Titan, 20 anos, do Red Canids Kalunga, se levanta e vibra com a atuação do time, composto por sete jovens jogadores à frente de monitores de computador. Gritos, euforia, enquanto o outro time, o Liberty, desaba em seu silêncio, derrotado. A fúria competitiva se assemelha à do futebol. Não à toa um dos times do Campeonato Brasileiro de League of Legends 2022 (CBLOL), game de estratégia multijogador em estilo arena on-line, chama-se Flamengo. Estamos falando de um mundo em que quem não faz parte do contingente de 72% da população do País que se diverte com jogos eletrônicos, segundo a 8ª Pesquisa Game Brasil, não faz ideia que exista e nesse nível profissional.

Isso é apenas um recorte de uma fração de uma indústria que pode chegar a US$ 196 bilhões em 2022 (toda a indústria de games). O setor de eSports, como a categoria de competições on-line em grupo é chamada, faturou US$ 975 milhões em 2019. “É um mercado superprofissional, com atletas dedicados e torneios do amador ao profissional”, afirmou à DINHEIRO Felippe Corradini, sócio do time Red Canids. “O CBLOL faz parte da franquia do jogo, que tem uma liga muito similar à NBA.” A equipe de Corradini acaba de inaugurar em São Paulo um complexo de 1.300m2, um dos maiores da América Latina, para o treinamento de seus jogadores. Ao custo de R$ 1,5 milhão, o Gaming Office, nome mais elaborado para centro de treinamento, tem departamento médico com fisioterapeuta e psicólogo, salas de treino, academia, vestiários, salas de descompressão, equipamentos de ponta para os gamers e um restaurante Outback, um dos vários patrocinadores da equipe.

O atual campeão da CBLOL compete com outros nove times, todos com grandes patrocinadores, em um torneio que se encerra agora no final de abril. O prêmio, pago pela desenvolvedora do game, a sino-americana Riot Games, soma R$ 400 mil — outros jogos de arena como o Clutch tem valores de R$ 1 milhão, modalidade, aliás, em que a Red Canids também quer entrar. Para isso, precisa de jovens que conheçam o game e tenham cabeça profissional, o que muitos pais já perceberam que é um mercado e até permitem a seus filhos tentarem a vida assim. Um exemplo é o documentário Free to Play, da Netflix, que em 75 minutos mostra essa exata encruzilhada profissional, em que três jovens, um singapurense, um americano e um ucraniano, participam de um torneio internacional de US$ 1 milhão, o mais alto na época — o jogo é o Defense of Ancients, que guarda semelhanças com o Legends.

72% da população do país afirma ser adepta de jogos eletrônicos

JP Garcia, também sócio da Red Canids, diz que sua equipe hoje funciona dentro do mercado B2B. “Temos dez patrocinadores, cada um com sua cota, que ajudam no desenvolvimento estrutural da empresa e jogadores.” Como a liga tem incentivo financeiro para os times, a premiação dos torneios fica com os atletas. O eSports ainda não está enquadrado dentro da Lei do Esporte, mas, mesmo assim, a Red Canids, por exemplo, segue faz contratos CLT e acordos de uso de imagem. Outras grandes equipes, como INTZ, KaBuM!, Miners e paiN Gaming atuam nessa direção profissional, até contratando estrangeiros — os sul-coreanos são os preferidos.

ALTO CONSUMO O público gamer que vem da geração Y ou Z é consumista, jovem e tem parte de sua vida no mundo digital. Mas também são adBlockers, ou seja, não querem gastar seu tempo com publicidade que não tenha a ver com ela — daí os esportes eletrônicos serem uma via extraordinária para publicidade, com taxas de conversão acima de 10%. Para se ter uma ideia de público, a final do CBLOL 2021 quebrou recorde de 2020 e chegou a 416 mil espectadores únicos. A deste ano, espera-se mais, acrescentando ainda a parceria até 2024 com a Globo e Sportv para transmissão do jogo. Como diz Corradini, “é uma profissão que está em ascensão e com muitos adeptos”.