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Navio da Silversea: roteiros surpreendentes em cenários deslumbrantes, que reúnem bem-estar, conforto e cultura

 

Ao longo dos anos, a Silversea, operadora de cruzeiros marítimos, foi acumulando histórias típicas das lendas que cercam as grandes grifes de luxo. Uma delas diz que, a meia hora de aportar em Monte Carlo, um cliente avisou ao concierge que queria um pequeno iate para “dar uma esticada até Nice”. Quando o navio atracou no porto, lá estava o barco aguardando o passageiro. E lá se foi ele para a bela cidade francesa, onde passou o dia e voltou a tempo de embarcar no navio. Em outra ocasião, uma família australiana atravessou oceanos em um dos navios da Silversea com um único objetivo: sobrevoar as geleiras do Alaska e depois fazer um piquenique ao ar livre em uma das ilhas da região.

Até roupas próprias para esse programa eles haviam adquirido. Pois o clima não ajudou e o avião alugado para o passeio não saiu do chão. O navio zarpou e carregou junto a frustração da família. No mesmo dia à noite, o capitão convocou o casal e seus filhos e pediu que eles vestissem a indumentária especial. A seguir, os colocou numa sala climatizada com temperatura abaixo de zero e lhes ofereceu um jantar baseado no cardápio do piquenique que não havia sido realizado.
“Nossas embarcações são especialmente desenhadas para poucos passageiros e o mais alto nível de serviços personalizados”, afirma à DINHEIRO Manfredi Lefebvre D’Ovidio

 

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Cada suíte dos navios da Silversea, de 30 metros quadrados, corresponde a duas cabines dos cruzeiros convencionais

 

Aos 56 anos, nascido em Roma e residente em Monte Carlo, Manfredi é o dono da Silversea. Alguns de seus colaboradores dizem que nas veias da dinastia Lefebvre D’Ovidio corre água do mar, em vez de sangue. Isso porque o clã italiano sempre esteve envolvido com negócios marítimos. Seu avô, um conde que viveu intensamente no final do século passado, foi responsável por uma série de iniciatiaustravas para regulamentar a atividade marítima na Itália e no restante da Europa. Os descendentes, entre eles o pai e o tio de Manfredi, criaram a Sitmar Cruises, vendida no final dos anos 80. Em 1990, criaram a Silversea, cujo timão foi entregue a Manfredi.

O empresário concentrou seus esforços, sobretudo nos mercados europeu e americano, mas desde os atentados contra as Torres Gêmeas, em 2001, um sinal amarelo acendeu na sede da corporação, em Monte Carlo. A excessiva dependência de turistas dos países desenvolvidos era arriscada. A partir daí, a Silversea passou a singrar por novos mares. Meses atrás, abriu seu primeiro escritório no Brasil e contratou trauma especialista no setor, Márcia Chiota, ex-executiva da concorrente MSC. Tivemos um crescimento fortíssimo no Brasil nos dois últimos anos, da ordem de 70% e 50%, respectivamente”, diz Christian Sierralta, diretor para América Latina da Silversea. “O brasileiro gosta de viajar e, nos últimos anos, houve um aumento de renda no País. Por isso, o mercado de luxo cresceu tanto. Queremos aproveitar esse movimento.”

Nascido no Peru, casado com uma baiana, Sierralta fala um português escorreito e conhece bem os consumiiniciatidores brasileiros. Por conta disso, observa uma lenta mudança no comportamento dos turistas daqui. Antes, os mais endinheirados buscavam os lugares da moda e muita agitação, onde “pudessem ver e ser vistos”. Essa atitude tem cedido lugar para uma postura mais comedida.
“Esses clientes começam a procurar viagens que conciliem bem-estar com aquisição de conhecimento e cultura”, afirma Sierralta. “Nossos cruzeiros oferecem exatamente essa combinação.”

Ao entrar em um dos cinco navios da Silversea, esqueça as cenas comuns dos cruzeiros convencionais: piscinas abarrotadas de gente, o ambiente carnavalesco e as rígidas regras para tornar possível a convivência de duas a três mil pessoas que não se conhecem. No máximo, as embarcações da Silversea abrigam 500 passageiros, contra até três mil dos cruzeiros tradicionais

Com o sistema all inclusive, não há mesa predeterminada para as refeições. Os hóspedes podem sentarse até mesmo em mesas individuais, se assim desejarem. Não há, como na maioria dos cruzeiros, as sessões de fotos, que depois são vendidas aos passageiros. Cada suíte de 30 metros quadrados da Silversea ocupa o espaço de duas cabines das embarcações convencionais. Todas elas possuem varandas voltadas para o mar, jacuzzi e closet. Há detalhes que encantam os passageiros. Os tradicionais envelopes e folhas de carta disponíveis nas suítes são personalizados e trazem impressa a seguinte apresentação: “From the suite of Mr. and Mrs…….”

 

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“Nossos navios são desenhados para poucos passageiros e o mais alto nível de serviços personalizados”

Manfredi D’Ovidio, fundador e presidente da Silversea

 

Os artigos de higiene pessoal ostentam rótulos da Bulgari. As pequenas caixas de chocolates cuidadosamente colocadas sobre a cama a cada manhã são douradas com o nome Godiva estampado nelas. A cremosa espuma branca do capuccino servido nos restaurantes apresenta a logomarca da empresa. À noite, um vaso de cristal com uma solitária orquídea é colocado sobre a mesa central. Em geral, para os homens, o mimo passa quase despercebido, mas as mulheres se derretem – assim como adoram as garrafas de champanhe generosamente repostas diariamente na suíte.

Os navios sempre possuem pelo menos um restaurante credenciado pela Relais & Château, o selo que atesta a sofisticação e o charme de restaurantes e hotéis ao redor do mundo. No navio Silver Whisper, o Le Champagne, por exemplo, oferece por US$ 200 por pessoa, uma degustação de seis pratos, cada um harmonizado com um vinho diferente. Graças a esses detalhes, a Silversea já foi chamada para participar de encontros de alto nível da política global. No início da década, numa reunião de cúpula de chefes de Estado, ocorrida em São Petersburgo, na Rússia, um dos navios da empresa atracou no porto da cidade e hospedou alguns convidados, como forma de suprir a carência de suítes presidenciais na rede hoteleira local.

 

No final do ano, um novo navio será lançado ao mar e oferecerá um cruzeiro ao redor do mundo por US$ 50 mil

 

Ao atracar em um porto, os passageiros têm à sua disposição um cardápio de passeios inesquecíveis, como o aluguel de uma Ferrari para percorrer as estradas sinuosas da Costa Amalfitana. Certas paradas se constituem em oportunidades únicas para se conhecer alguns locais de beleza surpreendente. A Ilha de Malta, por exemplo, encanta desde a chegada no porto, cercado pela fileira de casinhas com portas coloridas, que abrigam bares e restaurantes, que, durante as noites do verão e da primavera, são invadidos por moradores e turistas. Imperdível é a visita à Catedral de St. John, em Valleta, a charmosa capital do país, construída no topo da ilha. A fulgurante igreja guarda duas estupendas obras do pintor italiano Caravaggio: “Decapitação de São João” e “São Jerônimo”. O artista viveu lá, brigou, esfaqueou um desafeto e, por isso, amargou dias de prisão.

A sofisticação não perde mesmo em viagens de aventura. Anos atrás, a Silversea adquiriu uma grande embarcação quebra-gelo e o transformou no que Manfredi chama de “único navio de ultraluxo de expedição.” Batizado de Prince Albert II, em homenagem ao monarca de Monte Carlo que dedicou a vida a pesquisas biológicas, o navio possui apenas 60 suítes, com capacidade máxima de 130 hóspedes. Uma frota de botes Zodiac, desenhados por Jacques Cousteau, leva os passageiros para rápidas excursões de ilhas próximas ao Alaska, acompanhados por geólogos e biólogos. Outro roteiro surpreendente estará disponível a partir do final do ano, com o lançamento do sexto navio da frota da Silversea, o Silver Spirit, já considerado por algumas publicações especializadas, a mais luxuosa embarcação de cruzeiros existente no planeta. Ao custo de até US$ 50 mil, ele oferecerá uma volta ao mundo com duração de seis meses, provavelmente com tanto conforto e bem-estar que levaria Júlio Verne a acrescentar um número no título de seu livro clássico e rebatizá-lo de “A volta ao mundo em 180 dias”.

 

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Em todos os navios da Silversea pelo menos um dos restaurantes carrega o selo da Relais & Château