21/10/2011 - 21:00
Nos próximos anos, o extenso litoral brasileiro – que abriga algumas das mais belas praias do planeta – será destino certo não apenas para turistas estrangeiros, mas também para fabricantes internacionais de embarcações particulares de luxo. A explicação para esse fenômeno está na economia. Diante da crise náutica nos Estados Unidos e na Europa, causada principalmente pela recessão dos países ricos, as vendas de iates despencaram 70% desde 2008, segundo sondagem da revista americana Forbes com endinheirados americanos e europeus. Enquanto isso, as vendas no Brasil registraram crescimento de 40%, entre 2008 a 2011, segundo a Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e seus Implementos (Acobar). E quem imagina que esse é um mercado que apenas engatinha no País se engana. Só este ano, os iates que singrarão os mares brasileiros devem movimentar US$ 750 milhões.
Luxo nos oceanos: acabamento com requinte, digno de tradicionais hotéis europeus, equipa iates, como o Mangusta 165,
que custam o equivalente a mansões. Há opções menos sofisticadas, por menos de R$ 1 milhão, que podem ser financiadas em até 60 meses em bancos brasileiros
Esse cenário de águas calmas e promissoras se tornou um autêntico oásis para alguns dos maiores estaleiros europeus, como o francês Beneteau, o inglês Princess Yatchs e o italiano Overmarine, que estão direcionando seus investimentos rumo aos oito mil quilômetros de costas brasileiras. “O Brasil vai receber até o fim do ano uma unidade do iate modelo Princess 85 MY, totalmente decorado pela equipe da grife de luxo italiana Fendi”, disse à DINHEIRO Alister Brunskill, executivo de vendas internacionais da Princess Yatchs. “O preço final será de aproximadamente R$ 26 milhões e, a julgar pelas conversas que tivemos com alguns potenciais clientes brasileiros, não haverá dificuldades em comercializá-lo.” A Princess Yatchs, embora esteja agora concentrando seus esforços nas embarcações de alto luxo, possui outros 20 modelos de iates em águas nacionais. “O Brasil tem uma economia emergente, com o surgimento de novos ricos, e estamos focados em atender consumidores que primam por unificação da navegabilidade, segurança e glamour em um só produto”, diz Brunskill.
Flyer GT 38
O estaleiro britânico terá uma concorrente de peso no mercado brasileiro. O centenário grupo francês Beneteau, além de oferecer lanchas luxuosas no País, a partir de fevereiro de 2012 começará a fabricar seus modelos em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro – algo que antes era feito apenas na França. “Serão investidos cerca de € 20 milhões na primeira fase”, diz Marcos Soares, CEO da Beneteau Brasil. “Usaremos as mesmas tecnologias da França e, com isso, estimamos dobrar a produção atual, de 50 barcos por ano.” Além disso, está aportando no País, a Jeanneau, uma divisão do Beneteau, que vai vender duas linhas de barcos maiores por aqui, o Prestige 400 e o Prestige 500S (com preços que chegam a R$ 3,45 milhões), com a meta de ser a líder do setor. “Só no Brasil é possível navegar 12 meses por ano e, com o aumento do poder de compra dos brasileiros, será aqui a nossa porta de entrada para a América Latina, em países como a Argentina, o Chile e Uruguai”, diz Jean-Paul Chapeleau, diretor-geral da Jeanneau.
Prestige 500S
Além do potencial natural brasileiro para embarcações de luxo, uma série de políticas restritivas à importação, impostas pelo governo federal, tem estimulado a instalação de estaleiros ao País. É o caso da Ferretti, que decidiu produzir dois de seus barcos, a linha Ferretti e a Pershing 80, em Vargem Grande Paulista, São Paulo. “Devido ao recente decreto do governo federal, que aumenta o imposto para barcos de 10% para 30%, a importação de produtos prontos de outros países ficará inviável, a exemplo do que está ocorrendo com os automóveis”, diz Marcio Christiansen, CEO do Ferrettigroup Brasil. De qualquer forma, indiscutivelmente o mar está azul e plano no setor náutico de luxo. A italiana Overmarine, por meio da Le’Mon Group, comercializará embarcações nunca vistas nas praias brasileiras. A empresa se inspirou na maré alta da economia para trazer máquinas, como a maxi-open Mangusta 165, já vendida a um magnata carioca pelo preço de € 27 milhões (aproximadamente R$ 65 milhões). Dentre os destaques dessa embarcação, estão sua construção toda em fibra de vidro axial, cinco camarotes, sala de estar e jet-ski acoplado.
Design assinado: A grife italiana de luxo Fendi e o estaleiro britânico Princess Yatchs fecham parceria
para oferecer decoração personalizada nos modelos de iates mais sofisticados
O desembarque de estaleiros estrangeiros renomados, aparentemente, está sendo absorvido pelos fabricantes brasileiros. “O interesse deles só aconteceu após a falta de demanda na Europa”, diz Rogério Amodio, sócio do estaleiro Aguz Marine, de Diadema, no ABCD paulista. “Será bom para o mercado náutico, já que vai elevar o nível de nossos iates”, garante o empresário. Ele cita uma pesquisa apontando que a cada 270 pessoas, uma é dona de barco no Brasil. Na Europa, a relação é 60 para 1. Prova de que o setor náutico é um mercado florescente no Brasil é o interesse dos bancos em financiar a aquisição desses superbarcos. Há embarcações a preços, digamos, mais acessíveis – por menos de R$ 1 milhão, que podem ser pagos em 60 meses. O Santander criou uma área de atendimento exclusiva a esse nicho e registrou, no primeiro semestre, deste ano um aumento de 33% em sua carteira, na comparação com 2010. “Somos pioneiros no segmento náutico e estamos bastante otimistas”, diz André Moraes, superintendente do Santander Financiamentos, que oferece taxas equivalentes às de carros zero-quilômetro. “A cultura do crédito permeia todos os níveis de clientes, inclusive aqueles que sonham em pilotar uma lancha em nossas águas.”