Ele não é só mais um guru do mundo dos negócios. E nem o Amana-Key é apenas outro curso motivacional que funciona como uma injeção de droga, que causa euforia e depois passa.? O testemunho, a respeito de Oscar Motomura e seu treinamento para empresas, é do presidente do O Boticário, Miguel Krigsner. Há três anos, quando aceitou o convite de sua diretora de Recursos Humanos para fazer o curso, ele conheceu pessoalmente o ?mestre?, como gosta de chamar Motomura. ?É quase uma terapia de grupo. Uma experiência muito boa e difícil?, resume. Krigsner explica que durante o curso, percebeu que precisava mudar o modo como enxergava as questões de sua empresa. ?Aprendi a diferenciar o que era problema meramente técnico e de gestão, do que era dificuldade pessoal interferindo na administração da companhia.? Resultado: parte da diretoria do O Boticário foi demitida. Radical? O presidente garante que não. ?Percebemos que havia pessoas desintegradoras em nossa diretoria, cujo lado emocional afetava negativamente a administração.? O executivo garante que graças a essa e outras modificações inspiradas pelo Amana, hoje a companhia é muito mais ?azeitada, com diretoria mais madura?. ?E isso se reflete em melhores vendas?, afirma.

A fonte inspiradora de revoluções vinda da bela chácara na Granja Vianna, em Cotia, na Grande São Paulo, onde são feitos os treinamentos de Oscar Motomura, também atingiu as subsidiárias brasileiras de empresas como a Nokia, a Basf e a Johnson & Johnson. Nesta última, toda diretoria e pessoal administrativo ? mais de 400 pessoas ? já fizeram o Amana-Key. ?Fizemos nosso planejamento para os próximos cincos anos com ajuda do Oscar?, diz Nilson Gomes, diretor de RH da J&J. Mas quem é, afinal, esse filho de japoneses que encantou e influenciou mais de 500 das maiores empresas do Brasil? É um paulistano, de 62 anos, formado em Administração pela FGV e mestre em Psicologia Social pela USP, com especialização em Harvard. É também um sujeito misterioso, que raramente dá entrevistas ou detalhes sobre seu curso. Oscar Motomura começou sua carreira aos 16 anos, como office-boy em um banco em São Paulo. Progrediu na empresa e aos 26 já estava na diretoria. Mas ele garante que não é seu currículo e experiência profissional que explicam o sucesso da Amana-Key, fundada em parceria com a amiga jornalista Deise Fukamati, em 1987. ?Não foi um processo racional, a partir de pesquisa de mercado. Decidimos fazer algo que fosse à essência das coisas, que não ficasse no superficial.?

É essa, segundo os empresários entrevistados por DINHEIRO, a grande diferença entre o Amana-Key e outros treinamentos. ?A gente passa a ver tudo o que influencia a empresa e tudo o que ela provoca nas pessoas, na sociedade, no planeta?, anima-se Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza. ?No curso, identificamos que o Magazine precisava crescer com baixo custo e gerando valor para a comunidade?, conta Luiza. ?Com a ajuda do Oscar, buscamos uma solução criativa. Assim nasceram as Lojas Virtuais, em 93, para consumidores de cidades pequenas do interior de São Paulo e Minas Gerais?. Hoje, o Magazine Luiza conta com 50 lojas virtuais. E 10% do faturamento da empresa, de R$ 1,9 bilhão no ano passado, veio delas.

Não faltam casos concretos de mudanças simples que produziram grandes resultados corporativos. Lázaro de Figueiredo Júnior, presidente da ThyssenKrupp Molas, conta que até 2002 a companhia só dava prejuízo. ?Naquele ano, eu e o Alexandre Bamberg, nosso diretor de RH, fizemos o Amana-Key. Inspirados no conceito do ?olhar sistêmico?, percebemos que o problema não era processo ou tecnologia. Era gente?. A empresa investiu em treinamento e descentralizou poderes, dividindo a equipe ? são 800 funcionários ? em pequenas células, cada uma com um líder. Todos os objetivos são discutidos por esses grupos e os profissionais sentem-se mais motivados. ?Hoje somos a subsidiária mais rentável do grupo?, diz Júnior.

Mas como funciona o curso de Motomura? ?O treinamento dura uma semana. Mas não há programa, não existe horário. O executivo entra na sala do curso sem saber o que vai encontrar. Fica doido!?, diverte-se ele. A falta de cronograma é proposital. ?A pessoa tem que estar sem expectativa nenhuma. É isso que estimula o aprendizado?. São vários os cursos do Amana, desde o básico até o avançado. Mas nem tente arrancar qualquer detalhe sobre eles. Nem os participantes revelam os segredos do mestre. O que se sabe é que cada um dos ?alunos? sai da imersão com dezenas de livros de administração à mão. E que o curso avançado é exclusivo aos presidentes e altos executivos de companhias. Nesse caso, as aulas são individuais ministradas pessoalmente por Motomura. Para as outros níveis, ele conta com a ajuda de 80 pessoas. O ?mestre? não cobra barato: são R$ 6 mil por cabeça. ?É caro para quem não fez o curso?, defende-se. No ano passado, 3 mil executivos participaram dos cursos. E a fila para este ano é grande.