O que é mais chocante: as imagens das guerras no Iraque, no Afeganistão ou no México? Pois nada perturba mais quem vive nos Estados Unidos do que as fotos de dezenas de imigrantes ilegais assassinados na fronteira, de traficantes decapitados por rivais e políticos assassinados pelos barões da droga no México. A guerra sangrenta contra o tráfico ao sul do Rio Grande é muito mais próxima, os mortos e as vítimas vestem roupas ocidentais e têm a mesma fisionomia dos cidadãos de origem hispânica que trabalham nas residências e empresas americanas. O horror mora ao lado. E o pior é que suas causas emanam das próprias ruas, becos e baladas da América. 

 

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São os ávidos consumidores de drogas ilegais, com seu alto poder aquisitivo, que alimentam o negócio dos traficantes mexicanos, colombianos e brasileiros. É a proibição da venda de cocaína e outras substâncias químicas que sustenta esse submundo corporativo da América Latina, exatamente como aconteceu na época da Lei Seca, no século passado, quando os mafiosos dominaram o comércio de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos, usando os mesmos métodos violentos para conquistar mercados e clientes. 

 

Não por acaso um dos maiores traficantes do México, preso na semana passada, nasceu nos Estados Unidos e fez carreira nos dois lados da fronteira. Edgar Villarreal, também conhecido como La Barbie devido à sua fisionomia pueril, disse à polícia mexicana que recebia caminhões de dinheiro dos clientes americanos. 

 

Uma fortuna que poderia estar sendo usada em coisas melhores para a economia e a sociedade como um todo, em vez de ser desperdiçado em munições, assassinatos e operações cinematográficas dos agentes federais – o governo do México, por sinal, demitiu 10% de sua polícia na semana passada.

 

Será que a legalização da produção e do comércio de drogas químicas, como aconteceu no passado nos EUA com as bebidas, seria a solução definitiva para a guerra contra as drogas? 

 

Se pagassem impostos e pudessem competir legalmente, os produtores de cocaína e seus derivados iriam deixar de matar concorrentes e policiais ou de atrair os jovens desempregados para o tráfico, defendem os adeptos da legalização. 

 

A redução da violência e a geração de recursos que poderiam ser usados na educação e no tratamento de dependentes são argumentos fortes, mas que ainda não têm ampla aceitação na sociedade. O aspecto econômico desse debate é tão importante quanto o social. Jovens consumidos pelas drogas se tornam dependentes das famílias ou do Estado.  

 

Trabalhadores viciados comprometem a produtividade e a segurança nas indústrias, no campo e nos serviços. Alguns bilhões são gastos com tratamentos de saúde e licenças do trabalho. 

 

Outros são desviados da economia por autoridades corruptas. O exemplo hispano-americano mostra que não basta promover a guerra militar contra os traficantes, como tem feito há quatro anos o presidente Felipe Calderón. A cada traficante morto, um novo é posto em seu lugar. 

 

É preciso aprofundar o debate, deixar os dogmas de lado e romper paradigmas. Fernando Henrique Cardoso faz isso ao defender a descriminalização da maconha. O que Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva têm a dizer?