O canadense Noel Biderman trabalhou cerca de dez anos anos como agente esportivo da Liga Nacional de Futebol Americano  (NFL, na sigla em inglês). Sua função era gerenciar a carreira de astros do esporte mais popular dos EUA. Mas, além de buscar as melhores oportunidades profissionais para os atletas, Biderman tinha de se preocupar com uma tarefa, digamos, bem peculiar. Ele dedicava boa parte de seu tempo a arrumar meios para os jogadores se livrarem de enrascadas relacionadas às puladas de cerca, poupando-os de escândalos sexuais. Nessa época, ele leu uma notícia segundo a qual 30% dos usuários de internet fingiam ser solteiros para paquerar em redes sociais. Foi então que ele teve uma ideia que mudou sua vida e o tornou muito rico: criar  um site para que pessoas comprometidas pudessem ter seus casos, sem ter de se explicar em casa depois. 

Claro, tudo fácil, rápido e no mais absoluto sigilo. Assim foi fundado, em 2001, no Canadá, o Ashley Madison. “Meu pensamento era: as coisas deveriam ser mais simples”, disse à DINHEIRO Biderman, sócio da Avid Life Media, empresa que controla o Ashley Madison, durante recente visita a São Paulo. Dez anos depois, o Ashley Madison é o maior site especializado em relacionamentos extraconjugais do mundo, com presença em 15 países, como os EUA, Inglaterra e Austrália. Com investimento de US$ 3 milhões, o serviço estreou na primeira quinzena de agosto no Brasil e já chegou batendo um recorde mundial na empresa. Em um único dia, o serviço teve crescimento de 524% no número de cadastrados. Pode-se argumentar que os acessos partiram de uma base pequena. Ainda assim, é surpreendente o ritmo de adesão. A versão nacional do Ashley Madison já tem uma média de quatro milhões de páginas vistas por mês e 210 mil visitantes únicos. Com tantos acessos, o caminho para gerar receitas está pavimentado. O site funciona da seguinte forma: o internauta pode navegar e fazer cadastros gratuitamente. 

 

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Noel Biderman, do Ashley Madison: maior empresa do setor no mundo acaba de chegar ao Brasil e já vê audiência explodir     


Mas, se o sedutor se interessar por alguém, deve comprar “créditos” para responder a um e-mail ou iniciar um chat. Depois da primeira conversa, o contato entre essas duas pessoas  é livre no ambiente do site. Dessa forma, a empresa evita que o usuário migre para o MSN, por exemplo, para continuar o papo e deixe rastros das suas atividades. Com esse sistema, Biderman mantém o cliente fiel. Ao Ashley Madison, é claro. Atualmente, há pelo menos 1,3 milhão de homens no mundo que pagam para encontrar possíveis affairs no site. No Brasil, o pacote de créditos mais barato custa R$ 49 mensais. É por essas e outras que a chegada do Ashley Madison causou um frenesi na internet brasileira, mas ele não é o único exemplar do gênero no País. A empresa catalã Romance Secreto e a belgo-holandesa Second Love haviam chegado (sem o mesmo estardalhaço, é certo), indicando que os sites para relações extraconjugais podem ser o novo filão a ser explorado na web nacional. A razão para tanto interesse nesse tipo de negócio é simples, embora faltem dados específicos sobre esse segmento no País. 

 

Nos EUA, por exemplo, o mercado do namoro na internet movimenta cerca de US$ 1,5 bilhão por ano. Desse total, estima-se que entre 10% e 30% se relacionem a pessoas comprometidas. Os dados iniciais do Ashley Madison no Brasil atestam o potencial de negócios: no Dia dos Pais, o site de Biderman recebeu mais de 22 mil homens em busca de um romance sigiloso. O desempenho supera o de todas as demais metrópoles em que a empresa está presente, como Nova York, Londres, Sydney, Toronto e Madri. O sucesso é tão grande que, em um ano, acredita Biderman, o País deve ser o maior mercado para a empresa fora da América do Norte. No curto prazo, segundo ele, o Brasil deverá ser decisivo para elevar o lucro da companhia, dos US$ 90 milhões obtidos nos últimos 12 meses, para US$ 120 milhões até agosto de 2012.

 

São essas as razões que levaram Biderman a escolher a capital paulista como nova sede internacional da empresa. Os planos no País incluem também a abertura de capital na bolsa para financiar a expansão. O bom desempenho no mundo até aqui não foi conquistado sem polêmicas.    Biderman já viu várias redes de tevê se negarem a veicular seus comerciais. Em um dos casos mais notórios, as redes Fox e NBC e a Liga Nacional de Futebol Americano se recusaram a veicular publicidade do site no intervalo do Superbowl, a final do campeonato de futebol americano, o evento mais assistido da tevê nos EUA. O serviço é moralmente questionável, mas é legal, diz Chen Long, advogado e doutor em filosofia e teoria geral do direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. “A infidelidade em si não é crime, pois a Constituição garante ao indivíduo o direito à liberdade e à livre conduta”, afirma Long. 

 

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Publicidade ousada: comerciais do Ashley Madison já foram recusados por redes de tevê americanas, como a Fox e a NBC

 

Em meio ao burburinho provocado pela chegada do maior competidor do setor no mundo, o rival Romance Secreto trabalha para acelerar seu crescimento no País. Fundado há um ano e meio, o site tem como estratégia manter a possibilidade de o usuário fazer o cadastro  gratuitamente, mas dando a opção de pagar por serviços específicos, como destacar seu perfil nas buscas no canal. “No ritmo de crescimento atual e com o valor médio que cada clique gera (cerca de US$ 0,50), dentro de um ano as receitas poderiam chegar a US$ 600 mil”, afirma o canadense Alexander Marquardt, fundador da Romance Secreto. O site é nanico, se comparado ao Ashley Madison. No mundo todo, são cerca de 150 mil visitantes únicos e três milhões de páginas vistas por mês, com 10% do tráfego proveniente do Brasil.

 

Outro representante do setor que está entusiasmado com o mercado nacional é o Second Love. E, aqui, surge um dado a mais na história. Se o país do Carnaval parece ser a bola da vez no mercado de traição online, isso se deve à ousadia das mulheres. “O público feminino é o verdadeiro motivo para o crescimento da empresa no Brasil ser maior do que em outras praças”, afirma a porta-voz do Second Love, Anabela Santos. No Second, as internautas, que são responsáveis por 30% da base de usuários do site,  não precisam desembolsar nada para usar o serviço. A receita vem dos homens, que pagam assinaturas mensais. Anabela diz que, mesmo com um número reduzido de mulheres, o público masculino consegue o que deseja.“Todos os perfis são verificados manualmente”, afirma. “Dessa forma, eliminanos perfis falsos e deixamos a rede mais efetiva.” Lançado em 2008, o Second Love Brasil está perto de atingir os 75 mil usuários e cresce 60% ao ano. São cerca de 300 mil visitantes únicos e 700 mil páginas vistas por mês. No mundo, o site contabiliza um milhão de usuários. 

 

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