08/06/2004 - 7:00
Há uma tendência entre os executivos: usar as aventuras e os desafios do esporte como método de gestão no cotidiano dos escritórios. Trata-se de transportar para o terno e a gravata o que é feito no limite da adrenalina. Neste cenário, nada se compara ao Everest, a montanha mais alta do mundo, com 8.850 metros e seus mistérios. Um deles está prestes a ser solucionado ? afinal de contas, quem foram os heróis a primeiro pôr os pés lá no topo? Os livros de história dizem que a façanha foi alcançada pelo neozelandês Edmund Hillary e o sherpa nepalês Tenzing Norgay em 29 de maio de 1953. Até hoje, entretanto, a vitória da dupla é posta em dúvida. Motivo: em 1924, os ingleses George Mallory e Andrew Irvine fizeram parte de
uma expedição de nove pessoas rumo ao topo do Everest. Acredita-se que a dupla tenha chegado ao topo, porém nunca mais desceu. Morreram a caminho do cume
ou na descida. ?Isso é um grande mistério?, disse Edmund Hillary nas comemorações dos 50 anos da conquista. ?E me parece que nunca será desvendado.? Se depender do site americano EverestNews (www.everestnews.com), a dúvida tem seus dias contados. Acaba de partir uma expedição para encontrar a câmera fotográfica le-
vada por Mallory e Irvine. A suposição: ela pode conter fotos que provam a che-
gada da dupla quase 30 anos antes de Hillary e Norgay. A aventura desbravadora custará pelo menos US$ 200 mil.
Alcançar o ponto mais próximo do céu na Terra sempre foi uma meta para aventureiros. Mas no início do século passado tratava-se de uma disputa, tal qual a conquista espacial no auge da Guerra Fria, para saber quem chegaria primeiro lá em cima. Americanos, soviéticos, canadenses e dinamarqueses fizeram de tudo para pisar no pico localizado entre o Nepal e o Tibete. Os ingleses venceram e espalharam pelos cinco continentes a proeza dos súditos do Império Britânico, em franca decadência, para cravar
que ainda eram superiores. Era o mesmo que fazer a narrativa de Rudyard Kipling em O homem que queria ser rei, de 1888, sair do papel. O escritor conta a história de dois aventureiros que atravessam a pé o Himalaia
e tornam-se reis do remoto Cafiristão, submetendo toda a população a seus caprichos.
?Talvez Mallory tenha atingido o pico, talvez ele não o tenha feito. Mas ele não voltou vivo para contar?, diz o octogenário Hillary. ?Então, não importa o que aconteça, apesar de ele ser um herói, ele não completou o trabalho.? O corpo de Mallory foi encontrado em 1999 por uma expedição inglesa organizada pela BBC de Londres. Ele estava na face norte da montanha a apenas 600 metros do cume. Irvine e a câmera não foram localizados.
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1953 NORGAY (À ESQ.) e HILLARY: Foram os primeiros a pisar no cume do Everest. Tornaram-se heróis do Império Britânico |
São mistérios que alimentam uma pequena indústria. Dezenas de documentários e livros foram lançados em torno da polêmica do Everest. Calcula-se que mais de 150 expedições já partiram rumo ao pico e 800 pessoas já tenham pisado na parte mais alta do planeta. ?Somente para ter a permissão de encarar o cume do Everest é preciso pagar uma taxa de US$ 70 mil para o governo do Nepal?, diz o brasileiro Vitor Negrete, que em parceria com Rodrigo Raineri escalou a parte sul do Aconcágua, a montanha nos andes argentinos com 6.960 metros de altura. Ele pretende fazer a expedição no próximo ano. ?Estou à procura de patrocínio.? Por enquanto, é o guia oficial da agência de turismo Landscape, em São Paulo, que organiza roteiros ao chamado campo base do Everest, a 5.300 metros de altitude. ?A procura por este pacote triplicou nos últimos dois anos?, diz Ana Carina Homa, dona da agência. Os interessados são, geralmente, executivos que anseiam desvendar os mistérios da Deusa Mãe do Mundo, como os tibetanos se referem à montanha. ?É fantástico atingir o objetivo?, diz o engenheiro Joel Kriger, de 50 anos, que foi ao Everest no ano passado. Os americanos do EverestNews, que estão em busca do aparelho fotográfico, também pretendem alcançar o objetivo. Mas há um outro mistério. Será que
há negativos dentro da máquina?