21/05/2003 - 7:00
Ela já foi considerada a grande vilã da poluição, principal produtora da fumaça negra que cobria os céus de Cubatão e transformava a atmosfera da cidade paulista em uma das mais sujas do País. Hoje, a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa) é responsável pela manutenção de 8 mil mudas de árvores e arbustos plantados na beira do Rio Pinheiros, em São Paulo. A iniciativa é simbólica, mas é fundamental para entender a nova postura da empresa. Numa espécie de mea-culpa, a Cosipa vem investindo pesado em projetos ambientais nos municípios onde atua, incluindo Cubatão e São Paulo . Desde 1995, ano da privatização, já foram gastos US$ 240 milhões. O reforço que faltava veio na semana passada: um empréstimo de R$ 89 milhões, concedido pelo BNDES, que será investido na modernização dos fornos, uma das principais fontes de poluição. ?Não temos medo de falar do passado. Sabemos que ainda há muito o que fazer?, diz Benito Gonzales, superintendente de meio ambiente.
A fábrica da Cosipa, em Cubatão, é quase uma cidade. Tem 12 milhões de metros quadrados e 10 mil funcionários, que se revezam para operar as máquinas durante as 24 horas do dia, sem interrupções. O grande desafio da Cosipa, e de outras empresas da região, é encontrar formas de amenizar o impacto de tanta combustão. Na fase estatal da companhia, pouca coisa foi feita. Com isso, grandes quantidades de ácido sulfúrico eram despejadas no ar, sem nenhum controle. A queima do carvão mineral é ainda mais traumática, pois gera um gás rico em benzeno, indutor da leucemia. Para piorar, Cubatão está cravada numa vale ? entre o oceano e a Serra do Mar, o que dificulta a circulação do ar. ?Apesar da barreira natural, parte da poluição gerada em Cubatão consegue chegar inclusive à cidade de São Paulo?, diz Américo Sansigolo Kerr, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo.
A preocupação da Cosipa com o meio ambiente é recente. Começou em 1995, dois anos depois de a empresa ter sido comprada pela Usiminas. Ela desenvolveu o PAC ? Projeto Ambientais Cosipa ? com metas ambiciosas para uma empresa que, até então, era sinônimo de poluição. Foi uma corrida contra o tempo: em sete anos, a siderúrgica contratou pessoal especializado em áreas como gestão ambiental e de qualidade. Com a ajuda da Companhia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e do BNDES a empresa, enfim, conquistou o certificado 14.001, de excelência em gestão do meio ambiente. É um marco para a Cosipa, que em novembro completa 50 anos. Para se ter uma idéia, a emissão de partículas no ar foi reduzida em 93%. Isso sem falar em ações externas, caso do projeto Pomar ? cujo objetivo é revitalizar a marginal do Pinheiros. ?Estamos construindo uma nova imagem?, diz Omar Silva Júnior, presidente da companhia.
Ao mesmo tempo em que melhora seu status de empresa socialmente responsável, os novos fornos, mais potentes, também vão ajudar a impulsionar a produção. O financiamento do BNDES vai resultar numa oferta adicional de 1,1 milhão de toneladas de aço por ano para o mercado externo. A Cosipa não faz projeções financeiras, mas tudo indica que o crescimento será parecido com o do ano passado, quando houve um acréscimo de 59% nas vendas, gerando uma receita de R$ 2,2 bilhões. A principal demanda vem de fora, já que a tendência entre as siderúrgicas americanas é de não investirem na modernização de equipamentos. Com isso, EUA e Europa passarão a desempenhar o papel de grandes importadores. Se a Cosipa continuar nesse ritmo, deverá tomar o lugar da CSN na liderança do mercado de aços planos na América Latina. Aí sim, tudo serão flores.