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Não é ficção, nem filme de James Bond. O episódio é real e envolve pesos pesados do setor petrolífero mundial. Na quinta-feira 14, a Petrobras divulgou que um disco rígido e dois notebooks, contendo dados de pesquisas sobre as recentes descobertas de petróleo e gás, foram furtados há duas semanas de um contêiner da empresa. O material teria saído de uma das plataformas localizadas na Bacia de Campos com destino a um escritório da estatal em Macaé, também no Rio de Janeiro. Quem operava o transporte? A Halliburton, segunda maior companhia de serviços de petróleo do mundo, que já teve o vice-presidente americano Dick Cheney como presidente. Cercada de sigilo, a investigação começou a contar com a ajuda da Polícia Federal na sexta-feira 8, estranhamente sete dias após o furto. “O local do crime não foi preservado”, revelou à DINHEIRO a delegada da Polícia Federal Carla Kolinski, que conduz o inquérito em Macaé. “É por isso que não podemos descartar sequer um simples furto.” De fato, essa é uma das versões para o caso. Mas causa estranheza que, dentre vários contêineres transportados pela Halliburton naquele dia, justamente o que continha o material furtado tenha sido arrombado. Mais ainda que, em meio a diversos objetivos existentes no contêiner, justamente os notebooks com informação confidencial tenham sido levados.

A hipótese de espionagem industrial é forte e não foi descartada pela Polícia Federal. A Halliburton, em tese, não seria parte interessada.
A multinacional americana mantém um contrato com a Petrobras no qual é responsável pelos computadores que contêm informações cruciais para o desenvolvimento de plataformas. Isso decorre do fato de a Halliburton ser fornecedora de serviços de teste de exploração e desenvolvimento em ambiente de alta pressão, alta temperatura e águas profundas nas bacias brasileiras operadas pela Petrobras. O contrato tem validade de quatro anos e valor de US$ 270 milhões. Por ele, a empresa tem acesso ao material confidencial da Petrobras, justamente para poder operar o maquinário que a estatal necessita para realizar suas prospecções. Procurada por DINHEIRO, a Halliburton foi enigmática. “A pedido da própria Petrobras, todas as informações estão centralizadas na estatal”, disse Dalila Muniz, secretária-executiva do vicepresidente para a América Latina da multinacional, que também exerce a função de porta-voz da empresa no Brasil. Pelo sim, pelo não, a Polícia Federal iniciou, na terça-feira 12, diligências no escritório da Halliburton, na rua da Assembléia, no centro do Rio de Janeiro. É um tiro no escuro.

Nem a própria PF sabe ao certo o que investigar, uma vez que a Petrobras comunicou o crime por meio de um fax misteriosamente econômico nas palavras.
A estatal foi ainda mais sucinta na divulgação do furto à imprensa, informando apenas que o material não estava sob sua guarda, que o assunto está sob investigação e que possui a integralidade das informações contidas nos equipamentos furtados.

A grande questão que ronda o caso é quem teria interesse e onde foram parar as informações contidas no material perdido pela Petrobras. “A espionagem nesse setor é muito comum, algo que os americanos chamam de ‘scouting'”, afirma o consultor Giuseppe Bacoccoli, que trabalhou por 24 anos na Petrobras. E é um negócio que rende muito dinheiro.

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Relatórios com informações não divulgadas oficialmente pelas empresas sobre suas descobertas podem custar mais de US$ 100 mil no mercado internacional. No setor de petróleo, esse valor é facilmente duplicado. E pode chegar a cifras estratosféricas quando aplicadas ao caso específico da Petrobras. Em novembro do ano passado, a estatal anunciou a descoberta do campo de petróleo de Tupi, na Bacia de Santos, que, segundo estimativas, seria o maior já descoberto no País. Em janeiro foi a vez de outro marco significativo, com a descoberta do campo de petróleo de gás de Júpiter, próximo a Tupi. A Petrobras não confirma nem desmente que dados sobre as duas reservas estariam nos notebooks furtados. “É arriscado dispor desse material, uma vez que os dados geológicos podem ser utilizados em qualquer lugar e, mais ainda, porque a ANP pode voltar a licitar áreas na região”, comenta Bacoccoli.

Diante desse cenário, as próximas semanas ficarão parecidas com roteiro de filme. Afinal, quem é o ladrão?