29/10/2008 - 8:00
A CRISE AMERICANA pode atingir em cheio o setor de entretenimento, um dos primeiros gastos a sair do orçamento na hora de apertar os cintos. A Nascar, campeonato de automobilismo que movimenta bilhões de dólares todos os anos em ingressos, patrocínios, direitos de transmissão e venda de produtos, não vai escapar da crise, que já está afetando a venda de produtos licenciados. Ainda assim é para a Nascar que os organizadores e participantes do Stock Car brasileiro olham como modelo para desenvolver o esporte no Brasil. ?A Nascar é nosso benchmark?, disse à DINHEIRO Carlos Alberto Col, presidente da Vicar, organizadora do evento no País. Ele sabe o que diz. Mesmo com a crise, os números do campeonato americano continuam na casa dos bilhões. Somente a venda de produtos com a marca dos pilotos, das equipes e dos patrocinadores, movimenta cerca de US$ 2 bilhões. Tudo vira marca registrada. Dos uniformes dos pilotos ao logotipo com o número deles na competição. E tudo pode ser vendido nas dezenas de lojas improvisadas nos trailers que se deslocam para os autodrómos nos domingos de corridas. Não apenas camisetas, bonés e chaveiros, mas itens tão diversos como kit de socorros, fantasias de Halloween com o número do piloto preferido e até mesas de bilhar. São 36 corridas ao longo do ano na categoria principal, cada uma delas atraindo milhares de fãs para os autódromos. Lá, além do ingresso e dos produtos, é possível comprar um passe para passear nos boxes antes da corrida e ver a largada bem pertinho dos pilotos.
No Brasil, o licenciamento de produtos, uma das partes mais lucrativas do negócio, ainda é pouco desenvolvido. ?Estamos apenas começando?, disse à DINHEIRO o dono da equipe Meddley A. Matheis, Andreas Matheis, que tem três pilotos entre os dez classificados para o playoff do campeonato brasileiro. Antes de desenvolver negócios paralelos, a Stock Car brasileira ainda precisa definir se vai seguir o padrão europeu de automobilismo, de competição técnica e custos elevados para os construtores, ou investir no caminho americano, onde um regulamento limita os recursos técnicos dos carros, barateia o desenvolvimento do produto e dá mais atenção ao espetáculo. ?Eu sou a favor do estilo americano, de show, porque os custos são menores e as possiblidades de negócios são maiores?, afirma Matheis, que, junto com um grupo de pilotos e donos de equipes brasileiros patrocinados pela General Motors, visitou na semana passada a convite da montadora o Centro de Desenvolvimento da Nascar, na Carolina do Norte, e assistiu à corrida de Martinsville, na Virgínia. ?Se fizermos isso, podemos ficar imunes à crise?, acredita.
Nos EUA, algumas equipes já sentiram a retração das vendas e os autódromos maiores já sentiram uma diminuição de público. Richard Childress, dono da RCR, uma das mais tradicionais equipes da Nascar, contou à DINHEIRO que as vendas já caíram 30% nas últimas semanas. ?Vamos ter que nos ajustar aos novos tempos. Não é mais como antes?, disse. Childress acha que o próximo ano será mais difícil e que o mercado só vai se recuperar em 2010. Ele tem três carros no campeonato nacional. Cada um custa cerca de US$ 20 milhões. Os pilotos ganham entre US$ 3 milhões e US$ 8 milhões ao ano. No Brasil, um carro custa 20 vezes menos, cerca de R$ 2 milhões, e os pilotos ganham entre R$ 200 mil e R$ 1 milhão ao ano. Apesar da diferença, organizadores, patrocinadores e equipes da Stock Car estão otimistas com o futuro do esporte no País. O diretor de marketing da GM, Samuel Russell, diz que o patrocínio da empresa ? uma das três montadoras, junto com Peugeot e Mitsubishi, a colocar seu nome na competição brasileira ? não será afetado. ?Em épocas de crise sempre há uma avaliação mais criteriosa dos investimentos, mas um que passa sem questionamento, por causa do retorno, é o do Power Team na Stock Car?, diz Russell. ?Estamos numa curva de crescimento e longe de uma retração?, diz Col. O faturamento do campeonato aumentou de R$ 360 milhões no ano passado para mais de R$ 400 milhões neste, mas a expansão de 15% em 2009 já está sendo revista para algo entre 5% e 15%. ?Podemos crescer menos, mas continuamos crescendo?, afirma.