E viveram felizes para sempre. Se fosse fácil como nos contos de fadas, os casamentos não terminariam em divórcios litigiosos ou amigáveis, como acontece na vida real. São inúmeros os fatores que exercem influência sobre a harmonia matrimonial e que devem ser gerenciados pelo casal. O aspecto financeiro é um dos principais.
 

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O vil metal (ou papel-moeda) pode não ser a maior causa da felicidade no casamento, mas é fator determinante para que ele acabe. Esta é, pelo menos, a conclusão do professor de economia Jeffrey Dew, da Universidade Estadual de Utah, nos Estados Unidos. ?As brigas envolvendo dinheiro são um dos problemas mais importantes da vida conjugal nos dias de hoje?, afirmou Dew à DINHEIRO.

Não é de hoje que os economistas comportamentais investigam as relações entre o dinheiro e o matrimônio e chegam a conclusões parecidas. A novidade é que Dew conseguiu expressar em números o que se sabia: aqueles que brigam por causa das finanças uma vez por semana têm 30% a mais de chance de se divorciar.

As conclusões surgiram depois de uma pesquisa com 4.500 casais americanos de diferentes classes sociais. Durante quatro anos, ele monitorou maridos e mulheres e suas discussões. Ele constatou que, se uma das partes percebe que o companheiro gasta dinheiro de maneira insensata, isso aumenta em 45% a probabilidade de divórcio, tanto para homens quanto para mulheres.

E os casais sem patrimônio de pelo menos US$ 10 mil em até três anos depois da união têm 70% de chance de acabar em camas separadas. O endividamento também pesa na estabilidade matrimonial. Pombinhos que possuem dívidas substanciais se tornam menos felizes no casamento à medida que o tempo passa. Por outro lado, a qualidade de vida daqueles que liquidaram seus débitos ou adquiriram bens no início do casamento tende a se desgastar menos ao longo do tempo.

No Brasil, não há dados que mostrem essa tendência. Mas dinheiro é dinheiro em qualquer lugar do mundo e, se não garante as boas relações entre os brasileiros, também pode ser determinante numa separação. A história da terapeuta holística Marilene Aguiar é um exemplo. Seu casamento acabou em 1997, após 18 anos de união.
 

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No início da década de 90, seu marido a ajudou a montar uma empresa de comida congelada. Logo depois, ele perdeu o emprego em uma multinacional e eles passaram a trabalhar juntos. ?Ele mudou muito. Eu sentia que me tratava com mais indiferença?, conta. Para a terapeuta, o companheiro se viu ameaçado ao perceber que o negócio da esposa poderia crescer e ele estava, de certa forma, dependente dela. O casamento acabou. ?Ele dizia que eu estava me separando dele porque ele não tinha mais dinheiro?, diz Marilene.

Muitas vezes, este tipo de conversa não leva a lugar nenhum (a não ser ao cartório e ao analista) quando a relação se desgasta e a situação fica insustentável. Por isso, o diálogo franco entre os dois sobre as questões financeiras deve prevalecer desde a troca das alianças ? quando não antes.

?Debater e conversar sobre dinheiro, ponto que eu defendo, evita que erros aconteçam?, afirma o consultor financeiro Gustavo Cerbasi, autor do livro Casais inteligentes enriquecem juntos. A comunicação e a transparência entre marido e mulher são duas bases de um tripé, que conta também com o planejamento financeiro para que a história de amor dê certo.

O ideal é que o casal já conheça os hábitos financeiros um do outro antes de juntar as escovas de dentes. ?Assim, não será nenhum mistério quando eles decidirem morar junto ou se casar?, afirma o consultor financeiro Conrado Navarro. O diálogo constante também reduz as possibilidades de separação, acrescenta Dew. ?O verdadeiro problema é o que o dinheiro significa para cada um?, afirma.

Algumas questões práticas devem ser definidas de comum acordo para aumentar a estabilidade e a longevidade da união. Quais são as prioridades do casal? Um carrão na garagem ou a casa própria? Roupas novas ou jantares em restaurantes caros? Viagens ao redor do mundo ou a educação dos filhos?

Todas as opções anteriores ou um bom pé de meia para a velhice? Exceto pelo velho conselho de não gastar mais do que se ganha, não há uma fórmula mágica para garantir que os casais sejam financeiramente saudáveis. O planejamento vai depender de cada situação. O equilíbrio entre os desejos e os meios de obtê-los é fundamental, pois evita discussões e atritos desnecessários. ?A ideia é priorizar os ideais comuns, como a reforma da casa ou a troca do carro?, diz Navarro.

Há muitas maneiras de lidar com o dinheiro no dia a dia. Muitos casais deixam para um dos cônjuges a tarefa de lidar com os pagamentos e investimentos. Outros têm contas-correntes separadas e dividem as despesas, às vezes com o uso de uma terceira conta. O fundamental é chegar a um acordo sobre como isso será feito e garantir que ambos saibam sempre a real situação econômica e financeira da família. Que, afinal de contas, é o mais importante.

 

Afinados no Amor (e nas finanças)

Casais mostram como a transparência e o planejamento conduzem a um melhor relacionamento, na riqueza ou na pobreza

A primeira dívida a gente nunca esquece

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A renda familiar dos mineiros Denise e Leonardo Santos caiu substancialmente antes mesmo de eles se casarem. Dois meses antes da cerimônia, em agosto do ano passado, o hoje consultor de recursos humanos deixou o emprego como produtor cultural e abriu a sua própria empresa. Em dezembro, percebeu que o negócio dava prejuízo e resolveu fechá-lo.

Apesar de ter se recolocado rapidamente no mercado, a renda da família caiu de  R$ 12 mil para R$ 3 mil mensais. A maior parte vem do rapaz, já que Denise, aos 21 anos, ainda é estudante de psicologia e recebe pouco mais de um salário mínimo como estagiária. ?Hoje, o dinheiro é para as necessidades básicas?, conta o marido.

E o stress é consequência natural para o casal, que chegou a pedir dinheiro emprestado a familiares. ?Se não tiver cumplicidade, é fácil entrar num desgaste. Estamos caminhando bem juntos?, garante ele. Santos espera voltar ao equilíbrio financeiro nos próximos seis ou sete meses. A receita? Muito diálogo e decisões em comum com a esposa.

 

Planilhas e números antes de ir ao altar

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Com apenas um mês de namoro, os administradores de empresas Cristovam Ferrara e Fernanda Sanches decidiram se casar. Por influência dela, abriram sua primeira planilha financeira em comum e decidiram que precisariam de cinco anos para juntar R$ 200 mil. A quantia deverá garantir o pagamento da entrada e a decoração de um apartamento, além da cerimônia, a festa e a lua de mel.

Todo mês, eles depositam 30% do salário de cada um.  ?Este planejamento está diretamente relacionado ao sucesso do nosso relacionamento. As decisões passaram a ser compartilhadas?, afirma Ferrara. Segundo eles, a conta em comum também já garantiu duas visitas aos Estados Unidos e uma à Europa, além da pós-graduação dela. Para o próximo ano, eles devem destinar recursos para os estudos dele. Parte do capital do casal está aplicada em ações e parte em renda fixa. O casamento já está sendo organizado e deve ocorrer no dia 3 de setembro de 2011.

 

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