24/10/2007 - 8:00
Alfred Herrhausen, presidente do Deutsche Bank, era o banqueiro mais poderoso da Europa quando sua Mercedes-Benz blindada voou pelos ares na manhã de 30 de novembro de 1989. Três dias antes, ele tinha anunciado a
compra do britânico Morgan Grenfell, a maior aquisição bancária até então. Ao passar numa rua tranqüila do subúrbio de Frankfurt no trajeto habitual do executivo para o trabalho, a limusine interrompeu um feixe infravermelho. Perto dali, a esposa do banqueiro, Traudl Herrhausen, assustou- se com a explosão que a deixou viúva. ?Ainda ouço aquela bomba todos os dias?, afirmou há um mês ao repórter David Crawford, do The Wall Street Journal, ao romper um silêncio de 18 anos sobre o brutal assassinato. ?Agora eu quero olhar nos olhos dos assassinos do meu marido.?
Nada mais justo. Os ecos da bomba assustam até hoje. Imagine se o mesmo acontecesse a Josef Ackermann, atual CEO do Deutsche Bank, um gigante com ativos de 1,9 trilhão de euros e 75 mil funcionários em 75 países. Durante quase duas décadas, deu-se como certo que Alfred Herrhausen foi morto por militantes da RAF (Rote Armee Fraktion, a Fração do Exército Vermelho), organização terrorista que fez vários atentados na Alemanha Ocidental. Três anos antes, os militantes armados anticapitalistas mataram o diretor da Siemens, Karl Heinz Beckurts. A própria RAF assumiu a responsabilidade: ?Através da história do Deutsche Bank alastram-se as manchas de sangue de duas guerras mundiais e muito dinheiro confiscado. Quem dava continuidade a este processo era Herrhausen, que estava no topo do poder da economia alemã?, justificou. Porém, nem tudo é o que parece. Nenhum dos terroristas suspeitos e presos em seguida foi condenado. Todos tinham álibis perfeitos. Hoje, suspeita-se que os assassinos eram agentes da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental.
Segundo Crawford, que mergulhou nos documentos históricos e entrevistou autoridades alemãs que investigam o caso, o assassinato de Herrhausen apresentou métodos e táticas utilizadas por uma unidade especial da Stasi. O grupo respondia diretamente ao chefe da polícia secreta da Alemanha Oriental, Erich Mielke, e imitava o estilo da RAF para mascarar os próprios ataques contra personalidades de destaque do outro lado da fronteira e do Muro de Berlim. Unificada, a Alemanha precisa desvendar este e outros crimes de Estado para virar de vez a página da Guerra Fria. A condescendência com alemães orientais que diziam agir sob ordens da União Soviética está acabando. E as palavras de Herrhausen, propagadas pelo instituto que leva seu nome, começam a ecoar novamente: ?Devemos dizer o que pensamos. Devemos fazer o que dizemos. E também devemos ser o que fazemos.? Serão ouvidas?