. Piripiri representa a nova fronteira do setor de franquia brasileiro, que começa a explorar pequenas e médias cidades. 

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Ambros da Fisk: o objetivo é treinar intérpretes, taxistas e recepcionistas
para preparar o País para a Copa e Olimpíada 

Há um vasto e crescente mercado fora das capitais que já começou a ser descoberto pelas redes de franchising. O grupo hoteleiro francêsAccor, por exemplo, tem por hábito administrar diretamente a maior parte de seus hotéis, mas decidiu apostar na franquia como forma de crescer fora dos maiores centros urbanos. Atualmente, conta 15 com franquias das bandeiras Ibis e Novotel. A abertura de outras 23 está em estudo. A rede Formule 1, de tarifas mais populares, também deve aderir ao modelo.  

Nos próximos cinco anos, novos hotéis vão surgir em cidades como Suape (PE), Vitória da Conquista (BA), Piracicaba (SP), Paranaguá (PR) e Canoas (RS). Mais um indício do crescimento do número de franquias no interior do Brasil é o fato de que, dos 124 shoppings em construção, 80 deles estão localizados em cidades fora de grandes centros urbanos. Atualmente, 80% dos restaurantes e lanchonetes em uma praça de alimentação desses empreendimentos são operados por franqueados.

 

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Martins, do Grupo Multi: planos de abrir 300 franquias de escolas de inglês,

no interior do Brasil, até o final de 2012 

 

Apesar da interiorização das franquias, ainda há muitas oportunidades nas capitais brasileiras. De acordo com especialistas, a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, são dois eventos que são atrativos para uma série de setores. “Esses eventos esportivos darão impulso aos serviços voltados para o atendimento da população”, diz Cláudia Bittencourt, sócia da Bittencourt Consultoria, especializada em franquias. 

 

Cláudia acredita que atividades como alimentação rápida, transporte, tradução, turismo, hotéis, acomodações e pousadas são bons negócios para os próximos anos. É o caso da Marsans Brasil, que tem produtos específicos para eventos desse porte. “Queremos chegar em 2014 com 200 pontos de venda”, diz Jaime Abraços, diretor comercial da empresa. Hoje, a empresa vende seus pacotes de viagem em 40 lojas e deve abrir mais 20 até o final do ano. 

 

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Outro setor que deve se beneficiar desses dois eventos esportivos internacionais são as escolas de inglês. Explica-se: o Brasil tem um dos mais baixos níveis de proficiência da língua inglesa, de acordo com pesquisa realizada com dois milhões de estudantes do idioma pela agência de intercâmbios Education First. Das 44 nações analisadas, o País ficou na 31ª posição. A rede Fisk, que conta com mais de mil unidades, entre próprias e franqueadas, lança em julho um produto chamado de “May I help you?” para treinar intérpretes, taxistas, garçons e outros profissionais de atendimento. 

 

O objetivo da Fisk é abrir 50 unidades por ano. “Só não aumentamos esse número, porque faltam profissionais”, diz Christian Ambros, diretor da Fundação Fisk. A CNA, que atualmente tem 637 unidades, e o CCAA, com 774, também planejam ampliar suas redes. A união desses fenômenos – a expansão para o interior e eventos esportivos internacionais – deve dar grande impulso às franquias do grupo Multi, donos das marcas de escolas de inglês e informática Wizard, Yázigi, Skill e Microlins, entre outras. Nas capitais, Carlos Wizard Martins, presidente do Grupo Multi, planeja lançar 70 novas unidades até o final de 2012. 

 

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Rumo ao interior: Novotel e Ibis, do Accor, expandem-se através de franquias em cidades médias

 

Simultaneamente, ele vem se encontrando com governadores da Bahia, do Rio de Janeiro e de Pernambuco, para convencê-los de que, sem estrutura de atendimento adequada, será impossível receber os 800 mil estrangeiros que virão ao Brasil para assistir à Copa do Mundo e à Olimpíada. Fora das capitais, Martins é mais ousado. “Vamos lançar 300 escolas no interior do País até 2012”, diz. O executivo busca alcançar com suas franquias a população de baixa renda em cidades com 100 mil habitantes. O grupo Multi cresce entre 20% e 25% ao ano. Martins quer chegar em 2015 com 5 mil escolas no total. Hoje, são 3,2 mil unidades. A maior parte desse crescimento virá do interior.