05/04/2006 - 7:00
Uma delegação comercial organizada pelo Escritório de Projetos de Mudanças Climáticas
do Reino Unido desembarcou em São Paulo na semana passada. Era composta de representantes de 12 empresas com atuação na área de desenvolvimento e financiamento de projetos de redução de emissão de gases poluentes, além de administradoras de
recursos e corretoras.
O que eles vieram buscar? Créditos de carbono, também chamados de ?bônus verdes?, um tipo de licença para poluir que se transformou numa espécie de moeda ambiental internacional.
A compra e venda desses créditos criou um mercado novo, no qual até já existem fundos que permitem investimentos individuais, de pessoa física. É o caso do inglês Trading Emissions PLL. Com patrimônio de 135 milhões de libras, o fundo já tem cotas negociadas no Mercado de Investimento Alternativo da Bolsa de Londres (cada cota vale 1,6 libra, ou 2,31 euros), pregão dedicado a produtos financeiros ligados ao meio ambiente. A rentabilidade poderá vir da comercialização das cotas ou de dividendos que serão gerados a partir dos lucros futuros do fundo.
Este novo segmento financeiro atrelado às questões ambientais é consequência da entrada em vigor, em fevereiro de 2005, do Protocolo de Kyoto, acordo internacional no qual ficou estabelecido que os países industrializados são obrigados a reduzir, até 2012, a emissão de gases que causam o efeito estufa em 5,2% do total registrado em 1990. Como as nações industrializadas precisam adquirir créditos de carbono para compensar suas emissões excedentes, nasceu um mercado de troca global. Os créditos de carbono são gerados, em boa parte, pelas nações em desenvolvimento ? uma grande oportunidade de receitas para o Brasil, que poderá abastecer empresas em todo o mundo com o fruto de seus projetos.
Nesse novo ambiente de negócios começam a surgir fundos de investimento que se dedicam a financiar projetos de geração de créditos, como o Trading Emissions PLL, e há novas bolsas dedicadas exclusivamente à comercialização deles, como a bolsa de Londres. Hoje, porém, a maior parte ainda é comercializada por meio de acordos bilaterais entre as empresas. ?É um mercado que está apenas começando, mas deverá se tornar muito atraente?, diz Linda Murasawa, superintendente da área de produtos sócio-ambientais do Banco Real. A instituição financeira é a primeira no Brasil a desenvolver uma área dedicada ao estudo de oportunidades de negócios relacionadas ao meio ambiente. O consultor Antonio Lombardi é o gerente de mudanças climáticas do banco e concentra-se na análise de financiamento de 25 projetos brasileiros. Além dos financiamentos, porém, a atuação do banco se restringe à intermediação da compra e venda de créditos. Mas, no futuro, a instituição poderá renegociá-los diretamente no mercado internacional.
A expectativa é de que os créditos de carbono alcancem um bom índice de valorização nos próximos anos. Em 2001, a tonelada de carbono era cotada a US$ 3 (2,49 euros). Em meados de 2004, o preço subiu para US$ 5 (4,16 euros). Atingiu 8 euros depois da adesão da Rússia ao Protocolo de Kyoto. Hoje, está neste patamar. O preço dos créditos brasileiros é negociado em torno de 13 euros, mas pode atingir valores mais altos. A corretora internacional CO2e, uma das empresas que participaram da delegação inglesa no Brasil, já intermediou a venda de créditos de seis projetos nacionais em que o preço alcançou até 21 euros por tonelada. Foi em busca de créditos com boa margem de lucro que aportou aqui também o Fundo Europeu de Carbono, com capital de 143 milhões de euros, que pretende adquirir entre 10 e 20 milhões de toneladas de carbono de projetos da América Latina.
800 milhões de toneladas de carbono ao ano é a demanda mundial até 2012
US$ 3,2 bilhões é o potencial dos créditos do Brasil, Índia e China
13 euros é o atual preço médio por tonelada de projetos ambientais brasileiros