12/01/2006 - 8:00
Os investidores brasileiros costumam acender o sinal amarelo quando se inicia um ano de eleições no Brasil. Alguns períodos de grande instabilidade antecederam pleitos realizados no passado ? a exemplo do que ocorreu em 2002, quando o presidente Lula venceu a disputa e mesmo na reeleição de FHC, em 1998, momento sensível devido à crise na Rússia ? e deixaram traumas entre os que viveram a chamada tensão pré-eleitoral. Em 2006, no entanto, os analistas estão mais tranqüilos. Para quem acompanha o mercado financeiro, há grandes diferenças entre o cenário previsto para esse ano e o de eleições passadas. A principal delas está na ausência de uma candidatura que represente uma mudança radical na conduta da política econômica do País. Segundo a avaliação de profissionais de finanças, a volatilidade causada por fatores políticos não pode ser totalmente evitada, mas deverá ser pontual, sem grandes prejuízos para o investidor. Para sobreviver a essa fase, no entanto, é preciso estar preparado e montar uma estratégia que garanta segurança mesmo numa situação de crise.
O grande consenso entre os analistas é o de que a disputa presidencial deste ano deve se restringir, basicamente, aos candidatos do PT e PSDB e, nesse caso, independentemente do nome que saia das urnas, a política econômica não será um mistério. ?Não vejo possibilidade de candidaturas inesperadas, como ocorreu com a senadora Roseana Sarney, em 2002?, avalia Roberto Padovani, sócio-diretor da consultoria Tendências. ?Logo, os principais candidatos deverão ser o próprio presidente, concorrendo à reeleição, e um nome do PSDB, que é o principal partido de oposição hoje?, diz. Nesse cenário, qualquer que seja o vencedor, não há perspectiva de alterações drásticas de rota na economia. ?O PMDB é o único outro partido com coordenação nacional que pode lançar candidato, mas sua força está em lideranças regionais, não há no partido um nome que tenha chances reais de chegar à presidência?, observa Padovani.
Sem surpresas no campo político, os analistas não esperam que ocorra fuga de divisas do País nem uma interrupção súbita dos financiamentos externos, como verificado em 2002. ?Não esperamos aumento do prêmio de risco para investimentos no Brasil nem uma grande desvalorização do Real, fatores que definem a taxa de juros, inflação e crescimento econômico?, explica Padovani. Na base de todas as previsões otimistas, o excesso de liquidez internacional é o denominador comum, fenômeno que beneficiou os mercados emergentes em 2005 e deve continuar em 2006. O que preocupa os especialistas agora é a possibilidade do Governo tomar medidas econômicas com vistas à reeleição, como aumento do salário mínimo, sem que haja reais condições técnicas para isso. ?Acelerar o ritmo de redução da taxa de juros, por exemplo, poderia ser visto como irresponsabilidade do Governo?, afirma Padovani.
Apesar do otimismo, vale, para este ano, a tradicional recomendação dos consultores: diversifique seus investimentos. ?Se o mercado se mantiver calmo, ficam favorecidos os investimentos em bolsa, enquanto as aplicações cambiais continuam ruins. Mas se o nervosismo começar a surgir, a recomendação se inverte?, diz o consultor de finanças pessoais, Fábio Colombo. A regra geral do consultor para divisão do portfólio é simples: se o perfil do investidor é muito conservador, reserve até 25% dos recursos para ativos indexados a dólar, euro ou ouro. Se o perfil é moderado, a reserva cai para 15% do capital e, para investidores de perfil agressivo, uma redução ainda maior para cerca de 5%. ?É como um seguro?, diz Colombo. ?Em qualquer cenário, porém, as aplicações atreladas à taxa de juros continuam sendo boa aposta?.