14/03/2007 - 7:00
OS FUNDADORES De pé, Matarazzo Neto, Magalhães e Saigh (da esq. para a dir.); sentados, Silva Neto, Castello Branco e Betancourt (da esq. para a dir.)
A animada disputa no mercado brasileiro de private equity está ganhando mais um personagem de peso. A rigor, o mais pesado que há entre os fundos globais de compra de participações em empresas. O grupo brasileiro Pátria, sucessor do Patrimônio, anuncia nos próximos dias sua associação ao The Blackstone Group, maior firma do gênero em Wall Street. As duas empresas mantêm uma aliança estratégica desde 2004, a qual, após longos meses de negociação no segundo semestre de 2006, evoluiu para uma parceria plena, que vai se materializar com o levantamento de um novo fundo da ordem de US$ 500 milhões. Depois de quase atropelada por uma investida de última hora da Carlyle, rival mundial da Blackstone, a associação foi sacramentada verbalmente em dezembro. O contrato foi assinado em meados de janeiro. Na seqüência, os comandantes do grupo americano mandaram uma equipe ao Brasil para discutir as características do novo fundo. Coisas como tamanho, grau de alavancagem, setores para investimento, taxas e performances esperadas. Caberá à Blackstone captar clientes no exterior. O road show já começou e passará pelos Estados Unidos, pelo Canadá e pela Europa Ocidental toda.
A GRANDE TACADA Comprados pelo Pátria, os laboratórios Delboni Auriemo abriram capital e são estrelas da bolsa
NEGÓCIO RAZOÁVEL A Fotoptica será vendida para um investidor estratégico porque não tem porte para ir à bolsa
A INTERROGAÇÃO A dúvida do Pátria, hoje, é o que fazer com a rede de franquias Casa do Pão de Queijo
Criada em 1985, com US$ 400 mil para investir, a Blackstone transformou-se em um conglomerado financeiro com fundos de hedge, gestão de recursos e negócios imobiliários, entre outros negócios, e superou todas as suas rivais ao longo das últimas duas décadas. Inclusive a poderosa Carlyle, gigante do private equity, que recentemente anunciou sua entrada no setor imobiliário brasileiro e por pouco não melou o acordo Pátria-Blackstone. As partes não confirmam, mas pessoas muito próximas às negociações revelam que, no final de 2006, emissários da Carlyle vieram ao País conversar com os sócios do Pátria. Queriam comprar 49% do capital da firma brasileira, com opção de adquirir o controle dentro de alguns anos. A proposta forçou uma discussão entre os sócios do Pátria: continuar no comando do negócio ou vender e partir para outra. Prevaleceu a primeira hipótese, e, em conseqüência, a agenda deles está cheia.
Nesta segunda-feira, dia 12, o Pátria lança no mercado a rede de faculdades Anhangüera Educacional, que controla por meio de seu Fundo de Educação para o Brasil. É a primeira empresa de ensino superior que vai para a Bolsa e, portanto, não há parâmetro de comparação. A previsão inicial de captação era de R$ 500 milhões, mas, dado o atual grau de volatilidade na Bovespa, o resultado da emissão inicial de ações é uma incógnita. Tanto o Pátria como as famílias fundadoras permanecerão no bloco de controle do negócio, com cerca de 60% do capital. Em respeito ao ?período de silêncio? imposto pela CVM nos processos de abertura de capital, os gestores do Pátria não falam sobre o IPO. Luiz Fernando Lopes, um dos sócios da firma, limita-se a dizer que o investimento em educação ?não vai parar aqui. Provavelmente, a Blackstone vai entrar conosco neste setor também?.
NOVO RAMO Lopes, do Pátria, aposta em energia renovável
Paralelamente ao levantamento do primeiro fundo em parceria com os americanos (85% deve ser captado lá fora e 15% aqui dentro) e à expansão dos investimentos em ensino superior, o Pátria trabalha em um terceiro fundo, focado na terceirização de serviços. A firma tem uma grande aquisição para anunciar no ramo dos call centers nos próximos dias. E já controla a Telefutura, comandada pelo ex-tenista Luiz Mattar. É um cenário que lhe permite entrar na briga pela liderança deste setor, que hoje tem cinco grandes empresas ? mas nenhuma gigante. A fusão da Telefutura com qualquer uma delas criará uma potência do telemarketing. ?O Pátria quer ter a grande central de telefonia do Brasil?, diz Lopes.
O fundo de private equity de US$ 500 milhões é a porta de entrada da Blackstone no Brasil. Também em parceria com o Pátria, o grupo americano já está participando do levantamento de um fundo de energia renovável no País. O foco, segundo Lopes, são pequenas centrais elétricas e, principalmente, geração de energia com biomassa (bagaço de cana, por exemplo).
O momento em que o Pátria desfecha ataques simultâneos em tantas frentes é propício para um balanço do que a firma fez até agora. No ramo do private equity, o chamado Fundo 1, aberto ainda sob o nome Patrimônio em 1997, rendeu algo entre dólar mais 8% ou dólar mais 10% ao longo destes dez anos. Não é um retorno fabuloso, mas não houve perda, ao contrário do que se viu em muitos fundos do gênero na América Latina. Dos três principais investimentos deste fundo, o mais bem-sucedido, de longe, foi nos laboratórios Delboni Auriemo, que deram origem à Dasa (Diagnósticos da América). A empresa abriu capital no final de 2004 e mantém-se como um dos destaques da nova geração da bolsa. Desse modo, permitiu ao Pátria recuperar, com lucro, os recursos investidos. A Fotoptica, por sua vez, vai ser vendida para um investidor estratégico (uma empresa do mesmo ramo), porque não tem porte para ir ao mercado. A dúvida, hoje, é o que fazer com a rede de franquias Casa do Pão de Queijo.
Dada essas experiências, o novo ciclo de investimentos terá novamente muito interesse em saúde ? humana e também animal. ?Não vou criar gado, mas comprar a empresa que faz a vacina para o boi ou o gerenciamento genético do rebanho?, exemplifica Lopes. Segundo ele, há muitas empresas neste ramo, quase todas trabalhando de modo pouco dinâmico. ?No futuro, vão dizer que fizemos o óbvio.?