19/01/2005 - 8:00
Ciro Gomes retirou-se lá para as bandas de Sobral, no semi-árido cearense. Está se escondendo das especulações sobre a reforma ministerial, que ora o mudam de cargo, ora o mantêm como ministro da Integração Nacional. Quando há quatro décadas seus pais deixaram Piracicaba (SP) para morar em Sobral (CE), estavam largando a prosperidade certa para arriscar a vida numa terra de penúria. Hoje a equação está invertida. Ciro tem em mãos um estudo, preparado por economistas de seu ministério, que expõe uma nova e surpreendente geografia econômica do Brasil. Batizado de Mapa do Desenvolvimento Brasileiro, o estudo mostra que a região de Piracicaba já não cresce como no passado. Sobral, por sua vez, virou uma ilha de oportunidades. Foi ali que a Grandene instalou sete fábricas de sapatos e a Votorantim outra de cimento. Em apenas oito anos, a arrecadação de impostos multiplicou-se por 11 e a renda per capita de Sobral já é 25% maior que a da capital, Fortaleza. O novo mapa de Ciro expõe pela primeira vez os locais do País onde há problemas mais graves a serem resolvidos pelo governo. É isso que irá mapear os gastos que são geridos pelo Ministério. ?Quero minimizar a concentração da riqueza?, disse Ciro à DINHEIRO.
Com o trabalho em mãos, ele também encontrou um Brasil de soluções, com as regiões onde as chances de crescimento são maiores. Tal mapa foi levado ao presidente Lula na virada do ano. ?Não navegamos mais no escuro?, festejou o presidente. E há muitas surpresas. Em Minas, por exemplo, o Vale do Jequitinhonha vem se transformando num pólo de exportação de jóias e cachaça. Em Bom Jesus, no Piauí, a expansão da produção de grãos vem abrindo espaço para a agroindústria. Por outro lado, em Estados do ?Sul maravilha?, como Paraná e Rio Grande do Sul, foram detectadas manchas de estagnação. ?Não são zonas de tragédia, mas precisam de um empurrão para a retomada?, explica Antônio Carlos Galvão, secretário de Desenvolvimento Regional do ministério. ?Vamos injetar R$ 100 milhões, a fundo perdido, nas regiões mais problemáticas?, garante Ciro. Embora o orçamento pareça pequeno, o ministro pretende usar o mapa para direcionar os gastos de fundos constitucionais do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que somam R$ 7,4 bilhões.
Para produzir o mapa, os economistas trabalharam com a divisão do País em 508 microrregiões e fizeram o cruzamento das informações fornecidas pelo Censo 2000, do IBGE. Foram produzidos nove diferentes mapas. Um deles mostra duas dúzias de polígonos de miséria no Norte, Nordeste e no Centro-Oeste. Nas regiões onde são remotas as chances de crescimento, o melhor que o governo pode fazer, diz Ciro, é distribuir recursos da Bolsa Família. Há um segundo mapa, formado pelas microrregiões que se desenvolveram no passado mas onde hoje a estagnação econômica tomou conta ? é o caso de Missões, no Rio Grande Sul, e Governador Valadares, em Minas. O terceiro é o que aponta os pólos de dinamismo econômico, onde as taxas de crescimento ficaram acima de 3,9% durante toda a década de 1990. ?Ali é mel na chupeta, é só investir que as chances de retorno são enormes?, diz Carlos Galvão. É justamente este que interessa menos ao governo, e mais aos empresários. 
RETRATO DO BRASIL
Ciro mapeou as regiões com grande potencial de crescimento
Santarém (PA)
Pólo de biotecnologia e logística na Amazônia, virou entreposto para exportação de soja, castanha e açaí.
Sobral (CE)
Cidade tornou-se pólo industrial de calçados, deu um salto nos índices sociais e oferece boa qualidade de mão-de-obra.
Cerrados do Nordeste
Oeste da Bahia e o Sul do Piauí vivem um surto de progresso com a soja e há grandes oportunidades para agroindústrias.
Baixo Jaguaribe (RN)
Com um novo açude, o Castanhão, e investimentos públicos em irrigação, região está se tornando pólo de fruticultura.
Vale do Jequitinhonha (MG)
Outrora símbolo do atraso, a região virou pólo de exportação de jóias. As cachaças também conquistam a Europa.
Vale do Ribeira (SP)
A banana desidratada deu o impulso inicial e a região já apresenta índices de crescimento acima da média paulista.
