Vinte dias após Sérgio Rial renunciar ao posto de CEO da Americanas ao descobrir “inconsistências contábeis” no balanço financeiro, a crise que se abateu sobre a varejista parece longe do fim. Enquanto o enredo se desenrola nos órgãos competentes, efeitos colaterais do caso começam a ser avaliados pelo mercado. Um deles é a capacidade de organizações e consultorias de medir de maneira eficiente a exposição de companhias aos riscos ambientais, sociais e de governança (ESG). Afinal, a Americanas fazia parte do mais seleto grupo de empresas que compõem o Índice de Sustentabilidade da Bolsa de Valores do Brasil, o ISE B3. Era a 12ª com a melhor pontuação, do total de 70.

Se a credibilidade das Americanas foi afetada drasticamente, não dá para não dizer que a do ISE B3 passou impune. Após o rombo (agora calculado em cerca de R$ 47 bilhões) se tornar público, a bolsa agiu rápido e logo tirou a envolvida da lista e de outros 13 índices. Mas é lícito que o consumidor, o pequeno investidor e o mercado se sintam enganados por aquele que é considerado o mais criterioso balizador de práticas ESG do País. E agora fica a dúvida: se a B3 errou, por que os demais não errariam? Nesta bagunça, entram também em xeque a eficiência dos demais indicadores de desempenho ESG. Esse problema, porém, não acontece somente no Brasil.

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Em 2020, os economistas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Riccardo Boffo e Robert Patalano, escreveram o artigo ESG Investing: Practices, Progress and Challenges (Investimento ESG: Práticas, Progressos e Desafios, em tradução livre) em que mostram a correlação entre diferentes pontuações dadas às mesmas empresas por cinco avaliadores de rating de sustentabilidade corporativa.

Quando a avaliação é sobre os riscos ambientais, sociais e de governança, uma só empresa recebe avaliações muito discrepantes das avaliadoras. Já no que se refere à análise de crédito, há um consenso muito maior entre os fornecedores. Um caso emblemático é o do Walmart. Em ESG sua nota varia de 30 a 90, dependendo de quem avalia. Em crédito, a pontuação é consensual entre as agências Moody’s, Fitch e S&P.

O lado positivo dessa história é que a agenda ESG se mostra cada vez mais necessária. A tendência é que os stakeholders reforcem a pressão para que as corporações adotem boas práticas e que deem visibilidade a elas. A reboque, consultorias, certificadoras e empresas afins precisarão encontrar uma metodologia mais consistente, com critérios similares para que a mesma régua que mede Chico, meça Francisco.