Quem diria! A União Europeia entrou em guerra aberta com as agências de risco em virtude do rebaixamento de países do bloco. Por décadas, o Brasil foi tido e havido como o mau aluno da turma, que ficava no fundo da classe e era relapso com a sua lição de casa. “Indisciplinado!”, diziam os bedéis do mercado, não seguia a cartilha econômica estabelecida, não prestava atenção às aulas de finanças e tirava nota baixa. As agências eram implacáveis com a conduta brasileira na realização das tarefas impostas. Aplicava-lhe sempre a pior classificação possível. Os “nerds” europeus – os chamemos assim –, com fama de certinhos e bons cumpridores dos deveres, muitas vezes eram mais avaliados pela aparência do que pelo desempenho. 

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A máscara agora caiu em meio à degradação dos parques produtivos do Velho Continente e da anarquia contábil nos orçamentos públicos da região. A União Europeia segue para um longo ocaso, enquanto emergentes como o Brasil recebem o tratamento de aluno pródigo. Uma a uma – da Grécia à Irlanda, seguindo para a Itália, Espanha e Portugal –, as economias do Primeiro Mundo estão sucumbindo. O eixo do desenvolvimento se desloca rápido e a mudança do mapa de investimentos estrangeiros segue no mesmo ritmo. Como alunos que não conseguem passar no teste do vestibular de matemática, os europeus retornam à carteira escolar para aprender a poupar e fazer conta. 

 

A dúvida é se haverá tempo. A realidade na zona do euro, com uma moeda única e grandes desproporções de resultado entre a Alemanha eficiente e a Grécia quebrada, caminha para um ponto de cisão logo à frente. As agências de risco, diante da montanha de dívidas e da incerteza que alimenta a especulação, preveem o pior. Avaliaram, por exemplo, os títulos da dívida irlandesa ao nível de “lixo”. Nesse quadro, como um líder de grupo dos reprovados, o comissário europeu de mercados, Michel Barnier, declarou que a UE quer criar uma regra que proíba as agências de classificação de julgar os países em estágio de ajuda financeira externa. É a velha história: se a banca examinadora não é condescendente com os alunos riquinhos, os papais vão à direção e exigem a troca da banca. O roteiro é conhecido e não acaba bem.