Quando adotou o nome Meta, o conglomerado que controla Facebook, Instagram e WhatsApp fez uma aposta em algo difícil de prever: a adesão em massa ao metaverso, um ambiente virtual onde as pessoas poderiam viver uma nova realidade dentro de uma plataforma digital. Lançado no ano passado, o metaverso da Meta é acessado por  óculos de realidade aumentada e navegado por controles de movimento físico, possibilitando diversos tipos de ações, movimentos e interações no mundo cibernético.

Os internautas foram à loucura com a novidade, que atingiu o pico de 100 pontos no ranking do Google Trends, website que acompanha tendências de busca na rede. Em abril deste ano, o número de consultas sobre o tema teve um novo pico, motivado por discussões sobre o papel das marcas nesse universo e a futurização do marketing. Porém, desde então, o interesse sobre o tema teve uma queda constante, chegando a uma pontuação de apenas 35 na quarta-feira (20). “As pessoas perderam o interesse na plataforma e ninguém quer ser um personagem de cartoon sem pernas”, disse ao Yahoo Marc Petit, vice-presidente da Epic Games.

+ Loja do metaverso já vende roupas de grife

Um estudo da Piper Sandler com adolescentes da Geração Z mostrou que 50% dos entrevistados ainda não tem certeza ou não estão interessados nesse tipo de aplicação da plataforma e apenas 26% têm posse de um headset VR – a ferramenta de acesso aos metaversos – só 5% utilizam o dispositivo diariamente. Já com os adultos, uma pesquisa da Forrester indicou que 30% estão animados com o tema e 29% dizem que essa tecnologia não é boa para a sociedade. Um empate técnico que não diz muito sobre o futuro do metaverso, mas mostra pouca empolgação.

Diferente do mundo real, as roupas do metaverso não podem ser utilizadas de verdade, não é possível tomar um drinque ou sentir o gosto da comida. Mas dá para visitar lugares legais sem sair de casa. O chato é que, se tiramos os óculos, a brincadeira acaba. Diferente das épocas de IQC e MSN, onde essas plataformas eram as únicas maneiras de se conectar com pessoas fora de sua cidade, a internet já globalizou a comunicação de maneiras muito melhores e eficientes. Então que vantagem teria o metaverso? Talvez para impulsionar as vendas em um mundo já saturado de live commerce e publicidade programática.

Segundo relatório da McKinsey, o metaverso pode alcançar o valor de US$ 5 trilhões até 2030. Somente em 2021, os investimentos somaram US$ 13 bilhões e em 2022 já são mais de US$ 120 bilhões, aumento de mais de 820%. Os consumidores da plataforma que já aderiram ao novo espaço cibernético interagem principalmente nas áreas sociais, de entretenimento, jogos, viagens e compras. Já as empresas esperam fazer uso intenso da tecnologia em marketing, treinamentos e desenvolvimento de funcionários, além de reuniões, eventos, conferências e em design de produtos.

Para Fernando Moulin, especialista em negócios e transformação digital, o anúncio da Meta foi muito antecipado para uma tecnologia que estava ainda incipiente, o que gerou um grande hype. Mas isso não foi sustentado com novidades ou informações. Para ele, a tecnologia ainda tem que amadurecer. E a banalização do termo junto à mídia não colaborou para a percepção do tema. “Vejo que essa tecnologia tem o seu ciclo natural de amadurecimento”, disse. “O desenvolvimento vai acontecer progressivamente ao longo do tempo”.